O relatório “O Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2021” (SOFI, na sigla em inglês), divulgado no mês de julho pela Organização das Nações Unidas (ONU), estimou que cerca de um décimo da população global estava subalimentada em 2020. No ano marcado pelo início da pandemia da Covid-19, o relatório diz que a fome pode ter atingido até 811 milhões de pessoas em todo o planeta.
Cerca de 22% das crianças foram afetadas pela subnutrição. Estima-se que mais de 149 milhões de menores de cinco anos sofriam de atraso de crescimento ou tinham baixa estatura para sua idade, mais de 45 milhões estavam debilitadas ou muito magras para sua altura.
O SOFI 2021 é a primeira avaliação global desse tipo em tempos de pandemia. O relatório é publicado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
As edições anteriores já haviam alertado o mundo de que a segurança alimentar de milhões, muitas crianças entre estes, estava em jogo. “Infelizmente, a pandemia continua expondo fraquezas em nossos sistemas alimentares, que ameaçam a vida e o sustento de pessoas em todo o mundo”, escrevem os chefes das cinco agências da ONU no prefácio deste ano.
O aumento mais acentuado da fome foi na África, onde a prevalência estimada de desnutrição atinge, em média, 21% da população. A quantidade é mais que o dobro de qualquer outra região. A Ásia concentra mais da metade de todas as pessoas subalimentadas, 418 milhões. Na América Latina e no Caribe foram contabilizados 60 milhões de moradores em situação de fome.
Já em meados da década de 2010, a fome havia começado a subir, diminuindo as esperanças de um declínio irreversível. Perturbadoramente, em 2020 a fome disparou em termos absolutos e proporcionais, ultrapassando o crescimento populacional: estima-se que cerca de 9,9% entre todas as pessoas tenham sido afetadas no ano passado, ante 8,4% em 2019.
Três bilhões de adultos e crianças permaneceram excluídos de dietas saudáveis, em grande parte devido aos custos excessivos. Quase um terço das mulheres em idade reprodutiva sofre de anemia. Globalmente, apesar do progresso em algumas áreas, mais bebês, por exemplo, estão sendo alimentados exclusivamente com leite materno, o mundo não está a caminho de atingir as metas de nenhum indicador nutricional até 2030. A má nutrição persistiu em todas as suas formas, com as crianças pagando um preço alto: em 2020, estima-se que mais de 149 milhões de menores de cinco anos sofriam de atraso de crescimento ou eram muito baixos para sua idade; mais de 45 milhões debilitadas ou muito magras para sua altura; e quase 39 milhões acima do peso.
Neste ano, o diretor do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas traçou um plano para gastar US$ 6,6 bilhões no combate à fome no mundo, uma resposta direta a Elon Musk, que afirmou que venderia suas ações da Tesla para financiar um plano se o PMA pudesse descrever “exatamente como” ele funcionaria. David Beasley, diretor do programa, tuitou um link para um “sumário executivo” de mil palavras. Ele mapeia como a ONU implantaria US$ 6,6 bilhões em refeições e vouchers para alimentar mais de 40 milhões de pessoas em 43 países que estão “à beira da fome”, evitando assim uma iminente “catástrofe”. No documento, o PMA propõe dedicar US$ 3,5 bilhões para comprar e entregar alimentos diretamente, US$ 2 bilhões “em dinheiro e vales-alimentação” e gastar outros US$ 700 milhões para gerenciar novos programas alimentares que garantem “assistência aos mais vulneráveis”.
Os resultados do relatório sugerem que será necessário um grande esforço para o mundo honrar a promessa de acabar com a fome até 2030. As projeções indicam que a quantidade de pessoas com fome em todo o mundo pode cair lentamente e chegar a 660 milhões em 2030.
Fontes: UNICEF, CNN, ONU, DW, G1.