Na 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação, especialistas alertam que nenhum país está imune ao fenômeno climático que já afeta 1,8 bilhão de pessoas; nos últimos três anos, mais de 30 países declararam estado de emergência devido à seca.
Secas cada vez mais intensas e frequentes estão se tornado um “assassino silencioso” que afeta todas as regiões do mundo. O alerta é do secretário executivo da Convenção da ONU para o Combate à Desertificação, Unccd, Ibrahim Thiaw.
Falando de Riad, na Arábia Saudita, onde ocorre a 16ª conferência da ONU sobre o tema, ele destacou que as secas se expandiram para novos territórios e “nenhum país está imune”.
Secas em expansão
A conferência global reúne países para estabelecer um novo regime internacional de combate à seca, com foco em estratégias de preparação proativa e manejo sustentável da terra ao invés de abordagens reativas e de emergência.
Desde 2000, a frequência e a intensidade das secas aumentaram em cerca de 30%, ameaçando a segurança alimentar, hídrica e os meios de subsistência de 1,8 bilhão de pessoas.
Nos últimos três anos, mais de 30 países declararam emergência devido à seca, incluindo nações de alta renda, como Estados Unidos, Canadá e Espanha. A lista inclui ainda Índia, China, África do Sul, Indonésia e Uruguai.
O fenômeno interrompeu o transporte de grãos no rio Reno, afetou o comércio no Canal do Panamá e reduziu a geração hidrelétrica no Brasil, onde mais de 60% da eletricidade depende da água.
Para Thiaw, a situação deve piorar até 2050, quando três em cada quatro pessoas no mundo sentirão os efeitos da seca.
Efeito dominó e segurança humana
A seca frequentemente desencadeia um ciclo arrasador de eventos, incluindo ondas de calor, enchentes e conflitos por recursos escassos, como água.
A degradação da terra, muitas vezes intensificada por práticas agrícolas insustentáveis, aumenta a vulnerabilidade das comunidades e agrava o subdesenvolvimento.
A vice-secretária executiva do Unccd, Andrea Meza, explicou que a seca não é apenas uma questão ambiental, mas também de desenvolvimento e segurança humana, “que exige ação urgente em todos os níveis de governança”.
Soluções e financiamento
Durante a COP16, dois estudos foram apresentados. O primeiro é o Atlas Mundial da Seca, que revela como os riscos associados ao fenômeno estão interligados em setores como energia, agricultura e saúde pública.
O segundo é o Observatório de Resiliência à Seca, que utiliza inteligência artificial para monitorar dados e promover ações eficazes.
A conferência também anunciou um compromisso inicial de US$ 2,15 bilhões para financiar a Parceria Global de Resiliência à Seca de Riad.
O vice-ministro do Meio Ambiente da Arábia Saudita, Osama Faqeeha, declarou que o objetivo é “ampliar recursos globais para salvar vidas e meios de subsistência ao redor do mundo”.
A ONU estima que serão necessários US$ 2,6 trilhões até 2030 para restaurar terras degradadas e melhorar o manejo do solo.
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As secas custam mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,8 trilhão) por ano em todo o mundo, alertou a ONU, em um relatório apresentado no segundo dia da COP-16 sobre a desertificação. O relatório alerta que as secas alimentadas pela “destruição humana do meio ambiente” afetarão 75% da população mundial em 2050.
O custo da crise é de US$ 307 bilhões por ano em todo o mundo, afirma a Organização das Nações Unidas. Para reverter a situação, a ONU pede investimentos urgentes em “soluções baseadas na natureza”, como “o reflorestamento, a gestão de pastagens e a administração, restauração e conservação de bacias hidrográficas” para reduzir as perdas e beneficiar o meio ambiente.
Em 2024, que deve ser o ano mais quente já registrado, as secas tiveram efeitos devastadores no Equador, Brasil, Namíbia, Malauí e na bacia do Mediterrâneo.
“O custo econômico da seca vai além das perdas agrícolas imediatas. Afeta toda a cadeia de suprimentos, reduz o PIB, tem impacto sobre os meios de subsistência e leva à fome, desemprego, migração. Representa desafios de segurança humana a longo prazo”, afirma Kaveh Madani, coautor do relatório.
Fonte: ONU News.
Foto: Acnur/Caroline Irby.
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