As batalhas travadas ao longo da costa ucraniana estão causando danos incalculáveis à fauna marinha do Mar Negro. Mais especificamente, no habitat dos golfinhos, a primeira vítima visível no ecossistema aquático. Desde o início da guerra, várias centenas de mamíferos marinhos foram encontrados nas costas da Bulgária, Romênia e Turquia por uma atividade militar implacável. Muitos deles foram encontrados desorientados e extremamente fracos; outros (mais de 200) apareceram mortos nas praias.
Todos os seus corpos exibem queimaduras graves na pele, o que sugere que eles morreram de explosões de bombas ou minas. “Suspeitamos, sem certeza, que seus ferimentos sejam devidos ao fósforo; se fosse pelas chamas de uma explosão, eles não teriam sobrevivido, teriam sido despedaçados”, explicou o biólogo romeno Razvan Popescu. “O fósforo é uma substância que também queima debaixo de água, não só no exterior”, acrescenta o especialista, que confessa nunca ter visto um golfinho queimado nos 25 anos em que trabalha com cetáceos no Mar Negro.
Há duas semanas, mais de 60 cetáceos foram encontrados encalhados em Sulina, uma pequena cidade costeira romena que só pode ser alcançada de barco através do Danúbio ou do Mar Negro. Mas o número já ultrapassa 100 mamíferos marinhos que ficaram presos na costa romena sem conseguir salvar suas vidas. Sete dias depois, uma dúzia de golfinhos encalhou na foz do rio Ropotamo, 50 quilômetros ao sul da cidade turística de Burgas, na Bulgária. Eles também pereceram.
“Infelizmente, não pudemos ajudar em nada. Eles continuaram vindo para a costa. Quando tentamos colocá-los no mar para fazê-los flutuar, eles estavam exaustos e desorientados, tremendo, seus olhos estavam vermelhos e embaçados, cor de cereja”, disse o cientista búlgaro Kota Atanasov. Por sua vez, a Fundação Turca de Pesquisa Marinha informou em 10 de maio a morte de 80 golfinhos em suas costas.
Segundo especialistas, outra razão para a morte dos golfinhos está na poluição sonora. O aumento do ruído dos navios de guerra e o uso de poderosos sistemas de sonar levaram à perda de golfinhos, que navegam usando ondas sonoras tanto para navegar quanto para procurar comida.
“É claro que existe um impacto causado pela guerra. É o maior número de mortes nos últimos 20 anos”, destaca Costin Timofte, pesquisador romeno da ONG Mare Nostrum. “Os cetáceos se orientam com a ajuda do som e os navios de guerra, quanto submarinos, são equipados com sonar que emite pulsos de som que desorientam os golfinhos e podem afetar sua audição interna. Por isso, a maioria está perdida e não consegue mais se alimentar”, disse o especialista.
O custo para a biodiversidade da área é devastador. A marinha russa controla o Mar Negro ao largo da costa ucraniana. E o Kremlin está lançando ataques brutais contra o porto de Odessa, ponto estratégico da região.
Antes do início da ofensiva russa contra a Ucrânia, biólogos marinhos da Romênia, Bulgária, Turquia e Ucrânia sobrevoaram 62% da superfície do Mar Negro. Os cientistas descobriram que havia entre 240.000 e 270.000 golfinhos de três espécies nas águas do Mar Negro: a toninha, o golfinho-nariz-de-garrafa e o golfinho comum ou de barbatana curta.
Este número saudável de cetáceos ofereceu um indicador ecológico positivo do ecossistema. Agora, sua biodiversidade está mais ameaçada do que nunca, com navios afundando com óleo dentro e produtos químicos da munição. “Estamos falando de operações militares, não de atividades civis”, destaca Timofte: “Não há chance de que esse desastre natural pare se o conflito não terminar”.
Fonte: O País.