10% mais ricos dos EUA são responsáveis por 40% da poluição de carbono em todo o mundo

Desigualdade não apenas na renda, mas também na contribuição para o aquecimento global: um estudo científico divulgado na revista PLOS Climate verificou que, nos Estados Unidos, as pessoas mais ricas são também responsáveis pela maior parte da poluição gerada em todo o mundo.

Os pesquisadores analisaram enormes conjuntos de dados ao longo de 30 anos para conectar transações financeiras à poluição por carbono, calculando emissões diretas e indiretas dos negócios. Por exemplo, no caso de uma petrolífera, considerou-se as emissões da companhia e também a de seus clientes quando queimam o petróleo extraído e comercializado.

Assim, foi possível calcular uma pegada de carbono para cada dólar da atividade econômica dos Estados Unidos. Os cientistas então vincularam esses valores aos indivíduos e suas respectivas faixas de renda, usando dados do governo disponíveis.

Eles descobriram que os 10% mais ricos dos EUA, famílias que ganham mais de US$ 178 mil por ano, são responsáveis por empresas que causam 40% da poluição do planeta causada pelo homem. Sozinho, o 1% mais rico – famílias que ganham mais de US$ 550 mil ao ano – responde por 15% das emissões.

Jared Starr, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Massachusetts Amherst, afirma que o estudo tem o mérito de quantificar a colaboração de diferentes estratos sociais para as mudanças climáticas. “O aquecimento global pode ser uma coisa enorme, avassaladora e nebulosa acontecendo no mundo, e você sente que não tem como agir sobre isso. Você meio que sabe que está contribuindo de alguma forma, mas não é realmente claro ou quantificável”, disse à CNN.

O relatório também identificou “superemissores”. Eles estão quase exclusivamente entre os 0,1% mais ricos dos americanos, concentrados em setores como finanças, seguros e mineração, e produzem cerca de 3 mil toneladas de poluição de carbono por ano. Sendo que, segundo as estimativas atuais, as pessoas devem limitar sua pegada de carbono a cerca de 2,3 toneladas por ano, para enfrentar as mudanças climáticas.

“Quinze dias de renda para uma família dos 0,1% mais ricos gera tanta poluição de carbono quanto uma vida inteira de renda para uma família dos 10% mais pobres”, disse Starr.

Os autores do relatório também apontam a necessidade de repensar como usar os impostos para enfrentar a crise climática.

Os impostos sobre o carbono que se concentram no consumo “punem desproporcionalmente os pobres e têm pouco impacto sobre os extremamente ricos”, disse Starr. Eles também não taxam a parte da riqueza que os ricos gastam em investimentos.

Em vez disso, os governos deveriam se concentrar em impostos direcionados a acionistas e investimentos intensivos em carbono, dizem os autores. Mas Starr reconhece a dificuldade de se implementar políticas do tipo, devido à influência política que os mais ricos costumam ter.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Getty Images.