5 coisas que fazem das lantejoulas grandes poluidoras

Elas são quase sempre feitas de plástico e levam centenas de anos ou mais para se decompor

O Natal e o Ano Novo são uma época de festa para muitos, ocasiões que inspiram comprar uma roupa nova — muitas vezes, com brilho, repletas de lantejoulas.

Roupas com lantejoulas também estão se tornando mais comuns em algumas regiões do mundo em outras épocas do ano — por exemplo, no sul da Ásia, onde o costume de usar lehenga, vestido longo, e choli, uma blusa bordada, muitas vezes com lantejoulas, está se espalhando.

Mas as roupas feitas de lantejoulas são um risco ambiental, alertam os especialistas, por mais de uma razão.

1 – As lantejoulas caem

“Não sei se você já usou alguma coisa com lantejoulas, mas eu já usei, e elas ficam caindo o tempo todo, especialmente se as roupas forem de fast fashion ou ponta de estoque”, diz Jane Patton, gerente de campanhas de plástico e petroquímica no Centro de Direito Ambiental Internacional.

“Elas soltam quando você abraça alguém, ou entra e sai do carro, ou até mesmo enquanto você caminha ou dança. Também saem na lavagem.”

O problema é o mesmo do glitter. Ambos são geralmente feitos de plástico com um revestimento refletor metálico. Uma vez que vão para o ralo, permanecerão no ambiente por séculos, possivelmente se fragmentando em pedaços menores ao longo do tempo.

“Como as lantejoulas são sintéticas e feitas de um material que quase certamente contém produtos químicos tóxicos, onde quer que elas acabem – no ar, na água, no solo – é potencialmente perigoso”, diz Jane Patton.

“Os microplásticos são um problema generalizado e monumental. Por serem tão pequenos e se moverem com tanta facilidade, é impossível simplesmente limpá-los ou contê-los.”

Pesquisadores revelaram neste ano que foram encontrados microplásticos até na neve fresca da Antártida.

Foram inventadas lantejoulas biodegradáveis, mas ainda não são produzidas em massa.

2 – Roupas de festa são a última palavra em moda descartável

A instituição de caridade Oxfam entrevistou 2 mil mulheres britânicas de 18 a 55 anos em 2019, 40% das quais disseram que comprariam uma peça de roupa com lantejoulas para as festas de fim de ano.

Apenas um quarto tinha certeza de que usaria novamente – e, em média, as entrevistadas disseram que usariam a roupa cinco vezes antes de deixá-la de lado.

Cinco por cento afirmaram que jogariam as roupas no lixo uma vez que desistissem delas, levando a Oxfam a calcular que 1,7 milhão de peças de roupas festivas de 2019 acabariam em aterros sanitários.

Uma vez no aterro sanitário, as lantejoulas de plástico permanecerão lá indefinidamente – mas estudos também mostraram que os resíduos líquidos que saem dos aterros também contêm microplásticos.

Um grupo de pesquisadores disse que o estudo forneceu evidências de que “o aterro não é o depósito final de plásticos, mas uma fonte potencial de microplásticos”.

3 – Roupas não vendidas podem ser descartadas

Viola Wohlgemuth, gerente de economia circular e substâncias tóxicas do Greenpeace na Alemanha, diz que 40% dos itens produzidos pela indústria de vestuário nunca são vendidos. Estes podem então ser enviados para outros países e descartados, segundo ela.

Roupas decoradas com lantejoulas estão, inevitavelmente, entre essas remessas. Viola Wohlgemuth conta que já viu lantejoulas em itens expostos em mercados de roupas de segunda mão e aterros sanitários no Quênia e na Tanzânia.

“Não há regulamentação para a exportação de resíduos têxteis. Essas exportações são disfarçadas de têxteis de segunda mão e descartadas em países pobres, onde acabam em aterros sanitários ou cursos de água, e poluem”, diz ela.

“Não é proibido como uma substância problemática como outros tipos de resíduos, como lixo eletrônico ou plástico, sob a Convenção da Basileia.”

4 – Há desperdício quando as lantejoulas são produzidas

As lantejoulas são perfuradas em folhas de plástico, e o material que resta deve ser descartado.

“Alguns anos atrás, algumas empresas tentaram queimar os resíduos em seus incineradores”, diz Jignesh Jagani, dono de uma fábrica têxtil no Estado indiano de Gujarat.

“E isso produziu fumaça tóxica. O conselho de controle de poluição do Estado ficou sabendo e fez com que as empresas parassem de fazer isso. Manusear esse resíduo é realmente um desafio.”

Uma das desenvolvedoras de lantejoulas de celulose compostáveis, Elissa Brunato, disse que começou fazendo folhas de material das quais as lantejoulas eram cortadas. Para evitar esse problema, ela passou a fazer lantejoulas em moldes individuais.

5 – Lantejoulas são fixadas em fibras sintéticas

O problema não são apenas as lantejoulas, mas os materiais sintéticos aos quais elas geralmente estão fixadas.

De acordo com o Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 60% do material usado nas roupas é plástico, como poliéster ou acrílico, e toda vez que as roupas são lavadas, elas soltam pequenas microfibras de plástico.

Essas fibras chegam aos cursos de água e, a partir daí, entram na cadeia alimentar.

De acordo com uma estimativa da União Internacional para a Conservação da Natureza, os tecidos sintéticos são responsáveis por 35% das microfibras lançadas nos oceanos.

George Harding, da Changing Markets Foundation, que visa enfrentar problemas de sustentabilidade usando o poder do mercado, diz que o uso de lantejoulas e fibras de plástico (derivadas de petróleo ou gás) pela indústria da moda também demonstra uma “dependência profundamente enraizada na indústria de combustíveis fósseis para matérias-primas”.

A previsão, segundo ele, é de que a produção de roupas quase dobre até 2030 em comparação com os níveis de 2015.

“(Então) o problema provavelmente só vai piorar, se não ocorrer intervenções significativas.”

Fonte: BBC News.

Foto: Getty via BBC.