Não que seja novidade. Anualmente essas multinacionais sempre aparecem no topo de levantamentos que revelam quais empresas mais colaboram para poluir o meio ambiente. A Coca-Cola, por exemplo, é apontada como líder, por vários anos consecutivos, pela sua contribuição para a poluição plástica no planeta. Mas uma nova análise acaba de ser divulgada pelo 5 Gyres Institute, justamente na semana em que acontece em Ottawa, no Canadá, um encontro do Programa de Meio Ambiente da ONU (INC-4) para se tentar negociar um acordo global sobre o assunto.
Segundo o relatório, divulgado com destaque na publicação Science Advances, 56 multinacionais são responsáveis por 50% da poluição plástica, ou seja, elas produzem metade das embalagens de plástico descartadas de forma incorreta em rios, lagos, oceanos, praias e outros locais que não são os de destinação correta. Muitos desses produtos, infelizmente, nem são recicláveis.
Cinco companhias, que fabricam e vendem produtos conhecidos pelos consumidores no dia a dia, representam, sozinhas, 24% desses 50%: Coca-Cola Company (11%), PepsiCo (5%), Nestlé (3%), Danone (3%) e Altria/Philip Morris (2%).
Para chegar a esse resultado, foram analisadas 1.576 auditorias em 84 países realizadas pela organização Break Free From Plastic, entre os anos de 2018 e 2022, em que 200 mil voluntários identificaram as marcas encontradas em resíduos descartados no meio ambiente.
“Há uma relação clara e evidente entre produção (%) e poluição (%) na produção anual de plástico das empresas e a poluição plástica de sua marca, sendo as fabricantes de alimentos e bebidas desproporcionalmente as maiores poluidoras. A eliminação progressiva dos produtos plásticos descartáveis e de curta duração reduziria enormemente a poluição plástica global”, alertam os pesquisadores que assinam o artigo da Science Advances.
Isso significa que a cada 1% no aumento da produção de plástico por uma dessas gigantes, há um crescimento de 1% de lixo plástico que irá parar na natureza.
“Quando vi pela primeira vez a relação entre produção e poluição, fiquei chocado. Tive vontade de vomitar, foi a realidade do meu pior pesadelo. Apesar de todas as promessas das grandes marcas, não vemos qualquer impacto positivo nos seus esforços”, diz Win Cowger, diretor de Pesquisa do Instituto Moore para Pesquisa de Poluição Plástica.
E os pesquisadores destacam que essas multinacionais não podem mais colocar a responsabilidade da suposta reciclagem na mão de consumidores, como têm feito nas últimas décadas. Além de não haver capacidade para se reciclar o montante absurdo de plástico produzido diariamente, muitas das embalagens colocadas no mercado por essas empresas não podem ser recicladas e, já as que podem, devem fazer parte de um programa de logística reversa das mesmas ou então, de programas de retorno e reuso implementados por elas.
“O nosso estudo reforça o papel crítico da responsabilidade corporativa no combate à poluição plástica. Nós, como indivíduos, não somos responsáveis pela crise dos plásticos; a responsabilidade recai sobre estas 56 empresas globais que devem tomar medidas urgentes”, afirma Lisa Erdle, diretora de Ciência e Inovação do Instituto 5 Gyres. “Peço aos líderes mundiais da INC-4 que ajam! Ouçam a ciência e considerem a ligação clara entre a produção de plástico e a poluição durante as negociações para um Tratado Global sobre Plásticos”.
Fonte: Conexão Planeta.
Foto: Divulgação Greenpeace/Break Free From Plastic.