85% das pessoas em todo o mundo querem a proibição global de plásticos descartáveis

Grande parte (85%) das pessoas em todo o mundo querem a proibição de plásticos descartáveis, como sacolas de compras, talheres, copos e pratos plásticos de uso único. Essa é a constatação de um estudo encomendado pela organização conservacionista independente WWF e o movimento social Plastic Free Foundation à empresa de pesquisa Ipsos e que consultou 24 mil indivíduos em 32 países.

O levantamento foi realizado com o objetivo de entender a opinião pública sobre uma série de regras globais propostas para regular a produção, o consumo e a gestão dos plásticos, que podem ser incluídas em um tratado global sobre poluição plástica que vem sendo negociado desde 2022 por 175 países.

Os resultados também mostram que 90% dos entrevistados acreditam que é importante ter regras globais para proibir produtos químicos usados em plásticos que sejam perigosos para a saúde humana e o meio ambiente. Além disso, 86% acham que deve ser exigido que novos produtos e embalagens plásticas contenham plástico reciclado e 88% pedem que haja rotulagem de produtos plásticos, para que fique claro como classificar de forma responsável o material para reutilização, reciclagem ou descarte.

Os participantes também apoiam que fabricantes de plástico paguem uma taxa destinada para aumentar a reutilização, reciclagem e gestão segura dos resíduos (84%), contribuam para o custo da redução de resíduos e do fim da poluição por plásticos (73%) e que todos os países participantes tenham acesso a financiamento, tecnologia e outros recursos para cumprir as regras (72%).

Ainda pelos dados da pesquisa, a concordância com as regras é maior nas regiões que sofrem os piores efeitos da crise global da poluição plástica. Por exemplo, na América Latina, variou entre 88% e 92% e, nos países africanos, entre 86% e 92%. A média global ficou 85% e 90%.

Opinião dos brasileiros

Em se tratando do Brasil, 86% das pessoas defendem que as regras globais exijam a proibição de substâncias químicas usadas em plásticos que sejam perigosas para a saúde humana, a vida selvagem e o meio ambiente, 85% dizem que é importante que essas regras determinem a redução da produção mundial de plástico e 83% querem que produtos plásticos descartáveis desnecessários sejam banidos.

Quando questionados sobre a circulação segura dos plásticos, quase 9 em cada 10 brasileiros responderam que é importante que as normativas reivindiquem a proibição de tipos de plástico que não podem ser facilmente reciclados na prática (85%). O mesmo percentual acha importante que as regras globais exijam categorização transparente de produtos de plástico. E o índice aumenta para 87% quando o assunto é sobre fabricantes e varejistas fornecendo sistemas de reutilização e reposição.

“Essa preocupação dos brasileiros pode ser explicada pela ineficiência de políticas isoladas e falta de atuação eficaz do setor produtivo. Embora tenhamos uma política nacional de resíduos sólidos, as diretrizes são vagas e algumas iniciativas legislativas são aplicadas apenas em nível subnacional, implicando num crescimento cada vez maior de poluição plástica”, disse Michel Santos, gerente de Políticas Públicas do WWF-Brasil, em comunicado.

Produção de plástico

Globalmente, são produzidos todos os anos mais de 430 milhões de toneladas de plástico virgem, sendo 60% de utilização única. Apenas 9% do material é reciclado atualmente. No Brasil, segundo o levantamento, são consumidos mais de 10,3 milhões de toneladas e importadas 12 mil toneladas de resíduos plásticos por ano. E, no mesmo período, são despejadas até 3,4 milhões de toneladas de resíduos plásticos no mar, impactando as pessoas e a natureza nas áreas costeiras do país.

“A poluição plástica é um problema global que afeta negativamente os seres humanos, a vida selvagem e seus habitats, alterando os processos naturais e reduzindo a capacidade dos ecossistemas de se adaptarem às mudanças climáticas”, enfatizou Santos. “Diante disso, as pessoas demonstram estar abertas a apoiar um tratado global contra a poluição plástica e nós, brasileiros, estamos alinhados à percepção global de que precisamos criar mecanismos contra essa poluição.”

Ele acrescentou que, ao elaborar regras, oferecer incentivos específicos e compartilhar tecnologias é possível diminuir o grande impacto ambiental causado. “Estamos num momento urgente e oportuno, globalmente com as negociações por um tratado mundial e, nacionalmente, com iniciativas legislativas como o PL do Oceano sem Plástico, em tramitação no Senado.”

O WWF e a Plastic Free Foundation apelam aos governos para que cheguem a um acordo sobre regras globais vinculativas que eliminem gradualmente, se não proíbam imediatamente, as substâncias e produtos mais nocivos; concebam requisitos globais de produtos que garantam que os restantes produtos plásticos possam ser facilmente reutilizados e reciclados, e implementem mecanismos financeiros sólidos para apoiar uma transição justa.

“Precisamos que os governos prestem atenção ao apelo crescente dos seus eleitores e rejeitem as exigências de alguns países que oferecem soluções falsas que apenas procuram beneficiá-los financeiramente, mas que nos levam a um tratado fraco e diluído que pouco faz para travar a onda crescente de poluição plástica. Os governos devem lembrar-se de que prometeram um tratado que acaba com a poluição plástica. Agora eles devem cumprir”, finalizou Rebecca Prince-Ruiz, fundadora e diretora executiva da Plastic Free July e da Plastic Free Foundation.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Getty Images.