O plástico tem recebido muita má fama – e com razão. Nosso uso descuidado dele cobriu a Terra e encheu os oceanos com cerca de oito trilhões de toneladas de lixo plástico.
Mas o lado obscuro dos resíduos plásticos pode ofuscar sua importância: sem dúvida, o plástico revolucionou a vida no século XX. Duráveis, maleáveis, estéreis e versáteis, nada como polímeros plásticos pode ser encontrado na natureza. Sem eles, nunca poderíamos ter criado discos de vinil, fitas magnéticas, filmes fotográficos ou CDs. Sem plástico, músicas e filmes gravados não seriam possíveis.
A medicina moderna depende completamente do plástico – pense em bolsas de sangue, seringas e tubos flexíveis. Peças de automóveis, materiais leves para aeronaves, satélites e ônibus espaciais – todos dependentes de plástico – nos permitiram viajar pelo mundo e explorar o universo. E, claro: computadores, telefones e todas as formas de tecnologia da internet. Quase todas as pessoas que leem estas palavras o fazem por causa do plástico. Olhe ao seu redor e você perceberá o quanto sua vida diária só é possível graças ao plástico.
Além do problema do descarte, há outro lado ruim do plástico: a fonte. É fácil esquecer que o plástico é feito de combustíveis fósseis. Cerca de 4% do petróleo e gás que usamos anualmente são destinados à produção de polímeros – o que pode não parecer muito, mas ainda envolve a produção de plástico aliada à extração de combustíveis fósseis e às mudanças climáticas.
Na busca de soluções para enfrentar o problema, pesquisadores da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, desenvolveram uma tecnologia que pode ajudar a enfrentar dois dos maiores problemas ambientais do planeta: o acúmulo de plástico e a crise climática.
O grupo conseguiu transformar resíduos de PET — usado em garrafas, tecidos e embalagens — em um material capaz de capturar dióxido de carbono (CO²) da atmosfera.
Lixo, um recurso valioso?
Segundo o estudo, publicado na revista Science Advances, o processo químico “upcycle” converte o plástico PET descartado em um novo material chamado BAETA. Esse pó, que pode ser compactado em pellets, tem uma superfície quimicamente modificada que se liga ao CO² de maneira eficiente.
Quando saturado, o material pode ser aquecido para liberar o gás em alta concentração. O CO² liberado pode ser armazenado de forma segura ou aproveitado em processos industriais, como a produção de combustíveis sintéticos.
“A beleza desse método é resolver um problema sem criar outro. Transformamos lixo em um recurso que ajuda a reduzir gases de efeito estufa”, explica a autora principal do estudo, Margarita Poderyte.
Escalável e resistente
Segundo os pesquisadores, o BAETA funciona em diferentes condições: desde a temperatura ambiente até cerca de 150 ºC. Essa característica permite o uso em indústrias, instalando unidades de captura diretamente nas chaminés para filtrar o CO² antes que ele seja lançado na atmosfera.
Coautor do trabalho, Jiwoong Lee destaca que o material mantém sua eficiência por longos períodos e se adapta a diferentes ambientes.
“Com essa tolerância ao calor, ele pode ser usado até no final do processo industrial, onde os gases estão mais quentes”, diz.
Ganho duplo para o meio ambiente
O PET, que representa boa parte do lixo plástico mundial, costuma se acumular em lixões ou acabar nos oceanos, fragmentando-se em microplásticos. Com a nova tecnologia, até mesmo resíduos degradados e de baixa qualidade — que não entram na reciclagem tradicional — podem ser reaproveitados.
Para os cientistas, essa é uma forma de “unir problemas” em uma mesma solução: menos plástico na natureza e mais eficiência no combate às mudanças climáticas. “Nosso material pode criar um incentivo econômico concreto para limpar os oceanos”, afirma Lee.
Como funciona a captura de CO² com plástico reciclado
– O PET contém cerca de 60% de carbono em sua composição.
– Ele é quimicamente transformado com etilenodiamina, substância conhecida pela alta capacidade de ligação ao CO².
– O processo decompõe o plástico em partículas menores, criando uma estrutura que “puxa” o gás da atmosfera.
– Quando cheio, o material é aquecido para liberar o CO², que pode ser armazenado ou reaproveitado.
Próximos passos
Agora, o desafio é levar a descoberta do laboratório para a indústria. Os pesquisadores já buscam investidores para produzir o BAETA em escala de toneladas e instalar os sistemas em fábricas.
“A tecnologia é sustentável e pode ser ampliada. O ponto decisivo será convencer autoridades e empresas a investir”, afirma Poderyte.
Fonte: g1, CNN.
Foto: Simon Rufer, Kripa Varanasi, et al.
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