Com vasta disponibilidade de matérias-primas renováveis e uma cadeia produtiva de biocombustíveis consolidada, o Brasil tem potencial para ser protagonista na descarbonização dos transportes aéreo e marítimo no cenário global, compromisso que será debatido na COP30.
De 2024 para 2025, o número de projetos anunciados para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) no Brasil subiu de três para nove, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A projeção é que a fabricação em escala comercial, que ainda vai começar, atinja 2,8 bilhões de litros em 2035, impulsionada também pelo Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação (ProBioQAV).
Biomassa e óleos vegetais
O termo SAF se refere a combustíveis fabricados a partir de recursos como biomassa, óleos vegetais e gordura animal, que permite uma redução de emissões de carbono entre 55% e 90%, na comparação com derivados de petróleo. A mistura de SAF ao querosene de aviação é considerada a alternativa mais eficaz, de imediato, para a transição energética no transporte aéreo.
Na navegação, a diminuição da pegada de carbono começou com a adição de biodiesel ou de diesel renovável (HVO), que podem reduzir o lançamento de gases do efeito estufa em 80% e 90%, respectivamente. O Brasil pode expandir a produção de biodiesel dos atuais 10,1 bilhões de litros para 13,9 bilhões de litros em 2035, de acordo com a EPE. O HVO ainda não é fabricado comercialmente no país, mas há projetos em desenvolvimento.
Um deles é o da Acelen Renováveis, que planeja produzir SAF e HVO com óleo de macaúba, palmeira nativa brasileira, a partir de 2030. Uma biorrefinaria com capacidade de gerar 1 bilhão de litros por ano deve começar a ser erguida no ano que vem em São Francisco do Conde (BA). Será a primeira de cinco unidades. É possível extrair da macaúba de sete a dez vezes mais litros de óleo por hectare cultivado em comparação com a soja, explica o CEO da Acelen, Luiz de Mendonça.
— Teremos um custo de produção equiparável ao custo do combustível fóssil quando a cadeia produtiva atingir a plena maturidade — prevê o executivo.
A companhia também lançou um programa de parcerias com pequenos e médios produtores e agricultores para o plantio da macaúba para que 20% dos frutos para a fabricação sejam comprados desses parceiros.
A Petrobras começa a produzir SAF nos próximos meses, com capacidade de até 10 mil barris por dia, segundo a empresa. Na navegação, a Petrobras iniciou a venda de combustível com 24% de biodiesel produzido a partir de resíduos tratados em julho do ano passado.
O combustível com conteúdo renovável permite a redução de emissões de carbono em cerca de 20%, dependendo da matéria-prima usada na fabricação do biodiesel. A companhia prevê investir US$ 1,5 bilhão nas refinarias para o desenvolvimento de bioprodutos e combustíveis sustentáveis até 2029.
Importação
Enquanto isso, o mercado interno é abastecido por importações de SAF. No início do ano, a Vibra adquiriu 550 mil litros de um fornecedor asiático e desde abril o vende no Aeroporto Internacional Tom Jobim e do Aeroporto de Jacarepaguá, ambos no Rio, na proporção de 90% de querosene de avião e 10% de SAF.
No mercado de navegação, a Vibra começou vender este ano óleo diesel marítimo com 20% de biodiesel. As vendas ainda são só para dois clientes que operam equipamentos como rebocadores no Porto de Santos.
Atualmente, os transportes aéreo e marítimo são responsáveis por aproximadamente 3% das emissões globais de carbono. Para a diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), Maria Netto, o foco dos debates sobre a descarbonização dos transportes aéreo e marítimo na COP30 deve recair nas inovações tecnológicas:
— O Brasil tem um potencial grande para oferecer soluções aos mercados interno e externo — lembra.
No ano passado, uma chamada pública do BNDES e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para seleção de planos de negócios de produção de combustíveis sustentáveis recebeu 43 propostas focadas em SAF e outras 33 em combustíveis para navegação, um investimento potencial de R$ 167 bilhões. Nas 42 propostas aprovadas, o potencial de investimentos é de R$ 130 bilhões. O banco discute os planos de negócios com as empresas selecionadas.
Entre as propostas aprovadas está a da Prumo Logística, responsável pelo desenvolvimento do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense. A empresa firmou acordo com a Repsol Sinopec Brasil (RSB), de petróleo e gás, para estudos de tecnologias capazes de converter CO₂ capturado do ar em combustível com menor pegada de carbono para aviões e navios.
A planta-piloto do programa, capitaneado pela RSB, poderá produzir 300 litros de combustível sustentável por dia e será construída no hub de inovação licenciado pelo Porto do Açu para projetos de alternativas energéticas de baixo carbono para os transportes aéreo e marítimo. Hidrogênio verde, SAF, derivados de biomassa e e-combustíveis, como amônia verde e e-metanol, estão entre as soluções.
Fonte: O Globo.
Foto: Divulgação.
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