Mais de 700 piscinas olímpicas de esgoto são despejadas diariamente nos rios da Amazônia

A cada dia, 761 piscinas olímpicas de esgoto bruto, ou 2,3 trilhões de litros, são lançadas nos rios e córregos que cortam os estados da Amazônia Legal. Esse dado foi revelado pelo Instituto Trata Brasil, em um estudo que calcula os potenciais ganhos da universalização do saneamento na região. Segundo o levantamento, os benefícios socioeconômicos superariam em R$ 330 bilhões os gastos com obras e investimentos.

O estudo “Benefícios Econômicos da Expansão Saneamento na Amazônia Legal” foi feito em parceria com a EX ANTE Consultoria e divulgado nesta terça (16). Os principais benefícios da universalização de saneamento na Amazônia, calculados pelos pesquisadores, seriam a redução dos custos de saúde, o aumento da escolaridade e geração de emprego e renda, as valorizações imobiliária e ambiental e o turismo.

Assim, a pesquisa aponta que para cada um real investido em saneamento, o retorno bruto de ganhos econômicos e sociais na Amazônia Legal seria de R$ 5,10, valor maior que a média esperada para o Brasil. Os maiores benefícios per capita seriam no Acre, Rondônia e Amazonas, e em Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Macapá (AP), considerando as capitais.

Mais de 80% da população sem ligação de esgoto

São nove estados que formam a chamada Amazônia Legal: Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso, o que representa uma população de 26,6 milhões. Mas 35% (9,4 milhões) desses habitantes sequer têm abastecimento de água. Para piorar, 82,4% (21,4 milhões) não moram em casas com ligação na rede geral de coleta de esgoto.

Com esses números, monitorados pelo Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), o Trata Brasil concluiu que são 2,3 trilhões de litros de esgoto despejados diariamente na natureza, o que vai parar nos rios, córregos e demais cursos d’água da Amazônia.

A média nacional, ainda que ruim, é significativamente melhor que a média da Amazônia. No Brasil, o déficit de água tratada e de coleta de esgoto atinge, respectivamente, 15% e 44% da população.

O estudo faz um cálculo para benefícios que seriam gerados entre 2024 e 2040, período esperado para a universalização do saneamento. Depois também é analisado um cenário para além de 2040, para considerar benefícios permanentes. Segundo os estudos, “os benefícios devem exceder os custos em quase R$ 330,1 bilhões, indicando um balanço social bastante positivo para a região”.

Os principais benefícios apontados são: redução dos custos com saúde (R$ 2,7 bilhões entre 2024 e 2040); valorização imobiliária (R$ 25,1 bilhões); renda com turismo (R$22,1 bilhões); e renda gerada pelo investimento direto e indireto no saneamento (R$ 39,8 bilhões).

Falta de vontade política, diz presidente do instituto

Acima destes ganhos está o aumento da produtividade da população, calculado em R$ 192,9 bilhões pelo Trata Brasil. Segundo Luana Pretto, presidente executiva do Instituto, esse benefício decorre da maior perspectiva profissional e educacional dos moradores que deixam de ter problemas e doenças relacionados à falta de saneamento.

— Por exemplo, a gente já fez um estudo que apontou que uma criança que não teve acesso ao saneamento durante toda a sua vida tem uma renda 46% menor do que uma criança que teve acesso ao saneamento durante um período de 35 anos de trabalho. Então, tudo isso é calculado, tanto no caso do adulto, quanto no caso, do futuro das crianças, relacionado a esse ganho de salário de produtividade de uma maneira geral.

Para a Luana, há um “senso de urgência” na universalização de saneamento da Amazônia pela abundância de água e biodiversidade importante da região. Por isso, o investimento deveria ser tema na agenda pública local, diz, principalmente para se captar investimentos e alcançar a meta de universalização conforme preconiza o Marco Legal do Saneamento Básico.

— Infelizmente a gente ainda tem governantes que enxergam naquele viés do velho ditado de que obra enterrada não dá voto. Por conta de de tudo isso, não se investiu durante anos em saneamento básico. O investimento médio na região norte do país em saneamento básico é de R$ 66,52 por ano por habitante, enquanto a gente deveria estar investindo em média R$  223 por ano por habitante. Há uma necessidade de entendimento da importância do saneamento para o desenvolvimento das crianças, para conservação dos recursos hídricos, e para o aumento da produtividade de uma maneira geral.

Fonte: g1.

Foto: Igor Mota/g1/21-05-2019.

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