Quando o martelo bateu para selar o Acordo de Paris em 2015, lágrimas rolaram, líderes mundiais deram as mãos e os participantes da Conferência do Clima da ONU daquele ano, a COP21, aplaudiram de pé.
Era um momento crucial na ação climática. Pela primeira vez, quase 200 nações adotaram um tratado vinculativo para limitar o aquecimento global a um patamar bem abaixo de 2 ºC, esforçando-se para limitar o aumento a 1,5 °C.
Os cientistas consideravam o limite de 1,5 °C uma linha de defesa crítica contra os danos mais severos e irreversíveis das mudanças climáticas. A ONU agora afirma que ultrapassar esse limite é “inevitável”, com “consequências devastadoras” para o mundo.
Um dos temas centrais da COP30 na sexta-feira, 7, em Belém foi a avaliação dos dez anos do Acordo de Paris, marco global do enfrentamento à crise climática. O novo relatório do Instituto Climate Analytics, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), faz um balanço dos resultados do tratado e lista 22 pontos considerados os mais importantes para compreender seu impacto em governos, economias e instituições.
O estudo aponta que o Acordo de Paris desencadeou uma mudança estrutural na forma como o mundo se organiza para limitar o aquecimento global a 1,5°C e atingir emissões líquidas zero por volta de 2050. Segundo os autores, as metas nacionais revisadas e os mecanismos de transparência ajudaram a cortar em cerca de 1°C a temperatura projetada para o final do século — um avanço que reduziu riscos para pessoas e ecossistemas e ampliou o espaço para adaptação.
Além de impulsionar políticas climáticas, o acordo também transformou o sistema internacional. Organismos globais começaram a incorporar a meta de 1,5°C em regras setoriais, como as do transporte marítimo e aéreo, enquanto cortes e tribunais vêm exigindo maior responsabilidade dos Estados. Clubes políticos como G7 e G20 passaram a institucionalizar objetivos alinhados a Paris, criando ciclos de reforço entre normas, capital e tecnologia.
A principal mensagem é clara: é preciso acelerar. “A ciência embutida no Acordo de Paris aponta para um imperativo — mover-se mais rápido, porque os danos se agravam a cada incremento de aquecimento”, resume o texto. A próxima década, defendem os autores, deve ser marcada pela execução disciplinada das metas, com foco em reduzir as lacunas entre compromissos e políticas efetivas, ampliar o financiamento para transições justas e preservar o acordo como pilar de uma resposta global segura e duradoura às mudanças climáticas.
Temperaturas subiram desde então
Enquanto líderes mundiais se reúnem em Belém para a COP30, cientistas alertam que, por mais quente que o mundo já esteja, cada fração de grau importa – fazendo a diferença entre a segurança e o sofrimento de milhões de pessoas.
O aumento do calor está matando aproximadamente uma pessoa por minuto e a poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis mata cerca de 2,5 milhões de pessoas por ano.
O calor também está causando um enorme impacto econômico, com perdas estimadas em 304 bilhões de dólares (R$ 1,6 trilhão) no ano passado.
Enquanto isso, ecossistemas críticos estão sendo levados ao limite. Este ano, o mundo ultrapassou seu primeiro “ponto de inflexão” climático – um limiar que desencadeia mudanças irreversíveis –, enquanto o aquecimento dos oceanos causa a morte em massa de corais. Os recifes de coral são um dos ecossistemas mais biodiversos do mundo, sustentando um quarto da vida marinha.
Cientistas alertam que outros pontos de inflexão, como o declínio da Floresta Amazônica e o colapso de correntes oceânicas vitais, estão perigosamente próximos.
O que foi alcançado desde 2015?
Embora a ação climática em geral esteja criticamente atrasada, existem impressionantes focos de progresso.
O crescimento global das energias renováveis disparou, superando até mesmo as expectativas dos otimistas. A queda acentuada dos custos está ajudando a impulsionar esse crescimento, num momento em que investimentos em energia limpa vêm aumentando e agora já são o dobro do dinheiro destinado aos combustíveis fósseis.
A participação das energias renováveis na matriz energética global mais que triplicou desde o Acordo de Paris. Em 2024, o mundo registrou o maior aumento de geração de energia renovável de sua história, representando agora 40% da eletricidade global. No primeiro semestre deste ano, a geração de energia solar e eólica superou o carvão pela primeira vez.
A capacidade global de energia solar é mais de quatro vezes maior do que a prevista em 2015, dobrando a cada três anos, e a energia eólica triplicou, de acordo com uma análise da Energy and Climate Intelligence Unit, uma organização sem fins lucrativos sediada no Reino Unido.
A China está na vanguarda, tendo instalado no ano passado mais capacidade solar do que o resto do mundo combinado.
Na última década, os veículos elétricos saltaram de cerca de 1% das vendas de carros para quase um quarto. O mundo está prestes a atingir antes do previsto a meta do Acordo de Paris, de 100 milhões de veículos nas ruas até 2030.
Visão aérea de painéis solares em uma área de deserto cheia de elevações e valesVisão aérea de painéis solares em uma área de deserto cheia de elevações e vales
Painéis solares no deserto de Kubuqi, na China: país está na vanguarda na geração de energia renovávelFoto: AFP
No entanto, há ressalvas importantes a esse progresso. As energias renováveis podem estar batendo recordes, mas o carvão também: o combustível fóssil mais poluente atingiu um recorde de uso global no ano passado. E embora mais dinheiro esteja sendo investido em energia verde, o financiamento público para combustíveis fósseis também aumentou para 1,6 trilhão de dólares (R$ 8,4 trilhões) por ano.
Será possível cumprir metas?
Especialistas alertam que as ações climáticas atuais ainda estão muito aquém do esperado. Embora o progresso da última década tenha ajudado a evitar o aquecimento de 4 °C até o final do século, conforme previsto em 2015, o planeta ainda está a caminho de um aquecimento de 2,6 °C até 2100. Mesmo esse cenário menos drástico levaria a 57 dias extras de calor extremo a cada ano, em comparação com os dias atuais.
Antes da cúpula em Belém, os países ainda se esforçavam para apresentar novos compromissos climáticos. As promessas feitas até agora representariam apenas uma redução de 10% nas emissões até 2035.
O mundo precisa de uma enorme aceleração na ambição e na redução das emissões em todos os setores, de acordo com o recente relatório Estado da Ação Climática, do think tank Climate Analytics.
Isso inclui eliminar o carvão dez vezes mais rápido nesta década, aumentar os esforços para deter o desmatamento em nove vezes, dobrar o crescimento das energias renováveis, aumentar o financiamento climático global em quase 1 trilhão de dólares por ano e expandir rapidamente a infraestrutura de transporte público nas cidades mais poluentes do mundo.
Fontes: DW, Um Só Planeta.
Foto: Kevin Frayer/Getty Images.


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