Um estudo conseguiu, pela primeira vez, avaliar os efeitos em cascata do desequilíbrio de um grupo de lobos sobre o ecossistema florestal. Para isso, ele tomou como base a influência que a chegada de um lobo solitário exerceu sobre a Isle Royale, uma ilha localizada no estado de Michigan, nos Estados Unidos. A região se caracteriza por grande biodiversidade e passou por transformações significativas ao longo das últimas décadas.
Por lá, a população de lobos foi atingida por doenças, incluindo a parvovirose canina, que resultaram no declínio da espécie no decorrer de anos. Isso porque o estudo, publicado na Science Advances, destaca que, em meados de 1980, de cinquenta lobos, restaram apenas doze. E pode-se dizer que muita coisa mudou com a chegada de um novo animal que vinha do Canadá, por meio de uma ponte de gelo, sem qualquer relação com os já presentes na região, em 1997.
Com a chegada do lobo imigrante (M93), esse cenário mudou. Chamado também como “velho cinzento”, em questão de tempo, ele se tornou o macho reprodutor de uma das três alcateias dessa ilha remota. Naturalmente, alguns efeitos foram percebidos.
Dentre eles, a introdução de novas variabilidades genéticas entre os lobos, o que foi apontado como fundamental para encerrar o ciclo de declínio populacional, parcialmente explicado pela prática da endogamia. Para outras espécies, não foi diferente. Isso porque os alces presentes por ali respondiam pelo consumo de uma grande quantidade de vegetais.
Em outras palavras, Os alces contribuíam de forma direta com o declínio da vegetação local. E uma vez que seus predadores naturais, os lobos, estavam em menor número, mais expressiva se tornava a redução da cobertura da floresta.
Por outro lado, pesquisadores constataram que nessa dinâmica nova, com uma maior presença dos lobos, foi restaurado o equilíbrio de forma gradativa. Assim, os alces passaram a se apresentar em números mais controlados. Mas, além disso, foi percebida uma maior presença de outras espécies animais e vegetais em meio à expansão da floresta, que tinha um maior espaço para se recuperar, como num efeito dominó.
A fim de reverter esse cenário preocupante, em 2018, um programa de restauração reintroduziu novos lobos na região. Com isso, a alcateia aumentou, alcançando 30 lobos, e ao mesmo tempo a população de alces se manteve em números mais controlados, girando por volta de mil.
Enquanto isso, na Europa, a Presidente da Comissão Europeia quer rever o estatuto de espécie protegida, para evitar que as grandes concentrações de matilhas ponham em causa a segurança.
Ao longo dos últimos anos, têm ocorrido diversos avistamentos de lobos em muitos países da Europa, maioritariamente reportados por agricultores, que perderam vários animais mortos por estes. “Estas concentrações de matilhas de lobos tornaram-se num verdadeiro perigo para o gado e também para os seres humanos”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, citado pela EuroNews. “Precisamos de atualizar as informações e dados relativamente a esta espécie, para que possamos tomar outras decisões”, garantiu. Há mais de um ano, a pónei de 30 anos de von der Leyen, Dolly, foi morta por um lobo, no nordeste da Alemanha.
Os lobos, que quase entraram em extinção, começaram a ter estatuto de espécie protegida nos anos 50, quando alguns países da Europa se chegaram à frente para assegurar a sua reserva. No entanto, só em 1992 é que foi oficialmente “adotada” pela Diretiva dos Habitats da União Europeia (UE), que proíbe a sua captura e matança. Algo que pode estar prestes a mudar.
A presidente da Comissão Europeia pediu “às autoridades locais e nacionais que agissem, quando achassem necessário” e que “as comunidades, cientistas e pessoas interessadas” ajudassem a recolher dados sobre os impactos do animal, até ao dia 22 de setembro.
Já os ministros do Ambiente não parecem estar de acordo com Ursula von der Leyen. No início do ano, 12 representantes de países europeus, Portugal incluído, escreveram uma carta ao Comissário Europeu para os Assuntos Marítimos e as Pescas, Virginijus Sinkevičius, a pedir para que “não se enfraquecesse a proteção dos lobos”.
Após estas declarações, também diversas organizações e ativistas ambientais criticaram tais decisões, dizendo que os lobos continuam sob ameaça e que reduzir a sua proteção ia prejudicar a sua longevidade.
Fontes: Mega Curioso, O Observador.
Imagem: Getty Images.