Um raro búfalo branco nasceu no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, e chega cumprindo uma profecia da tribo nativa Lakota, uma das maiores do país. Os indígenas acreditam que a vinda do animal é um presságio de tempos melhores, e, também, um sinal de que mais deve ser feito para proteger a natureza.
“O nascimento deste bezerro é ao mesmo tempo uma bênção e um aviso. Devemos fazer mais”, disse o chefe Arvol Looking Horse, o líder espiritual dos Lakota, em Dakota e dos Nakota Oyate em Dakota do Sul, de acordo com a NBC News.
Conta uma profecia dos índios Lakota que em algum momento regressará a nós a mulher do búfalo branco. Trata-se de uma wakan, uma mulher sábia portadora de magia que restaurará com seu poder a união entre todos os filhos da Mãe Terra. Sua chegada contribuirá também para devolver nosso equilíbrio com a natureza, para restaurar esse legado tão maltratado.
Há algo verdadeiramente maravilhoso em todas essas lendas dos povos nativos americanos. Não importa o quão antigas sejam, não importam os séculos que passaram nem que nós mesmos não tenhamos tais raízes étnicas ou culturais. Essas tradições sempre nos deixam ensinamentos sobre os quais refletir.
Para os nativos americanos, o nascimento de um búfalo branco é um símbolo de renascimento e harmonia mundial.
A lenda da mulher do búfalo branco já tem mais de 2000 anos de idade. É um relato originário da nação Lakota, um dos povos mais relevantes das chamadas Turtle Islands, na América do Norte.
Um dos difusores dessa maravilhosa lenda é Joseph Chasing Horse. Embaixador nas Nações Unidas do povo Lakota e Sioux, nunca perde a oportunidade de relatar essa profecia que atua como canal de união entre grande parte dos povos indígenas.
Conta essa profecia que a mulher do búfalo branco apareceu durante um período de muita fome, de guerras e desavenças entre vários povos. A história se inicia com dois jovens lakota, dois guerreiros que passeavam com seus cavalos magros buscando algo para caçar, quando de repente vislumbraram no horizonte uma figura feminina envolta em uma luz cálida, em uma bruma de fascinantes clarões de luz.
A mulher estava acompanhada de um búfalo branco. Era alta, esbelta e usava um vestido com bordados sagrados, uma pluma no cabelo e folhas de sálvia na mão. Era muito bonita, tanto que um dos jovens guerreiros não hesitou em aproximar-se dela com o desejo de possuí-la. No entanto, e antes que pudesse sequer tocar sua pele, uma nuvem escura pairou sobre ele disparando um raio de fogo. Ficou carbonizado em poucos segundos.
A mulher disse ao outro homem:
” Consideras aquilo que vês. Quem só vê a beleza física, jamais conhecerá a Beleza Divina. ”
O outro jovem guerreiro se ajoelhou imediatamente aterrorizado pensando que também teria a mesma sorte. No entanto, a bela mulher não hesitou em acariciar seu cabelo e falando o seu mesmo idioma. Ela disse que era uma wakan, uma mulher que tinha vindo para ajudá-los.
“Vá até seu chefe Chifre Oco Em Pé e diga-lhe que prepare uma tenda espaçosa para abrigar todo o seu povo e aguardar a minha chegada. Quero passar-lhes algo muito importante.”
A mulher santa foi recebida com muita expectativa no povoado lakota. Prepararam-lhe a melhor tenda e, ao acomodá-la no interior, a manhã se transformou em crepúsculo e uma luz de cor âmbar com raios rosados envolveu aquelas terras onde se estendiam a fome e a miséria. Apesar disso, as pessoas tentaram oferecer-lhe o que tinham de melhor: algumas raízes, alguns insetos, ervas secas e água fresca.
Depois disso, a mulher do búfalo branco ensinou ao povo lakota a fumar no cachimbo, lhes ofereceu tabaco de salgueiro vermelho de cortesia e os chamou para dar voltas ao redor das tendas para honrar o sol, para criar um círculo de paraça com a vida e agradecer. Mais tarde, apresentou uma série de práticas espirituais, formas de reverenciar a natureza, orando com palavras corretas e proferindo ritos ancestrais que o povoado lakota já tinha esquecido completamente.
Mesmo assim, ela os convidou a entoar cânticos para fazer a Terra feliz, melodias, versos e entoações que deviam ser dirigidas às quatro direções do universo. Lembrou também a importância de praticar a cerimônia do cachimbo da paz, onde homens e mulheres deveriam se reunir para honrar suas almas, para honrar o próprio grupo e sua união com o além.
A mulher do búfalo branco se despediu indicando-lhes que enquanto fizessem todas essas cerimônias sagradas e cuidassem da Terra, elas os protegeria. Antes de partir, trouxe do horizonte uma extensa manada de búfalos pretos. Eram tantos que as montanhas se cobriram de escuridão e o solo tremia debaixo dos pés, o mundo bombeava uma paraça de novo frente à chegada desses animais que representavam a sobrevivência para os nativos americanos. E a partir desse dia, o búfalo passou a fornecer carne para as pessoas, peles para suas roupas e tendas, e ossos para todas as suas ferramentas.
A mulher santa os deixou dizendo: Toksha ake wacinyanktin ktelo (que em português significa “eu os verei de novo”). Uma mensagem de esperança que até hoje muitos Lakotas repetem, sonhando com um regresso onde essa presença feminina consiga mais uma vez purificar o mundo, trazer harmonia, equilíbrio e espiritualidade para todas as nações.
Joseph Chasing Horse acrescentou que, para os Lakotas, a chegada de um filhote de búfalo branco com nariz, olhos e cascos pretos é semelhante à segunda vinda de Jesus Cristo. A lenda do seu povo diz, que em uma época em que as coisas não iam bem – a comida estava escassa e os búfalos estavam desaparecendo –, a Mulher Bezerro de Búfalo Branco apareceu, apresentou um cachimbo e um embrulho a um membro da tribo, ensinou-o a orar e disse que o cachimbo poderia ser usado para trazer búfalos. Ao sair, ela se transformou em um bezerro de búfalo branco.
“E algum dia, quando os tempos estiverem difíceis novamente, voltarei e permanecerei na Terra como um bezerro de búfalo branco, nariz preto, olhos pretos, cascos pretos”, apontou Looking Horse sobre a profecia.
Uma cerimônia para dar um nome ao filhote foi realizada em Yellowstone, mas o líder dos Lakota não revelou qual foi a escolha. E uma segunda, para comemorar o seu nascimento, está marcada para 26 de junho na sede da Buffalo Field Campaign, em West Yellowstone.
Troy Heinert, diretor executivo do InterTribal Buffalo Council, com sede em Dakota do Sul, observou à NBC News que outras tribos também reverenciam o búfalo branco. “Muitas tribos têm sua própria história sobre porque o búfalo branco é tão importante. Todas remontam a eles sendo muito sagrados”, apontou.
Raridade
O nascimento de búfalos brancos é raro, contudo, Jim Matheson, diretor executivo da National Bison Association, afirmou que não é possível quantificar o quão raro é. “Que eu saiba, ninguém jamais rastreou a ocorrência do nascimento de búfalos brancos ao longo da história. Portanto, não tenho certeza de como podemos determinar com que frequência isso ocorre.”
Heinert vê a chegada do animal como um lembrete “de que precisamos viver bem e tratar os outros com respeito”. “Espero que esse bezerro esteja seguro e viva da melhor maneira possível no Parque Nacional de Yellowstone, exatamente onde foi projetado para estar”, complementou.
A reportagem publicada pela NBC News informa que os funcionários do parque ainda não tinham visto o filhote e não puderam confirmar seu nascimento no parque, além de não terem registro de um búfalo branco nascido no local anteriormente.
Quem tornou o nascimento público foi a norte-americana Erin Braaten. Ela contou que visitava Yellowstone com sua família quando viu o bichinho no Vale Lamar, no canto nordeste do parque, em meio a uma manada de búfalos.
“Eu olho e é um bezerro branco. Eu fiquei totalmente chocada”, contou. A mulher tirou várias fotos do animal sagrado e o observou por cerca de 30 a 40 minutos. Ela ainda voltou ao local nos dias seguintes, na esperança, de reencontrá-lo, mas não teve sorte.
Fontes: Um Só Planeta, O Globo, Extra Online, ANDA.
Imagem: Divulgação.