A Negação da Ciência

No dia 22 de junho de 1633, o astrônomo Galileu Galilei, considerado por muitos o criador do método científico, recebia sua sentença frente a um tribunal da Inquisição. Pela acusação de defender o modelo de Copérnico, no qual a Terra girava em torno do Sol, Galileu foi considerado um herético, paraçado a repudiar as ideias heliocêntricas e sentenciado a prisão domiciliar, além de ter sua obra Diálogo incluída no Índice de Livros Proibidos, do Vaticano.

Pouco menos de 400 anos após esses acontecimentos, uma pesquisa do Instituto Datafolha, realizada em julho de 2019, apontou que 7% dos brasileiros acreditam que a Terra seja plana. O número representa um movimento que ganhou impulso nos últimos anos, o dos chamados terraplanistas, que questionam o formato esférico do planeta, noção que já era consenso até mesmo na época de Galileu.

Foi com o intuito de analisar o ressurgimento de movimentos de negação a resultados científicos como esse que o astrofísico romeno Mario Livio lançou, no início de maio, o livro Galileo and the Science Deniers (Galileu e os Negacionistas da Ciência, editora Simon & Schuster, a ser lançado em português pela editora Record), no qual faz uma nova leitura da vida e descobertas de Galileu e compara a resistência que ele enfrentou na época ao negacionismo existente hoje.

É fato aceito pela maioria da comunidade científica  que as mudanças climáticas são produzidas pela atividade humana, gerando graves consequências para o meio ambiente.

As pandemias estariam ligadas às mudanças climáticas e, principalmente, à perda do habitat natural de animais silvestres devido ao desmatamento; esses animais, então, aproximar-se-iam de assentamentos humanos, transmitindo doenças.

Há pensadores que compreendem a crise climática como geradora desses eventos e há ainda, infelizmente, os que seguem às voltas com dilemas do século XX, nos quais o dogma do crescimento é construído sobre a possibilidade de explorar infinitamente os recursos de um planeta com recursos finitos.

Os céticos argumentam, entretanto, que o clima da Terra é cíclico, alternando períodos de resfriamento e aquecimento, razão pela qual não se pode atribuir a causa deste último ao aumento do efeito estufa pela ação humana.

Diante das questões antes expostas, é possível concluir que a negação da realidade passa pela rejeição aos métodos científicos empregados até o momento para chegar às conclusões aceitas globalmente, ao menos no que tange às mudanças climáticas. Pode denotar ainda falta de confiança na ciência decorrente do desconhecimento sobre como opera o método científico.

O relatório da organização britânica Wellcome Trust, publicado em 2019, analisou os níveis de compreensão, interesse e confiança na ciência em uma amostra de 140 mil indivíduos pertencentes a mais de uma centena de países. No Brasil, por exemplo, as convicções religiosas têm primazia, para 75% dos entrevistados, quando há um confronto entre ciência e religião. Nos Estados Unidos, esse percentual corresponde a 60%.

Assim, integrantes de movimentos on-line dedicados a conspirações sobre a pandemia da covid-19 estão mudando seu foco e agora espalham cada vez mais informações falsas sobre as mudanças climáticas. As postagens vão muito além do debate e da crítica política, elas são cheias de informações incorretas, histórias falsas e pseudociência.

Por isso, o desafio que se impõe aos jovens cientistas é imenso, e o fortalecimento da confiança na ciência dependerá do diálogo e das estratégias de aproximação que pesquisadores e instituições se propuserem a realizar com a sociedade. Aos estudantes de graduação que se engajarem nos projetos de Iniciação Científica, por exemplo, compete aceitar a tarefa de difundir o conhecimento científico, superando as barreiras que separam a academia do cidadão comum.

Fontes: Unifest, BBC News, Adunicamp, Epoca Negócios, Folha SP.

 

2 Comments

  1. bernardo oliveira said:

    A raça humana têm dado passos (largos) no rumo da ignorância.

    08/12/2021

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