Acidentes com abelhas crescem 24% em 2022 no Brasil

O desmatamento e o uso indiscriminado de agrotóxicos estão alterando o comportamento do inseto que equilibra a vida no planeta.

Seu José, de 70 anos, ainda se recupera. Ele levou cerca de 500 picadas de abelhas em uma praça de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul.

O comerciante Manuel João de Oliveira ajudou no socorro: “Como eram muitas abelhas, eu não conseguia, não vencia. Até que um rapaz veio com uma tocha, um pano com fogo, e conseguimos tirar um pouco das abelhas de cima.”

Em outra cidade do estado as abelhas entraram no quintal de uma casa e atacaram a moradora, que conseguiu escapar. Dois cachorros dela morreram.

“Nunca tentem remover o enxame. Liguem 193, para o Corpo de Bombeiros, ou para um apicultor. Esses profissionais irão remover esse enxame, essa colmeia, e levar para o ambiente natural, correto”, explica o coronel do Corpo de Bombeiros Humberto Matos.

Ruídos e cheiros podem provocar ataques

“Um odor ou um simples perfume podem fazer com que elas se irritem. Um barulho de um som de veículo, de um cortador de grama, de uma motosserra também pode fazer com que elas ataquem”, diz Matos.

Em 2022, os acidentes com abelhas cresceram 24% no país, segundo o Ministério da Saúde. As mortes pela picada do inseto tiveram alta de 64%. Este ano não teve óbito, mas já foram registrados 193 ataques.

“A floração acaba fazendo com que as colmeias se alimentem, se nutram com grande oferta de alimentos, e isso faz com que os enxames cresçam muito. Então, tem uma taxa de reprodução muito alta, e aí ocorre um fenômeno que é natural das espécies das abelhas, que é o que a gente chama de enxameação. Ou seja: enxames muito grandes acabam se dividindo”, afirma o biólogo Isaías Pinheiro

Fatores provocados pelo homem também contribuem

“A urbanização invade os locais. Uso de agrotóxico, acabam ocupando ambientes que são naturais delas, e aí elas acabam migrando para cidade”, explica Pinheiro.

Após a picada, sintomas como tosse e dores abdominais exigem atenção.

“O cardiocirculatório, que vai se manifestar por queda de pressão, que vai desde uma sensação de fraqueza, até mesmo, um desmaio, estamos diante de uma reação alérgica grave que chamamos de reação anafilática e potencialmente fatal. Então, deve ser atendida o mais rapidamente possível em um serviço de urgência/emergência”, diz o médico alergista Adolfo Adami.

Acidentes por abelha cresceram 126% na última década

Durante a última década, a quantidade de acidentes com abelhas notificados no Brasil, cresceu 126%. Entre 2013 e 2022, a quantidade de notificações, por ano, passou de 10,7 mil para 24,2 mil. Os dados são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação divulgados pelo Ministério da Saúde.

A região Nordeste é a que apresenta o maior crescimento de notificações, 363% em dez anos. Além disso, desde 2018, passou a liderar com maior quantidade de casos totais. No ano passado, a quantidade de notificações de ataques por abelhas só ficou atrás do registrado de escorpiões, aranhas e cobras.

Pernambuco é o estado com maior número de mortes e também de notificações, chegando a quase quatro mil casos. Já o Rio Grande do Norte tem a maior taxa de incidência. São 45 casos por 100 mil habitantes. Em relação à taxa de letalidade, a maior quantidade de óbitos ficou na região Centro-Oeste.

Atualmente são conhecidas cerca de 20 mil espécies de abelhas, mas as chamadas “africanizadas” são as principais responsáveis pelos relatos de acidente.

No caso de um ataque com poucas picadas, pode haver inflamação local ou até uma forte reação alérgica. Mas se as abelhas picarem um mesmo indivíduo mais de 100 vezes, por exemplo, pode haver insuficiência respiratória, renal, hipertensão ou até mesmo infarto.

Fontes: G1, Rádio Agência Brasil.

Foto: JN.