A decisão da Agência Internacional de Investigação do Câncer (IARC na sigla inglesa), foi finalizada este mês, após uma reunião de peritos e uma análise de 1.300 estudos sobre a matéria, e será conhecida oficialmente a 14 julho.
O aspartame será classificado como “possivelmente cancerígeno” pela IARC, que faz parte da Organização Mundial da Saúde (OMS). O adoçante, que tem poucas calorias (mas é 200 vezes mais doce que o açúcar) é utilizado em produtos como refrigerantes sem açúcar (a Coca-Cola Zero, por exemplo) e algumas pastilhas elásticas.
A utilização do aspartame tem sido autorizada a nível mundial pelos diversos reguladores de saúde, dentro de limites razoáveis que têm em conta a quantidade ingerida e o peso da pessoa, sendo que os principais fabricantes de alimentos e bebidas defendem há décadas o uso deste ingrediente.
A decisão da IARC foi finalizada este mês, após uma reunião de peritos e uma análise de 1.300 estudos sobre a matéria, e será conhecida oficialmente a 14 julho. A medida partiu principalmente do comité da OMS para aditivos na comida (JECFA na sigla inglesa) que irá anunciar também as conclusões sobre o adoçante no mesmo dia, revela a Reuters.
Um porta-voz da IARC afirmou que as conclusões de ambas as instituições são “complementares”, acrescentando que a deliberação da Agência é “o primeiro passo fundamental para compreender a carcinogenicidade”. Já o comité para aditivos “efetua uma avaliação dos riscos, que determina a probabilidade de ocorrência de um tipo específico de dano (câncer, por exemplo) em determinadas condições e níveis de exposição”.
Devido às deliberações serem feitas na mesma data, o governo do Japão pediu a 27 de março, numa carta a que a Reuters teve acesso, que “os organismos coordenem os seus esforços na revisão do aspartame para evitar qualquer confusão ou preocupação entre o público”.
Em 2022, um estudo com uma amostra de 100 mil adultos franceses mostrou que quem consumia grandes quantidades de adoçantes artificiais, incluindo aspartame, tinham um risco de câncer ligeiramente superior.
Esta investigação foi complementada por um estudo do Instituto Ramazzini, no início da década de 2000, que indicava que alguns cânceres em ratos e ratazanas estavam associados ao aspartame. No entanto, não se conseguiu provar que o aspartame causava o aumento do risco de câncer e foram levantadas várias questões sobre a metodologia usada nesse estudo, nomeadamente pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos.
Em 2015, a Pepsi retirou o aspartame dos refrigerantes, trazendo-o de volta um ano depois devido a protestos dos consumidores, apenas para retirá-lo definitivamente em 2020.
Segundo fontes da Reuters, esta nova classificação serve para fomentar a investigação empírica e informar consumidores e produtores da melhor forma.
Anvisa avalia nova diretriz da OMS sobre adoçantes
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que vai avaliar, junto ao Ministério da Saúde e demais entes do governo, além de atores não governamentais, a nova diretriz da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre adoçantes sem açúcar. Na última segunda-feira (15), o órgão das Nações Unidas publicou uma nota em que desaconselha o uso desse tipo de produto para controle de peso ou como estratégia para reduzir o risco de doenças não transmissíveis.
Em comunicado, a Anvisa destacou que o estudo da OMS não tem como objetivo rever o perfil de segurança dos adoçantes sem açúcar. “A recomendação é condicional, já que há necessidade de reunir mais informações sobre as consequências versus os benefícios da sua adoção, sugerindo aos países que ampliem a discussão em seus territórios, incluindo dados sobre a extensão de consumo dessas substâncias pela população nacional”.
“É importante destacar que o uso de adoçantes no Brasil deve ser autorizado pela agência, que realiza avaliações de segurança desses produtos. A análise é realizada com base nas diretrizes do Comitê de Especialistas em Avaliação de Segurança de Aditivos Alimentares da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da OMS.”
Entenda
A recomendação da OMS é baseada em resultados de uma revisão sistemática de evidências disponíveis que sugerem que o uso de adoçantes sem açúcar não confere nenhum benefício a longo prazo na redução da gordura corporal em adultos ou crianças. A lista inclui aspartame, sacarina, sucralose, stevia e derivados.
Os resultados da revisão, segundo a organização, também sugerem que pode haver efeitos potenciais indesejáveis provenientes do uso prolongado de adoçantes, como risco aumentado de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, cânceres e mortalidade em adultos.
Ainda de acordo com a entidade, o ato de substituir o açúcar por adoçantes não ajuda no controle de peso a longo prazo. A OMS pede que as pessoas considerem outras formas de reduzir a ingestão de açúcar, como consumir frutas e outros alimentos naturalmente adoçados, além de alimentos e bebidas sem nenhum tipo de açúcar.
“A recomendação se aplica a todas as pessoas, exceto indivíduos com diabetes pré-existente, e inclui todos os adoçantes sintéticos, naturais ou modificados que não são classificados como açúcares encontrados em alimentos e bebidas industrializados ou vendidos separadamente em alimentos e bebidas.”
Fontes: Observador, Agência Brasil.
Foto: Afonso Camargo/Agência Brasil.