O Mar Mediterrâneo está se aquecendo de forma preocupante. Embora para muitos seja um prazer mergulhar em águas cada vez mais quentes, os especialistas advertem de que este é um sinal claro de que o Mediterrâneo não está bem.
Segundo os cientistas, a temperatura da água desde Tel Aviv até à Riviera Francesa ou Barcelona subiu entre 3 e 5 graus acima do normal para esta época do ano. As temperaturas da água atingiram 30°C em alguns dias. E os efeitos já são visíveis.
Joaquim Garrabou, investigador do Instituto das Ciências Marinhas de Barcelona, confirma: “Estamos a receber informações de diferentes lugares no Mediterrâneo, tais como Maiorca e algumas zonas da Sardenha, onde já se observam fenómenos de mortalidade massiva de algumas espécies, como corais, esponjas e algas. Está também a afetar instalações de aquacultura; por exemplo, as explorações de mexilhões estão a sofrer as consequências desta onda de calor marinho. Ou melhor, esta onda de calor no ar”.
Garrabou diz que os impactos da mortalidade foram observados entre a superfície e uma profundidade de 45 metros, onde as ondas de calor marinhas registadas foram excecionais, afetando mais de 90% da superfície do Mar Mediterrâneo.
Algumas das espécies mais afetadas são fundamentais para manter o funcionamento e a biodiversidade dos principais habitats costeiros.
Estas incluem prados de ervas marinhas Posidonia oceânica ou conjuntos de corais, dois dos habitats mais emblemáticos do Mediterrâneo.
Um estudo realizado por 30 cientistas de 11 países com costa no Mediterrâneo, concluiu que as ondas de calor entre 2015 e 2019 afetaram mais de 50 espécies, causando em muitos casos mortes maciças.
Entre 1982 e 2018, a temperatura deste mar aumentou 0,4 graus a cada década. Numa base anual, tem vindo a aumentar cerca de 0,05C durante a última década, sem qualquer sinal de abrandamento.
As ondas de calor ocorrem quando as temperaturas extremas são mantidas durante um determinado número de dias, sem chuva ou vento. As ondas de calor terrestres ajudam a causar ondas de calor marinhas e depois as duas tendem a alimentar-se uma à outra num círculo vicioso.
“As ondas de calor marítimas no Mediterrâneo são cada vez mais frequentes, extensas e de maior magnitude. O que antes eram episódios excecionais estão infelizmente a tornar-se o novo normal”, diz Joaquim Garrabou.
Apesar de representar menos de 1% da superfície global do oceano, o Mediterrâneo é um dos principais reservatórios da biodiversidade marinha, contendo entre 4% e 18% das espécies marinhas do mundo.
Mas está também no topo da lista dos mares e oceanos que mais rapidamente aquecem.
Especialistas e organizações ambientalistas pedem que 30% do mar seja protegido da atividade humana para dar às espécies uma oportunidade de recuperação.
Atualmente, apenas 8% da área mediterrânica está protegida em graus variáveis.
A comunidade científica estima que se não houver melhorias nas emissões de carbono, até ao final do século XXI, a temperatura do Mar Mediterrâneo subirá entre 1,5 e 3 graus.
Fonte: Euronews