Água salgada vai contaminar 3 em cada 4 reservas subterrâneas até 2100

A intrusão de água salgada em reservas subterrâneas costeiras ameaça deixar a água imprópria para consumo e irrigação, além de prejudicar ecossistemas e corroer infraestruturas. Um estudo do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL) revelou que, até 2100, esse fenômeno poderá ocorrer em 77% das áreas costeiras do mundo.

A pesquisa, publicada na revista Geophysical Research Letters, avaliou mais de 60 mil bacias hidrográficas costeiras e analisou o impacto combinado da elevação do nível do mar e da redução na recarga de águas subterrâneas — dois efeitos do aquecimento global.

A intrusão de água salgada ocorre naturalmente nas zonas de transição entre águas doces subterrâneas e o oceano, mas o aumento do nível do mar e a menor recarga de águas subterrâneas estão desequilibrando essa interação. “Dependendo de onde você está e de qual fator domina, as implicações para o manejo podem mudar”, explicou Kyra Adams, cientista do JPL, da Nasa, e autora do estudo, em comunicado.

Em áreas onde a menor recarga predomina, como na Península Arábica e na Baixa Califórnia, a intrusão pode avançar até 1,2 km terra adentro. Já regiões de baixa altitude, como o sudeste asiático e a costa do Golfo do México, são mais vulneráveis ao avanço da água salgada devido à elevação do mar.

Por isso, o estudo ressalta a importância de estratégias de manejo específicas. Em locais onde a recarga reduzida é a principal causa, proteger as reservas subterrâneas pode ser crucial. Já em áreas onde o aumento do nível do mar é a maior ameaça, desviar as águas subterrâneas se mostra uma solução viável.

“Os países com menos recursos são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Essa estrutura global pode fazer a diferença”, afirmou Ben Hamlington, coautor do estudo e membro da equipe de Mudança do Nível do Mar da Nasa.

O estudo, destaca a intrusão de água salgada, um processo no qual a água do mar avança sobre as reservas de água doce localizadas abaixo do solo. Sob condições normais, a pressão do oceano e a recarga natural dos aquíferos por chuvas mantêm um equilíbrio delicado entre a água salgada e a doce. No entanto, as mudanças climáticas estão alterando essa dinâmica, com o aumento do nível do mar intensificando a pressão da água salgada e a menor precipitação reduzindo a reposição das reservas de água doce.

Pesquisadores analisaram mais de 60 mil bacias hidrográficas ao redor do mundo para mapear os impactos combinados desses fatores. Isoladamente, a elevação do nível do mar deve expandir a zona de intrusão em 82% das bacias avaliadas, afetando regiões costeiras dos Estados Unidos, Sudeste Asiático e Golfo do México. Já a diminuição na recarga das águas subterrâneas deve provocar a intrusão em 45% das áreas estudadas, sendo as mais afetadas a Península Arábica, Austrália Ocidental e península da Baixa Califórnia, no México.

Os efeitos combinados revelam uma realidade alarmante: a contaminação de aquíferos por água salgada não será uniforme. Enquanto algumas áreas enfrentarão uma penetração modesta da zona de transição, outras podem sofrer deslocamentos de até 1,2 quilômetros para o interior. A extensão do impacto dependerá da prevalência de um dos fatores: elevação do nível do mar ou diminuição na recarga.

O estudo sugere estratégias regionais para mitigar os danos. Em locais onde a recarga mais lenta é o principal problema, proteger os aquíferos e otimizar o uso da água subterrânea pode ser uma solução. Já em áreas onde o aumento do nível do mar exerce maior pressão, estratégias como o desvio e armazenamento da água podem ser mais eficazes.

A pesquisa também destaca as disparidades globais no impacto da intrusão de água salgada. Países com menos recursos e infraestrutura para monitoramento e gestão serão os mais prejudicados. O uso de modelos como o desenvolvido neste estudo pode ajudar na criação de políticas públicas adaptadas às condições locais, oferecendo uma ferramenta valiosa para regiões vulneráveis.

O avanço da intrusão de água salgada é mais um alerta para a urgência de ações climáticas. Além de ameaçar a segurança hídrica, o fenômeno reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura resiliente e gestão sustentável dos recursos hídricos. Com o nível do mar em constante elevação e os padrões climáticos cada vez mais imprevisíveis, o futuro dos aquíferos costeiros dependerá das escolhas feitas agora.

Fontes: Revista Galileu, Um Só Planeta, eCycle..

Imagem: Ross Sokolovski no Unsplash

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