Logo na primeira linha, uma reportagem do site americano Vox ensina como pronunciar uma palavra que pode ser nova para muitos de seus leitores: “pronuncia-se DEN-gay”, diz o texto, originalmente em inglês.
Velha conhecida dos brasileiros, a dengue virou assunto na imprensa americana e europeia durante a crise sem precedentes que atinge o Brasil.
O número de casos de dengue em 2024 no país é recorde na série histórica oficial — e o total registrado (casos prováveis e confirmados) se aproxima dos 2 milhões em meados de março, segundo o Ministério da Saúde.
As reportagens em veículos estrangeiros discutem, principalmente, o que o avanço recorde de casos dengue no Brasil e em outros lugares significa para a saúde global nos próximos anos.
O New York Times fala em “prenúncio de uma crise de saúde para as Américas” e o Washington Post, que chama a crise de dengue no Brasil de “impressionante”, diz que é “um alerta para o mundo”.
‘Alerta para o mundo’
Reportagem do Washington Post publicada em março diz que “o aprofundamento da crise de saúde pública, segundo os epidemiologistas, serve de alerta para o mundo”.
Assinada pelos correspondentes Marina Dias e Terrence McCoy, a reportagem relata a busca de moradores nos arredores de Brasília por um leito hospitalar.
A reportagem diz que “a luta contra a doença entrou numa nova fase imprevisível e perigosa” e destaca que a dengue está, ao mesmo tempo, chegando a lugares onde nunca esteve e, onde está presente há muito tempo, o número de casos sobe a níveis inéditos.
Atribuindo a opinião a epidemiologistas, a reportagem diz que a atual crise “provavelmente é apenas o começo”.
“Nos próximos anos, com as mudanças climáticas impulsionando o alcance do mosquito Aedes aegypti, a doença poderá se tornar cada vez mais prevalente, até mesmo endêmica, em grande parte do sul da Europa e no sul dos Estados Unidos.”
‘Amostra do futuro’?
A reportagem do site Vox sobre o tema — principal destaque do portal em 14 de março — diz que a velocidade “sem precedentes” do avanço da dengue no mundo é um “exemplo preocupante de como as mudanças climáticas e as tendências demográficas do século 21 podem rapidamente transformar um problema de saúde pública numa assustadora crise de saúde global”.
Escrita por Dylan Scott, que cobre saúde global, a reportagem menciona a ocorrência da dengue em outros países, como Bangladesh, e menciona que o Brasil viu no início de 2024 “a propagação mais rápida do vírus já registrada no país”.
Também menciona a campanha brasileira de vacinação, mas pondera que não há “vacinas suficientes disponíveis para erradicar o surto no Brasil tão cedo”.
O texto também diz que “a competição pelas vacinas poderá aumentar nos próximos anos” e cita que “mais vacinas candidatas estão em desenvolvimento, incluindo uma versão de dose única potencialmente revolucionária que está sendo produzida pelo brasileiro Instituto Butantan”.
O texto aponta que a dengue tem se espalhado inclusive por regiões onde era rara ou nunca havia sido registrada — inclusive nos Estados Unidos.
“No ano passado, a Califórnia descobriu sua primeira transmissão local de dengue. Nos últimos anos, foram notificados casos pela primeira vez em França, Croácia, partes subtropicais de África e Afeganistão.”
“Essas duas tendências devem se intensificar nos próximos anos – o que significa que os atuais surtos de dengue, que bateram recordes, podem ser apenas uma amostra do futuro.”
As temperaturas mais altas e as mudanças nos padrões climáticos facilitam a proliferação dos mosquitos transmissores da dengue, diz a reportagem, após referência à Organização Mundial da Saúde (OMS).
O New York Times também destacou os resultados da vacina do Instituto Butantan, dizendo que naquele momento se tratava da “única boa notícia sobre a dengue no Brasil”.
E, ao falar dos casos graves de dengue, fez uma menção às dificuldades enfrentadas durante a pandemia de coronavírus.
“Centros médicos no Brasil estão criando leitos extras para pessoas com dengue grave, na esperança de evitar o tipo de sobrecarga dos sistemas de saúde que ocorreu durante a pandemia de covid-19 e de evitar mortes por dengue.”
No alemão Der Spiegel, ganhou destaque o uso de uma bactéria, chamada Wolbachia, inserida em Aedes aegypti criados em laboratório, que são soltos na natureza para que se reproduzam e passem para frente a bactéria – que bloqueia a transmissão de doenças.
Fonte: BBC News.
Foto: Getty Images.