Alterações climáticas impulsionam conflitos e crimes de guerra?

Quando se começou a falar nas alterações climáticas, surgiram previsões de que ‘no futuro haveria guerras em razão do fenômeno’ ou que haveria ‘milhares de refugiados do clima’.

A mudança climática pode alimentar os conflitos em países com contextos políticos mais frágeis e provocar um aumento do número de mortes relacionadas, afirma o FMI (Fundo Monetário Internacional) em um relatório divulgado no mês de setembro.

Embora a mudança climática não seja diretamente identificada como um detonador da guerra, o FMI considera que “agrava, consideravelmente, os conflitos e as dificuldades relacionadas”, como a fome, a pobreza e os deslocamentos paraçados.

Os efeitos do aquecimento global no cenário natural do mundo com frequência provocam mudanças geopolíticas que ameaçam desestabilizar regiões já vulneráveis, como o Chifre da África.

As pressões sobre os recursos naturais enfraquecem a capacidade das nações se governarem e aumentam as chances de ocorrerem conflitos. Quando comparada com outros fatores de risco para a segurança internacional, a mudança climática pode servir de base para modelos com um grau de certeza relativamente alto. Porém, entre a previsão e prevenção, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

O ritmo atual da mudança climática – mares mais altos, redução do gelo no Ártico, derretimento de geleiras, variabilidade extrema das chuvas, e maior frequência e intensidade das tempestades – são cenários que as sociedades humanas estabelecidas nunca haviam vivenciado.

Essas dinâmicas afetarão os recursos fundamentais dos quais as pessoas e as nações – e a ordem mundial construída nessas nações – dependem para sua sobrevivência, segurança e prosperidade: principalmente alimentos e água. Esses impactos já estão contribuindo para o aumento da fragilidade e dos problemas de segurança dos Estados em regiões estratégicas por todo o mundo – os conflitos no Oriente Médio e na África, as tensões sobre a indústria pesqueira no Mar da China Meridional, e um novo campo de batalha político e econômico em um Oceano Ártico que vem degelando.

A mudança climática, ao transformar o cenário natural do mundo, também altera o seu cenário geopolítico. Se os governos forem incapazes de mitigar esse processo, os riscos de conflito e de instabilidade aumentarão e se tornarão mais difíceis de administrar. Esse é o caso de muitas regiões ao redor do mundo. Contudo, o Chifre da África é particularmente vulnerável, dada uma combinação de fragilidades estruturais e da exposição significativa aos riscos da mudança climática. Isso aumenta a probabilidade de conflitos e a instabilidade na península.

Até 2060, as mortes relacionadas com conflitos poderão aumentar 8,5% nos Estados de “fragilidade, conflito e violência” (chamados pela sigla FCV) e até 14% nos países que enfrentam um aumento extremo das temperaturas, afirma o relatório.

No total, 39 países, onde vivem quase 1 bilhão de pessoas e 43% das mais pobres do mundo, são classificados como FCV pelo Banco Mundial. Mais da metade desses países, afetados de maneira desproporcional pela mudança climática, está na África.

O FMI alerta que mais de 50 milhões de pessoas nestes países poderão passar fome até 2060, devido à diminuição da produção alimentar combinada com o aumento dos preços.

As perdas econômicas causadas pelas crises climáticas são mais “graves e persistentes” nos países frágeis do que nos demais Estados, acrescenta o relatório.

A uma semana da primeira Cúpula Africana de Ação Climática, o FMI pede aos líderes que proponham soluções para as nações mais vulneráveis.

“Todos os anos, três vezes mais pessoas se veem afetadas por desastres naturais em Estados frágeis do que em outros países. Os desastres em Estados frágeis deslocam mais do que o dobro da população de outros países”, lê-se no site do FMI.

“O calor extremo e os fenômenos meteorológicos extremos mais frequentes que o acompanham vão pôr a saúde humana e prejudicarão a produtividade e o emprego em setores-chave como a agricultura e a construção”, ressalta a instituição.

Fonte: Folha SP, Mar Sem Fim.

Imagem: www.zurich.com.