Last updated on 10/02/2022
A destruição de áreas de floresta na Amazônia continua apresentando índices alarmantes. No período de agosto de 2018 a julho de 2021, o desmatamento no bioma aumentou 56,6% em relação ao mesmo período em anos anteriores. O Pará segue como o estado que possui as áreas mais críticas de desmatamento desde 2017.
O levantamento foi feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), publicado na última quarta-feira, 2 de fevereiro e coincide com os do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), o que representa uma área de floresta de 10.476 km², território seis vezes maior do que a cidade de São Paulo. A pior marca dos últimos dez anos.
Em julho de 2021, o monitoramento do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Imazon já havia detectado 2.095 km² de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 80% em relação a julho de 2020, quando o desmatamento somou 1.163 km².
Números do Sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), indicam que, somente nas três primeiras semanas de janeiro, o desmatamento na Amazônia atingiu 360 km², área maior do que a cidade de Belo Horizonte (MG).
Embora a atualização da plataforma mantida pelo INPE com avisos de desmatamento vá somente até dia 21 de janeiro, a área perdida na Amazônia até este dia já é maior do que qualquer janeiro completo desde 2015.
No ranking de estados desmatadores, o Mato Grosso ficou na primeira posição, com 118 km² desmatados. Rondônia aparece em segundo lugar, com 99 km² desmatados, seguido por Pará (52 km²), Roraima (41 km²), Amazonas (40 km²), Acre (9 km²) e Maranhão (1 km²). Tocantins e Amapá não registraram desmatamento, segundo a plataforma Terra Brasilis.
Para especialistas, os dados podem indicar um risco elevado de que 2022 se torne outro ano devastador para a Amazônia, bioma que tem registrado recordes seguidos de desmatamento desde o início do atual governo. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, a floresta perdeu 13.235 km², maior número em 15 anos.
Para o Ipam, o avanço do desmatamento na Amazônia ficou mais evidente a partir do início de 2019, por meio do enfraquecimento de órgãos de fiscalização, falta de punição a crimes ambientais e redução significativa de ações imediatas de combate e controle de atividades ilegais na região.
De acordo com a pesquisa, mais da metade (51%) do desmatamento dos últimos três anos ocorreu em terras públicas. 83% foi em áreas de domínio federal. Parte da devastação se concentra no entorno de duas rodovias federais que atravessam o norte de Mato Grosso e o oeste do Pará.
Dos territórios afetados, as chamadas Florestas Públicas Não Destinadas foram as mais atingidas, considerando a proporção territorial, com alta de 85% na área desmatada, passando de 1.743 km² derrubados anualmente para mais de 3.228 km². No último ano, essa categoria de floresta pública concentrou um terço de todo o desmatamento no bioma, explicam os pesquisadores.
Em Terras Indígenas (TIs), houve alta de 153%, em média, no desmatamento, o que equivale a uma área de 1.255 km². No mesmo período em anos anteriores, a área era de 496 km².
Já o desmatamento em unidades de conservação (UCs) teve aumento proporcional de 63,7%, com 3.595 km² derrubados no último triênio contra 2.195 km² nos três anos anteriores. Apenas nas unidades de conservação estaduais, foram destruídos 690 km², 24% a mais do que em 2020. Também o pior acumulado em 10 anos.
“Estamos subindo degraus rápido demais quanto à destruição da Amazônia. Quando olhamos para os números dos últimos três anos, fica claro o retrocesso daquilo que o Brasil foi um dia. Seguimos um caminho totalmente oposto às atitudes que o planeta precisa, com urgência, neste momento”, declara Ane Alencar, diretora de ciência no IPAM e principal autora do estudo.
Enquanto isso, o Ibama executou apenas 41% do seu orçamento disponível para fiscalização ambiental em 2021. Ao todo, foram gastos apenas 88 milhões dos 219 milhões de reais que o órgão ambiental tinha à sua disposição para realizar operações e combate a ilícitos ambientais. A execução de menos da metade do orçamento está longe de ser típica. Nos governos anteriores, o Ibama costumava liquidar entre 86% e 92% dos recursos para a fiscalização.
Os dados foram levantados pelo Observatório do Clima e divulgados em relatório publicado na terça-feira, 1 de fevereiro. O relatório anual, o terceiro produzido pelo Observatório sobre a gestão do atual governo, foi intitulado “A conta chegou – o terceiro ano de destruição”
O estudo alerta que a tendência é que o desmatamento cresça ainda mais caso sejam aprovados projetos de lei que estão em discussão no Congresso e que defendem a regularização de áreas desmatadas e atividade de exploração mineral em Terras Indígenas.
O Ipam recomenda que sejam elaboradas estratégias regionais robustas integradas aos planos estaduais de prevenção e controle do desmatamento. Além disso, os pesquisadores reforçam que é preciso priorizar as investigações sobre crimes ambientais.
.Fontes: BBC News, R7, G1, Imazon, Folha SP, Oeco.