As casas que estão sendo construídas com Cannabis

Em busca de materiais sustentáveis, arquitetos estão se voltando para uma fonte incomum: o cânhamo, uma variedade da planta Cannabis sativa e uma espécie de versão industrial sem os agentes psicoativos, que está rapidamente se tornando um material de construção sustentável muito procurado.

A planta tem crescimento rápido e é um recurso renovável, com propriedades de captura de carbono.

Quando utilizada na construção, assume a forma de “hempcrete” (também conhecido como concreto de cal e cânhamo), um produto robusto feito pela mistura do miolo lenhoso do vegetal com um aglutinante feito de água e cal.

Ele tem uma alta massa térmica, tornando-o uma forma de isolamento ideal que melhora a eficiência energética dos edifícios e reduz as emissões de gases de efeito estufa ao longo do tempo.

A diferença do cânhamo para a maconha é o teor da substância psicoativa THC (tetrahidrocanabinol). No cânhamo, ele é muito baixo (menor que 0,33%) ou inexistente. Na maconha, ele é mais alto — embora também varie, dependendo se o cultivo é para saúde ou para recreação.

O cânhamo é cultivado há séculos para uso industrial de suas fibras, especialmente no setor têxtil. No Brasil, no entanto, seu cultivo é proibido.

Com crescimento rápido, baixo consumo de água e propriedades de captura de carbono, o cânhamo tem sido cada vez mais usado na construção na forma de concreto de cânhamo, ou hempcrete — um material resistente feito pela mistura do núcleo lenhoso da planta com um aglutinante feito de água e cal.

O hempcrate tem um ótimo isolamento térmico, o que melhora a eficiência energética dos edifícios e reduz as emissões de gases de efeito estufa ao longo do tempo. Ele também continua a absorver carbono ao longo de sua vida.

Alta demanda por materiais sustentáveis

Os materiais sustentáveis estão em alta demanda, pois a indústria da construção visa reduzir sua pegada de carbono. Prédios e construções são responsáveis por aproximadamente 37% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2).

Isso se deve à forte dependência da indústria de combustíveis fósseis; de materiais cuja produção libera muito carbono, como concreto, aço e vidro; além dos gases de efeito estufa emitidos no aquecimento e resfriamento dos prédios.

Além de ser renovável, o cânhamo captura carbono do ar durante seu crescimento, o que o torna uma alternativa sustentável. Segundo a Comissão Europeia, um hectare (10 mil m²) de cânhamo sequestra entre nove e 15 toneladas de CO2 e leva apenas cinco meses para crescer — o que significa que é melhor do que a silvicultura (crescimento de florestas) comercial usada tipicamente para sequestro de carbono.

Além disso, a produção de cânhamo é indicada para remover metais pesados do solo e para ajudar a regenerá-lo.

“Otimizar a maneira como projetamos, construímos e renovamos nossos edifícios tem um papel crítico a desempenhar na redução das emissões”, diz Yetunde Abdul, chefe de ação climática do Conselho Green Building do Reino Unido.

“Uma parte importante da solução envolve explorar alternativas naturais de baixo carbono para materiais de construção vitais, como concreto de cânhamo ou madeira”.

Mas uma série de desafios deve ser superada antes que o cânhamo possa ser usado em larga escala na indústria da construção. Isso inclui mudanças em regulamentações governamentais, certificações técnicas, financiamento e infraestrutura para aumentar a produção industrial de cânhamo, além da simplificação das cadeias de suprimentos e de esforços para torná-lo mais acessível.

Hoje, na forma de hempcrete, a planta é usada principalmente por arquitetos com mentalidade ecológica e alto orçamento na Europa e na América do Norte, principalmente devido a questões de legislação. Nessas regiões, a produção de cânhamo tem sido regulamentada e se desenvolvido conforme caem as restrições em torno do cultivo da cannabis.

Renascimento

O hempcrete não é uma novidade: tem sido usado na construção há milhares de anos.

No entanto, o século passado viu o surgimento de materiais de construção mais modernos e a criminalização do cultivo de cânhamo devido à sua associação com o uso recreativo de cannabis.

Na França, no entanto, o cultivo de cânhamo nunca foi proibido, o que contribuiu para que o país se tornasse um dos líderes globais em cânhamo industrial.

Após o renascimento moderno do concreto de cânhamo no final do século 20, vários projetos de construção usando o material foram feitos em todo o país.

Em 2020, um bloco de habitação social de sete andares foi concluído em Paris, onde o concreto de cânhamo foi usado como material de isolamento primário, acompanhado por uma estrutura de madeira. O escritório de arquitetura por trás do projeto, Barrault Pressacco, já havia usado concreto de cânhamo ocasionalmente na década anterior, mas o prédio habitacional foi o momento de uso do material em maior escala.

O futuro da construção

Apesar dos desafios, o uso do hempcrete está em ascensão, concentrado principalmente na Europa e na América do Norte. Segundo a Comissão Europeia, a área de terra da UE dedicada ao cultivo desse material aumentou em 75% entre 2015 e 2019, com a França sendo responsável por 70% da produção total.

Embora outros países possam estar mais hesitantes em adotá-lo como um produto agrícola e de construção, é possível haver uma aceleração em breve.

Embora o que o meio ambiente realmente necessite seja uma redução dramática de obras, o importante é que, quando construímos, façamos de maneira eficiente em termos de recursos e economia. Um material em particular, que cresce rapidamente e ajuda na captura de carbono, parece ser uma opção ideal a ser explorada.

A adoção de soluções sustentáveis, como essa, pode ser parte de uma mudança em direção a uma abordagem que utilize recursos naturais locais.

Fontes: BBC News, Mega Curioso

Foto: Oskar Proctor/Divulgação,.