O planeta passa por diferentes crises que se entrelaçam nas dimensões ambiental, econômica e de saúde, agravadas pela crise de governança.
Mas tantas crises simultâneas também oferecem à humanidade a rara oportunidade de redirecionar seus esforços de desenvolvimento para um modelo que seja mais sustentável, com menor utilização de combustíveis fósseis e uma utilização menos predatória dos recursos naturais.
Os vírus, originados há cerca de 3,5 bilhões de anos, são um componente da biodiversidade do planeta e constituem-se também nas entidades biológicas mais abundantes da Terra. Países megadiversos como o Brasil, com altos graus de vulnerabilidade social e degradação ambiental, possuem grande probabilidade de que novos patógenos que vivem em espécies silvestres pulem para os hospedeiros humanos.
Praticamente todos os organismos celulares abrigam uma grande diversidade de vírus, a ponto de podermos afirmar que todo processo evolutivo é, no fundo, uma história de coevolução entre os vírus e os seus hospedeiros. Por conseguinte, novos grupos de vírus continuam surgindo continuamente. Portanto, é indubitável que eles tiveram, e continuam tendo, um papel importante na ecologia global e na evolução da biosfera.
Isso depende em grande parte dos cenários de transmissão, que são altamente favoráveis nos “wet markets” dos países asiáticos, e muito mais raros nos mercados populares do Brasil, quer seja pelas nossas tradições no consumo de carne de caça, quer seja pela baixa densidade populacional, quando comparada a de países asiáticos.
No Brasil, o contato com vírus novos e desconhecidos se dá muito mais com a contínua aceleração da destruição de nossos biomas, a redução, fragmentação e perda de hábitats, e com isso estamos constantemente ampliando o contato do homem com novos vírus.
Considerando a nefasta sinergia entre as mudanças climáticas globais e as taxas de extinção de espécies, o Homo sapiens é a única espécie no planeta responsável pelas pandemias observadas no último século e pela atual pandemia da covid 19.
Se por um lado a biodiversidade é a origem dos vírus, sem sombra de dúvida é também uma grande farmácia que pode contar com espécies terrestres, marinhas ou de água doce. Mais de 40% de todos os medicamentos disponíveis, e 70% daqueles utilizados como antibióticos e anticancerígenos, são oriundos da biodiversidade. Mais de 77 mil plantas são hoje utilizadas como fontes de medicamentos para a humanidade. Pode ser uma grande reserva de novos antitrombóticos, antimicrobianos e antivirais.
. São produtos naturais que podem ser sintetizados a partir de plantas, de organismos marinhos e de fungos, que tenham baixa citocidade (para reduzir os efeitos colaterais), mas que tenham forte atividade anticarcinogênica, antibacteriana, antiviral entre outras.
A biodiversidade é a origem de uma gama grande de moléculas utilizadas em antivirais utilizados nos tratamentos de HIV, herpes, hepatite B e C e influenza A e B.
Além do intenso processo de degradação ambiental, com a contínua e profunda alteração de hábitats naturais, ou mesmo sua total aniquilação (e da biodiversidade a eles associada), fatores causais (diretos e indiretos), de transformação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos associados a ela, apresentaram uma sensível aceleração nos últimos 50 anos. As mudanças globais na natureza ocorreram em taxas sem precedentes durante esse período. Os fatores diretos mais impactantes são as mudanças no uso da terra e do mar, a exploração inadequada das espécies, as mudanças climáticas, a poluição e a invasão de espécies exóticas em novos ambientes.
A taxa de evolução desses fatores, ou drivers diretos e indiretos, difere bastante entre regiões e países, mas as projeções disponíveis até o momento indicam que até o final do século as mudanças climáticas se tornarão o principal fator causal na extinção de espécies e na deterioração dos serviços ecossistêmicos, levando a uma perda sem precedentes de todos os benefícios que a natureza oferece para a nossa espécie (IPBES 2019b; WWF, 2020). Infelizmente, o 1º Diagnóstico Brasileiro sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos demonstra claramente que essa é também a realidade no Brasil (BPBES, 2019).
A mudança climática é um driver direto que está se acelerando descontroladamente, impactando tanto a biodiversidade como os serviços ecossistêmicos e, assim, a qualidade de vida dos que dependem desses serviços.
Usando como base o período anterior ao início da Revolução Industrial, os registros indicam que nós já causamos um aumento médio de 1 oC na temperatura média do planeta. Nosso impacto atual é de 0,2 oC na temperatura média a cada 30 anos.
A frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos, e de incêndios, enchentes e secas que eles têm provocado, aumentou significativamente nos últimos 50 anos. Enquanto isso, o nível médio global do mar subiu entre 16 e 21 cm desde 1900, e continua subindo a uma taxa de mais de 3 mm por ano nas duas últimas décadas (IPBES 2019b).
Essas mudanças têm contribuído para impactos generalizados sobre muitos aspectos da biodiversidade, incluindo a distribuição das espécies, sua fenologia (seus ciclos de reprodução), a dinâmica das populações, a estrutura das comunidades, o funcionamento de ecossistemas e taxas de extinção de espécies.
No que tange aos impactos sobre a biodiversidade, há uma forte sinergia negativa entre as mudanças no uso da terra, a poluição e as mudanças climáticas. Mudanças no uso da terra resultam, invariavelmente, em uma maior emissão de CO2, a poluição aumenta a retenção de energia na terra, e ambos os drivers resultam em uma aceleração ainda mais intensa do aquecimento global (IPBES 2019b; WWF, 2020).
Num período em que as queimadas nos diferentes biomas brasileiros aumentaram significativamente tanto em frequência quanto em intensidade, cabe destacar que elas também aumentam o potencial de pandemias.
Fontes: Scielo, Embrapa, Fiocruz, Unep.