“O Brasil será um dos países mais impactados com o desequilíbrio ecossistêmico, seja nas costas com o aumento do nível do mar, seja no interior com a seca e estiagem”. O alerta vem de Marina Esteves Vergueiro de Almeida, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas em clima e meio ambiente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, uma das correalizadoras do V Conferência Brasileira de Mudança do Clima (CBMC), que será realizada em Natal (RN).
O evento começa nesta quarta-feira (4) e segue até sexta-feira (6), na sede do Idema, no Tirol. Pesquisadores, interessados e envolvidos no tema vão discutir as questões que envolvem meio ambiente e os eventos climáticos extremos, cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas nas diferentes partes do mundo.
“A CBMC é fundada a partir da desistência do então governo federal em sediar a Conferência das Partes, a COP, em 2019 no Brasil. Esta desistência teve consonância na saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, demonstrando para a sociedade civil uma clara recusa em tratar a pauta do enfrentamento à crise climática e ambiental com a priorização e relevância que acreditávamos”, resgata Marina Esteves Vergueiro de Almeida.
A 1ª edição da Conferência foi realizada em 2019, em Recife. Agora, em Natal, na pauta do dia estarão temas delicados como os acordos para que se consiga cumprir metas climáticas. Para quem não lembra, apenas com o início do governo Lula o Brasil retomou compromissos junto ao Acordo de Paris, alterado no governo anterior. Com isso, a projeção para redução das emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa) foi elevada de 37% para 48% em 2025 e de 50% para 53% em 2030, na comparação com os níveis de 2005.
“Agora a CBMC busca compor junto ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, ao Ministério da Ciência e Tecnologia, ao Comitê Interministerial e ao Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, conferências permanentes que visem informar a consolidação e co-construção de um novo arcabouço técnico e regulatório sobre combate à mudança do clima e gestão ambiental responsável”, acrescenta Marina Esteves.
A cidade enfrenta questões ligadas, justamente, ao meio ambiente, como a engorda da praia de Ponta Negra cujo plano é que a faixa de areia entre a praia de Ponta Negra e a Via Costeira seja alargada para até 100 metros na maré baixo e 50 metros na maré alta.
“As áreas costeiras apresentam uma dificuldade mais acentuada em relação ao aumento do nível do mar, que é mais do que um evento local, é resultado de dinâmicas globais de emissões. Portanto, para saber estar adaptado ao risco e mitigar seus efeitos nocivos, é importante que a cidade e o Estado apresentem planos de adaptação e mitigação climáticos em sincronia com as diretrizes nacionais do atual Plano Nacional de Mudança do Clima (PNMC), que será atualizado em 2023/24 pelo Governo Federal, o novo Plano Clima. A gestão de riscos climáticos deve ser conduzida em parceria com as Defesas Civis e com o acumulado de dados sobre a ocorrência de eventos climáticos extremos nas plataformas no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), como o AdaptaClima, por exemplo”.
As discussões sobre mobilidade urbana também são quesitos chave para uma transição a uma economia de baixo carbono e especialmente à transição energética. A substituição de modais poluentes e de uso de combustíveis fósseis deve ser conduzida de maneira coerente com justiça ambiental e social.
Entende-se ao mesmo tempo, que o uso de sistemas de obtenção de energia renovável tem também seus impactos sociais e ambientais. Seja o incentivo a outros setores econômicos, como é o caso da mineração para baterias ou construção de infraestrutura solar e eólica. Portanto, a transição deve apresentar programas setoriais, de transição justa, ou seja, reposicionamento dos profissionais engajados em setor que virão a ser desencontrados, bem como uma maior diversidade de modelos para redução do impacto.
Comprovação científica
Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) alertou, com comprovação científica, o acúmulo de gases e, portanto, aumento da temperatura média terrestre, são resultantes da atividade industrial humana.
“As previsões do IPCC também apontam para que mantenhamos o aumento de temperatura média em até 1,5ºC para que possamos garantir alguma perenidade nos nossos modos de vida atual. A ultrapassagem deste valor poderá acarretar desestruturações encadeadas. A má notícia é que se estima ultrapassar esse valor até antes de 2030, data que se colocava como limite para a manutenção. Por conta dessas previsões, já é possível perceber o aumento da percepção sobre mudança do clima na vida das pessoas e nas diversas regiões do Brasil e do mundo, lamenta a coordenadora do Instituto Ethos, que acrescenta:
“Em 2023 tivemos o maior acumulado em 24 horas de chuva na história das medições, ultrapassando mais de 600mm na região do litoral norte de São Paulo, tivemos também enchentes e ciclones extratropicais na região Sul do país, que até então sofria com estiagem. Em setembro tivemos recordes de temperatura em todo Brasil ultrapassando 40ºC. Ou seja, o dia-a-dia do cidadão passa a ser pautado pela consciência de que a mudança no padrão dos eventos climáticos é resultado da mudança do clima. É preciso que estejamos preparados para lidar com esses novos fenômenos, seja com prevenção e adaptação aos eventos climáticos extremos, ou seja na mitigação de seus impactos uma vez que eles aconteçam. Para isso, será preciso uma governança integrada entre todos os atores envolvidos na CBMC com formuladores de políticas públicas a nível nacional e internacional e é esta movimentação que se pretende em 2023 em nossa quinta edição”.
Fonte: Pense Numa Notícia.
Foto: Mirella Lopes.