Um levantamento realizado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) calculou que nosso país perde aproximadamente R$ 21 bilhões por ano com mortes no trânsito. O estudo inclui despesas médicas, perda de produtividade e valores associados aos danos e perdas materiais.
Ainda que seja sempre desafiador o cálculo de quanto uma pessoa gera e produz potencialmente de riquezas ao país, o CLP considerou que cada vida humana ceifada pode significar uma perda de ao menos R$ 800 mil. Fora os custos sociais que essas mortes têm na comunidade e como podem interferir na trajetória dos familiares.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem anualmente em sinistros de trânsito. No Brasil, a taxa é de 16,1 mortes por 100 mil habitantes. Na comparação, estamos acima de países vizinhos como Chile (14,9), Uruguai (14,8), Argentina (14,1) e Peru (13,6), e atrás de outros como Bolívia (21,1), Paraguai (22) e Venezuela (39,0).
O caminho para termos rodovias, estradas, avenidas e ruas de fato seguras para todos ainda é longo e exige compromisso e políticas públicas mais eficientes, que incluem infraestrutura adequada, redução de velocidades, fiscalização, aprimoramento da legislação e educação para o trânsito seguro.
Mortes no trânsito aumentam, e Brasil não cumpre meta global de redução de acidentes
O Brasil registrou crescimento de 13,5% no número absoluto de mortes por acidentes de trânsito, entre 2010 e 2019. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes aumentou 2,3%. Foram mais de 390 mil óbitos em ocorrências envolvendo transportes terrestres.
Em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou a campanha 1ª Década de Ação pela Segurança no Trânsito e convocou países a adotar medidas para reduzir em 50% a mortalidade até 2020. O Balanço da 1ª década de ação pela segurança no trânsito no Brasil e perspectivas para a 2ª década do Ipea, divulgado nesta quarta-feira (02), avalia as políticas implementadas e os números registrados no período.
Os acidentes com motocicletas foram os que mais pesaram para o crescimento da mortalidade e dobraram em relação à década anterior. Eles representaram 30% dos casos fatais registrados. Por outro lado, os índices de atropelamentos, acidentes envolvendo carros, ônibus, caminhões e bicicletas se mantiveram estáveis ou caíram.
Cerca de 1/3 das vítimas é de pessoas muito jovens, com até 15 anos de idade. Outros 2/3 têm menos de 50 anos. Segundo os pesquisadores, o cenário gera forte impacto econômico. O custo desses acidentes é superior a R$ 50 bilhões por ano, com gastos hospitalares, danos patrimoniais e perda de produção, que gera consequências sobre a previdência e a renda das famílias.
Na pesquisa há dados ainda sobre a escolaridade das vítimas. Cerca de 60% delas têm menos de sete anos de estudo e não completaram o ensino fundamental. O estudo conclui que o problema afeta a população mais vulnerável economicamente.
“A própria escolaridade reduzida, e consequentemente menor nível de renda deste grupo, torna-se um fator de risco para ocorrência de sinistros de transporte em função do maior uso de veículos com manutenção precária, problemas com falta de habilitação e equipamentos de segurança, maior circulação em áreas mais pobres com poucos equipamentos de segurança de trânsito, além do uso maior de motocicletas de baixa cilindrada nesta faixa, que são veículos mais vulneráveis em termos de proteção ao motorista”, ressalta o levantamento.
As estradas brasileiras apresentaram um cenário relativamente diferente do urbano no que diz respeito a atropelamentos. Nas cidades, essas ocorrências diminuíram, fruto das políticas de redução de fiscalização da velocidade. Já nas rodovias houve aumento de 16%, o que demonstra necessidade de investimentos em infraestrutura e equipamentos de segurança para pedestres nesses locais.
Elaborado pelos engenheiros e pesquisadores, Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho e Erivelton Pires Guedes, especialistas em mobilidade e transporte, o estudo usou informações do Ministério da Saúde e da Polícia Rodoviária Federal
Na década analisada, eles observaram contingenciamento nos recursos para a promoção de políticas públicas de redução da mortalidade no trânsito. “O Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito (Funset), oriundo de 5% da arrecadação das multas de trânsito e destinado à promoção de medidas de segurança e campanhas educativas, teve corte de 75% em relação ao total arrecadado no período”, apontam.
Os montantes para combater as mortes no trânsito que vinham do seguro contra Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres (DPVAT) e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) foram zerados. No primeiro caso, 45% da arrecadação era destinada ao atendimento hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS). Já a CIDE tinha destinação para investimentos em infraestrutura viária.
Os prejuízos oriundos de acidentes de trânsito
Os prejuízos foram calculados a partir de metodologia que já tinha sido desenvolvida pelo Ipea, pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Ao todo, 64,7% do valor das perdas se referem às vítimas, o que inclui desde cuidados com a saúde e despesas hospitalares até a perda da capacidade produtiva. Outros 34,7% têm relação com danos aos veículos e às cargas transportadas. Por fim, 0,5% diz respeito a danos a propriedades públicas e privadas.
Individualmente, a perda da capacidade produtiva, quando, por exemplo, a pessoa está afastada do trabalho em razão do acidente, responde por 43% dos prejuízos. Em seguida vêm o dano veicular (32%) e os custos hospitalares (20%). Em média cada acidente custa R$ 72,705,31. Quando resulta em morte, o prejuízo chega a R$ 646.762,94.
Os acidentes fatais são apenas 4% de todos que ocorrem, mas representam mais de 35% das perdas monetárias. Os acidentes com feridos e sem mortos são 37% do total de ocorrências. “Esse tipo de acidente (com vítima fatal) respondeu por menos de 5% do total de ocorrências, mas representou cerca de 35% dos custos totais, indicando a necessidade de intensificação das políticas públicas de redução não somente da quantidade dos acidentes, mas também da sua gravidade”, avalia trecho da pesquisa.
Fontes: Brasil de Fato, Bicicleta News, O Globo, SBT News.
Foto: SBT News/Divulgação.