Três governadores e mais quatro candidatos a governos estaduais. O ex-presidente do movimento de sojeiros que apoiam Jair Bolsonaro. Um líder de garimpeiros suspeito de praticar crimes em terras indígenas. E um médico ruralista e empresário com patrimônio milionário.
Esses são alguns dos políticos que irão disputar o voto popular nas eleições deste ano — e também são esses alguns dos nomes da lista de pessoas multadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) por cometerem infrações ambientais como desmatamento ilegal.
Um levantamento exclusivo da Agência Pública revela que 251 candidatos às eleições em 2022 têm, juntos, multas ambientais que passam dos R$ 84 milhões. Ao todo, esses políticos foram alvo de 440 autuações por infrações ambientais nos últimos 30 anos. Os nomes citados no texto foram procurados pela reportagem, mas não houve retorno até a publicação.
É esse o caso do candidato a deputado federal em Mato Grosso pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS), o médico paulista Clésio Carvalho. Ele é o nome com o maior valor em multas aplicadas pelo Ibama nos últimos 30 anos dentre os políticos que concorrem às eleições de 2022.
Segundo o Ibama, o grupo no qual Clésio Carvalho estava envolvido invadia florestas, retirava e vendia a madeira de valor, derrubava a mata remanescente e ateava fogo para iniciar o plantio de capim e criação de gado.
Apoiador de Bolsonaro — que também já foi multado pelo Ibama em R$ 10 mil por pesca irregular em unidade de conservação —, Clésio Carvalho usava uma bandeira do Brasil e um boné escrito “Bolsonaro 2022”. Atualmente, a multa de Bolsonaro, aplicada em 2012, consta como prescrita na base do Ibama. O fiscal responsável pela autuação foi exonerado do cargo de chefia.
Atual governador do Pará e candidato à reeleição pelo MDB, Helder Barbalho é um dentre os sete governadores ou candidatos a governos estaduais que já foram multados pelo Ibama.
Em 2019, o governador retirou o apoio da PM estadual nas ações locais do Ibama. No mesmo ano, sancionou lei acusada de facilitar a grilagem de terras. Sócio de uma agropecuária e de emissoras de rádio e TV, ele é favorito a ganhar a disputa no Pará ainda no primeiro turno. De 2018 para cá, o patrimônio declarado pelo político ao TSE passou de R$ 3,2 milhões para R$ 18,7 milhões.
O atual governador de Roraima, Antônio Oliverio Garcia de Almeida, conhecido como Antônio Denarium, também aparece entre os candidatos com multas ambientais. À frente do estado, ele sancionou leis apontadas como antiambientais, como a que proibiu a destruição de equipamentos do garimpo ilegal e a que autorizou o garimpo ilegal.
Já Ivo Cassol (PP), candidato ao governo de Rondônia, foi multado pelo Ibama em 2009, no valor de R$ 800 mil, por desmatar 160 hectares em reserva legal, sem autorização, na fazenda Kajussol, em Santa Luzia D’Oeste.
Considerado um dos principais aliados de Bolsonaro no senado, Márcio Bittar, do União Brasil, concorre ao governo do Acre pela segunda vez — outro nome na lista de políticos com multas. Ele foi autuado pelo Ibama em 2004, por infração no município de Sena Madureira, a 140 km da capital Rio Branco, por desmatamento sem autorização dos órgãos competentes.
Candidato que presidiu Aprosoja e líder de grupo garimpeiro têm multas milionárias
Para prestar depoimento na sede da Polícia Federal em Sinop, em Mato Grosso, em agosto do ano passado, Antônio Galvan foi “escoltado” por uma carreata de tratores. A cena rocambolesca do então presidente da Aprosoja Brasil — que se voluntariou a depor sobre a participação em atos antidemocráticos antes mesmo de ser convocado oficialmente para prestar esclarecimentos — parecia um prenúncio de suas pretensões eleitorais.
Neste ano, além de concorrer nas eleições, o sojeiro entrou para a lista de multados pelo Ibama. O órgão aplicou duas multas contra Galvan no município de Vera (MT), que somam R$ 1,56 milhão. A principal infração refere-se ao funcionamento de “aeródromo civil particular para operação com produtos de defesa agropecuária, considerado potencialmente poluidor”.
Candidatos com multas ambientais atuam para alterar fiscalização e leis
Nelson Ned Previdente, o “Nelson Barbudo” (PL), é um exemplo de candidato ruralista com multas no Ibama — e que age para reduzir a capacidade do órgão em multar. Membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado federal mais bem votado em Mato Grosso em 2018 foi multado em R$ 25 mil em março de 2005 por “desmatar florestas ou outras formas de vegetação consideradas de preservação permanente” em Alto Taquari, na divisa de Mato Grosso com Goiás e Mato Grosso do Sul.
Em Roraima, o atual presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa (ALERR), Éder Barcelos Brandão, que tenta a reeleição pelo PSD, é outro político com multas que atua para alterar a legislação ambiental no estado. Conhecido como Éder Lourinho, é o autor de uma emenda que pretendia permitir o uso de mercúrio na exploração do garimpo em Roraima. A lei em questão, que autorizava o garimpo sem licença prévia no estado, foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ser considerada inconstitucional.
Já o filho da senadora e ex-ministra Kátia Abreu, o senador Irajá Silvestre Filho (PSD/TO), que tenta se eleger governador de Tocantins, foi autuado em três ocasiões, uma delas suspensa por decisão judicial. As outras duas, que constam como quitadas, somam R$ 75 mil e referem-se a desmatamento e descumprimento de embargo na fazenda da família, localizada em Aliança do Tocantins (TO). Kátia Abreu também teve uma multa aplicada pelo órgão e suspensa por decisão judicial.
Partidos de Arthur Lira e de Bolsonaro lideram em candidatos com multas
O partido com maior quantidade de representantes multados é o do atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o Progressistas (PP). São 25 candidatos multados concorrendo pela sigla. Em seguida, está o Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, com 24 políticos.
Já considerando o valor das multas, quem lidera é o próprio PL de Bolsonaro: os candidatos do partido somam R$ 18 milhões de reais em infrações.
O Mato Grosso é o estado onde há a maior quantidade de multas, com 63 para 19 políticos multados. Já Minas Gerais é onde há mais candidatos infratores, com 28 políticos que, juntos, acumulam 42 multas.
Fonte: Revista Galileu.