Capacidade de energia renovável do planeta cresceu em 2023 e se aproximou de meta da COP 28

Em 2023, a capacidade global de energia renovável teve alta de 50%, atingindo 510 gigawatts (GW). Foi o 22º ano seguido em que o setor registrou volume recorde, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE, na sigla em inglês).

Relatório divulgado pela entidade recentemente avalia esse crescimento como “espetacular” e destaca que oferece uma “chance real” de os governos globais cumprirem o compromisso acordado nas negociações climáticas da COP28, de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030 para reduzir significativamente o consumo de combustíveis fósseis.

A energia solar foi responsável por três quartos da nova capacidade de energia renovável instalada em todo o mundo nos últimos doze mesmo, sendo que a maior parte dela foi oriunda da China.

A AIE destaca ainda que taxas recordes de crescimento em toda a Europa, nos Estados Unidos e no Brasil colocaram as energias renováveis no caminho certo para ultrapassar o carvão como a maior fonte de geração de eletricidade global até o início de 2025 – até 2028, a previsão é que representem mais de 42%.

“É uma excelente notícia ver o crescimento histórico e espetacular das energias renováveis”, disse Fatih Birol, diretor executivo da agência, ao jornal The Guardian.

As energias renováveis são fontes não poluidoras de energia, como a solar, eólica, hidrelétrica e geotérmica. O objetivo é que elas venham a substituir o uso dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural), responsáveis pelo agravamento da crise climática.

O índice mostra o crescimento mais acelerado já registado nos últimos 20 anos e aproxima o mundo de cumprir a meta global proposta na COP 28, realizada no ano passado, que é de triplicar a capacidade de energia renovável em nível mundial até 2030.

Além disso, a capacidade de energia renovável em 2023 atingiu níveis máximos históricos no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.

Brasil ganha quase 9 gigawatts de capacidade eólica e solar em 2023

A Aneel, agência reguladora do setor de energia do Brasil, anunciou nesta terça-feira (3) que o país conectou à rede parques de geração de energia que somam quase 9 gigawatts (GW) de capacidade eólica e solar em 2023.

A energia eólica foi responsável pelo maior incremento no potencial gerador durante o ano, com uma capacidade instalada de cerca de 4,92 GW, representando 47,65% do aumento total da geração de energia.

As usinas de energia solar contribuíram com 4,07 GW, enquanto as novas termelétricas corresponderam a uma capacidade combinada de 1,21 GW. As usinas hidrelétricas que entraram em operação ao longo do ano adicionaram 169,4 megawatts (MW) combinados.

No geral, o país encerrou 2023 com 199,32 GW de potência autorizada em operação, com a participação das renováveis atingindo 83,67%, graças ao grande parque hidrelétrico somado às novas instalações de geração de energia limpa.

O Brasil e os biocombustíveis

O Brasil se destaca na produção de biocombustíveis. O documento da IEA calcula que o país deverá responder por 40% da expansão dos biocombustíveis até 2028.

A partir dos dados de 2023, a agência prevê que esse modelo energético ultrapasse o carvão como maior fonte de produção de eletricidade, na média global, até o início de 2025. Com base nessa estimativa, até 2030, a capacidade renovável global deve crescer duas vezes e meia.

Entre os desafios citados pela agência está o cenário macroeconômico mundial. Países emergentes, por exemplo, podem enfrentar dificuldades para concentrar investimentos em infraestrutura de rede em um ambiente econômico frágil e de incerteza política.

“Na ausência de qualquer ajuda aos países africanos e de baixos rendimentos na Ásia e na América Latina, estes não serão capazes de atingir as suas metas de energia limpa. Essa será uma falha no alcance da meta de 2030”, afirmou Fatih Birol, em entrevista à agência Reuters.

Esse era um ponto de atenção citado no relatório da COP 28. Apesar disso, a organização acrescenta que as centrais de energia eólica terrestre (gerada pela paraça do vento) e solar fotovoltaica já se tornaram mais baratas que as centrais de combustíveis fósseis novas ou existentes na maioria dos países.

Planeta mais quente

Nesta semana, o observatório europeu Copernicus confirmou o que os cientistas já vinham alertando: o ano de 2023, que teve temperaturas em níveis recordes, foi o mais quente já registrado nos últimos 100 mil anos.

O planeta ficou em média 1,48°C acima do nível pré-industrial (estabelecido entre 1850 e 1900), muito perto de 1,5ºC, o chamado “limite seguro”.

Esse limite foi definido no Acordo de Paris para ser alcançado até o final do século, e a previsão inicial era a de que não seria atingido antes de 2030. No entanto, o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa tem acelerado esse processo.

2023 foi um ano excepcional com recordes climáticos caindo como dominós. Não apenas 2023 foi o ano mais quente registrado, como é o primeiro ano com dias 1°C mais quentes do que a era pré-industrial. As temperaturas em 2023 provavelmente foram as mais altas ao menos nos últimos 100 mil anos (Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia).

A explicação para a comparação com os 100 mil anos está na paleoclimatologia. São usados métodos que permitem estimar a temperatura de determinada época com a simulação do comportamento da atmosfera para climas passados.

Fontes: G1, Um Só Planeta.

Foto: GettyImages.