Catástrofes naturais geraram US$ 313 bilhões em perdas em 2022, aponta relatório

A mais nova edição do relatório Weather, Climate and Catastrophe Insight, elaborado pela gestora de riscos corporativos Aon, aponta que os desastres naturais foram responsáveis por uma perda econômica de US$ 313 bilhões em todo o mundo em 2022. O valor é 4% maior do que a média do século 21 e, segundo a gestora, reforça a necessidade de que empresas e governos estejam cada vez mais atentos a estes riscos. Este movimento já vem acontecendo, mas ainda há espaço para crescer, pois apenas 42% do volume de perdas já apresenta algum tipo de ação para mitigação ou cobertura dos riscos, diz a empresa.

No Brasil as secas e enchentes foram as principais causas de perdas financeiras no ano passado. De acordo com o relatório, as estiagens ocasionaram perdas de US$ 4,2 bilhões de dólares e as enchentes foram responsáveis por perdas de cerca de US$ 1,3 bilhão de dólares. Durante o carnaval de 2023, o Brasil teve o maior acumulado de chuva registrado, de 682 milímetros (mm), e a tempestade que caiu no litoral norte de SP deixou 59 mortos e mais de 4 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Em 2022, as cidades fluminenses de Paraty e Petrópolis, o sul da Bahia, diversas cidades de Minas Gerais e a grande Recife foram impactadas por eventos climáticos extremos que causaram enchentes e deslizamentos de terra e, por consequência, mortes.

Na comunidade científica internacional, já é consenso que o aquecimento global tem aumentado a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos – como mostram os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

“Um aumento da temperatura traz um aumento de vapor. Ou seja, para países tropicais como o Brasil, uma mudança de 1ºC significa muito mais vapor do que aumentar 1ºC na Antártida ou na Patagônia. Você torna o clima tropical mais úmido, mais quente e mais instável. Uma mesma frente fria consegue provocar hoje mais chuva do que há 100, 200 anos. E para piorar, as frentes frias estão ficando mais intensas em algumas circunstâncias. Não é uma situação normal, e justamente as mudanças climáticas determinam um novo normal, né?”, disse o meteorologista Marcelo Sluchi â BBC.

Santos, maior cidade do litoral do Estado de São Paulo e que foi atingida pelas chuvas deste ano, e Recife, capital de Pernambuco que sofreu com intensas enchentes no ano passado, sofrem com a combinação fatal de chuvas torrenciais, deslizamentos de terra e população pobre vivendo em áreas de risco. As duas cidades são as mais adiantadas do país na implementação de medidas para lidar com tempestades extremas, que tendem a se tornar cada vez mais comuns, segundo os modelos climáticos atuais.

Para lidar com os desafios impostos pelo clima, a Secretaria de Meio Ambiente de Santos apresentou, em janeiro de 2022, um Plano de Ação Climática (PACS) contendo 50 metas a cumprir entre 2025 e 2050. A elaboração do documento envolveu governo, ONGs e representantes da população. Ele identifica prioridades para todos que queiram contribuir. Em 2023, será preciso avançar com algumas das metas de curto prazo: remover mais de 5 mil unidades residenciais em área de risco inaceitável, regularizar mais de 17 mil casas, orientar projetos-piloto de adaptação para áreas de maior risco, conectar os programas de arborização urbana e de recuperação de manguezais (importantes “amortecedores” de tempestades e ressacas) e definir quantos corredores da Rede Verde-Azul vão cortar a cidade (corredores que permitem a passagem de água, ampliam área verde e aumentam a biodiversidade local).

No curto, médio e longo prazo, as demandas se dividem por oito eixos: planejamento urbano sustentável; redução de vulnerabilidades e gestão de riscos climáticos; inclusão e redução da vulnerabilidade social; resiliência urbana e soluções baseadas na natureza; resiliência na zona costeira, estuário, praia, rios e canais; gestão de infraestrutura; inventário de emissores de gases de efeito estufa e plano de mitigação; governança e participação na gestão climática.

Para aumentar a resiliência da capital pernambucana, a prefeitura de Recife criou o Programa de Requalificação e Resiliência Urbana em Áreas de Vulnerabilidade Socioambiental, o ProMorar Recife, que teve aprovado um financiamento de R$ 1,3 bilhão do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “É o maior projeto da carteira do BID para adaptação às mudanças climáticas”, disse ao Um Só Planeta Carlos Ribeiro, secretário do Meio Ambiente. A previsão é que as obras comecem a ser executadas no segundo semestre de 2023 e beneficiem 40 comunidades. O programa inclui ações de recuperação de encostas, urbanização, reassentamento de famílias que vivem em locais de risco, ampliação da rede de coleta de esgoto, alargamento da calha e dragagem de rios e criação de parques lineares.

Fonte: Um Só Planeta

Foto: Clauber Cleber Caetano / PR.