Para uma equipe de urbanistas e ambientalistas, não há outra saída: as cidades devem se livrar dos carros para serem habitáveis no futuro.
Em artigo científico, o grupo de pesquisadores levantou um dado alarmante que parece indicar ser esse mesmo o caminho, pois globalmente o número de carros produzidos está aumentando mais rápido do que a população.
Para Rafael Curiel e colegas da Universidade College, de Londres, isso exige não apenas uma mudança no comportamento coletivo, mas também um planejamento urbano que leve o foco para a redução da dependência de carros, promovendo menos viagens e viagens mais curtas, e encorajando caminhadas e ciclismo como principais meios de deslocamento.
Ainda segundo os pesquisadores, o transporte público deve ser incentivado para viagens mais longas, e os carros só devem ser usados em emergências ou ocasiões especiais.
Cidade Travada
No modelo matemático de uso de automóveis em uma cidade, criado por esses cientistas, os residentes usavam o carro diariamente ou usavam o transporte público, sendo que o principal fator de decisão, usar ou não o carro, foi o tempo que as viagens demoravam.
O modelo permitiu testar cenários extremos, incluindo o de uma cidade com 50 milhões de habitantes e 50 milhões de carros, na qual todos os moradores usam o carro diariamente para tentar minimizar o tempo de deslocamento. Além das exigências insuportáveis em termos de custos de infraestrutura, como avenidas, pontes e estacionamentos, a cidade literalmente travava com congestionamentos.
Em geral, presume-se que melhorar a infraestrutura de transporte público melhoraria os custos básicos (tempo), pois mais pessoas optariam por ele em vez de dirigir o próprio carro. Contudo, o modelo mostrou que mesmo sem melhorar a infraestrutura os custos básicos podem ser controlados reduzindo-se o número de pessoas que podem dirigir de cada vez.
Por exemplo, se um grupo de pessoas tem permissão para dirigir uma semana e deve usar outros meios de transporte na seguinte, o tempo médio de deslocamento poderia ser reduzido em até 25%.
Custos do Uso do Carro
Segundo a equipe, a redução do uso dos carros nas cidades depende principalmente de oferecer aos cidadãos mais opções de viagem, além de estabelecimentos comerciais e de serviços locais.
Garantir que os residentes compreendam os custos do uso do automóvel também pode ajudar a fazer com que realizem escolhas informadas, enquanto intervenções, como cobrança por congestionamento, pedágios e controles de viagem e estacionamento podem ajudar ainda mais a desencorajar o uso do carro.
“Atualmente, grande parte dos terrenos das cidades é dedicada aos automóveis. Se o nosso objetivo é ter cidades mais habitáveis e sustentáveis, devemos tomar parte desse terreno e destiná-lo a meios de transporte alternativos: a pé, de bicicleta e de transporte público”, afirmou o professor Humberto Ramírez, da Universidade Gustave Eiffel, um dos autores desse estudo.
Fonte: Royal Societé. DW.