Após um verão com “Londres, 40 graus”, a Europa se depara com um preocupante inverno morno, com temperaturas muito mais altas do que o normal em ao menos oito países do continente. Alarmados com a situação, que vem deixando estações de esqui sem neve, entre outros sintomas do clima incomum, cientistas começam a esboçar respostas sobre o que está acontecendo.
As certezas fundamentais são de que o que os europeus estão testemunhando se deve ao aquecimento global e às mudanças climáticas. A temporada de verão, que ocorre no meio do ano no Hemisfério Norte, já havia sido marcada por incêndios florestais devastadores e secas generalizadas que deixaram centenas de cidades sem água potável na França e no Reino Unido, por exemplo.
A capital britânica chegou a proibir o uso de mangueiras em casa. Em países produtores de vinho, colheitas foram adiantadas, e, em algumas ocasiões, vinhedos arrasados pelo fogo.
A temperatura amena em janeiro para países como Polônia e Alemanha, onde os termômetros deveriam estar perto de zero grau e estão marcando quase 20 °C, é influenciada por uma massa de ar quente que se desenvolveu na costa oeste da África e viajou para o nordeste, chegando à Europa puxada pela alta pressão sobre o Mediterrâneo, afirma o jornal The Guardian.
Alex Burkill, meteorologista sênior do Met Office, órgão do governo britânico, classifica a situação como um evento climático extremo. “Tem havido um calor extremo em uma área enorme, o que é quase, para ser honesto, inédito.”
Para o meteorologista Scott Duncan, as causas do inverno com calor recorde na Europa ainda são difíceis de determinar. O especialista cita o fenômeno La Niña e diz que o calor na superfície do mar desempenha um papel importante. “Nenhum dos itens é novo, então o que levou ao status de quebra de recorde? Nossa atmosfera e oceanos aquecidos estão tornando os recordes mais fáceis de quebrar.”
O dia mais quente já registrado para janeiro foi notado em pelo menos oito países europeus, incluindo Polônia, Dinamarca, República Tcheca, Holanda, Bielo-Rússia, Lituânia e Letônia, de acordo com dados coletados por Maximiliano Herrera, climatologista que monitora temperaturas extremas.
Temperatura recorde na Espanha
No aeroporto de Bilbao, na Espanha, uma leitura de 25,1°C em 1º de janeiro quebrou o recorde anterior estabelecido 12 meses antes, em 0,7°C.
Já na cidade de Besançon, no leste da França, que geralmente é fria nesta época do ano, as temperaturas atingiram um novo recorde histórico de 18,6 graus no primeiro dia de 2023, 1,8°C acima do recorde anterior, datado de janeiro de 1918.
Na cidade alemã de Dresden, o recorde da véspera de ano novo de 1961 de 17,7°C ficou atrás da leitura de 19,4°C feita em 31 de dezembro de 2022, assim como os residentes da Polônia em Varsóvia passaram o réveillon com temperaturas chegando a 18,9°C, impressionantes 5,1 C mais alto que a marca histórica anterior de janeiro, de 1993.
Mais ao norte, na ilha de Lolland, na Dinamarca, 2023 começou com uma nova máxima de 12,6°C, ultrapassando o recorde de 12,4°C estabelecido em 2005.
Previsão é de aumento do calor
Recentemente, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC, afirmou que na Europa a frequência e intensidade de extremos quentes, incluindo ondas de calor marinhas, aumentaram nas últimas décadas e devem continuar aumentando, independentemente do cenário de emissões de gases de efeito estufa.
A projeção é que os limites críticos relevantes para os ecossistemas e seres humanos sejam superados com um aquecimento global de 2°C e superior.
De acordo com o IPCC, as tendências observadas nas temperaturas médias e extremas europeias não podem ser explicadas sem levar em conta os fatores relacionados à ação humana.
Aumento nos últimos 10 anos
Há dois meses, a OMM divulgou o Relatório do Estado do Clima da Europa de 2021, afirmando que as temperaturas na Europa aumentaram significativamente durante o período entre 1991 e 2021, a uma taxa média de cerca de +0,5 °C por década, a mais alta de qualquer continente do mundo. e mais que o dobro da média global.
Apesar das condições do La Niña manterem a temperatura global baixa pelo segundo ano consecutivo, 2022 ainda deve ser o 5º ou 6º ano mais quente já registrado globalmente.
Fonte: Um Só Planeta, ONU News.
Foto: Getty Images.