A comunidade científica ficou surpresa com uma descoberta recente. Por meio de investigações via satélites e radar de penetração no gelo, foi revelado um cenário antártico preservado sob a Plataforma de Gelo do Leste Antártico (PGLA) por um período mínimo de 14 milhões de anos.
Os cientistas utilizaram técnicas de detecção remota para mapear 32 mil quilômetros quadrados de terra — uma área aproximadamente do mesmo tamanho da Bélgica.
Essa paisagem primitiva, preservada ao longo de eras geológicas, apresenta camadas subterrâneas que permaneceram estáticas, mas que agora estão ameaçadas pelo aumento das temperaturas globais.
As informações obtidas surpreenderam os envolvidos nas descobertas, trazendo mais detalhes sobre a evolução do planeta Terra.
Eles descobriram uma paisagem formada por rios antes da formação continental do manto de gelo da Antártida Oriental que outrora se assemelharia às colinas e vales do atual Norte de Gales, de acordo com um estudo publicado terça-feira (24/10) na revista Nature Communications.
Os pesquisadores decidiram traçar a história da camada de gelo e como ela evoluiu ao longo do tempo, e entender como era a terra antes de ficar escondida sob as camadas congeladas é um capítulo importante dessa história, explicou o principal autor do estudo, Stewart Jamieson, professor no departamento de geografia da Universidade de Durham.
“A terra abaixo do manto de gelo da Antártica Oriental é menos conhecida do que a superfície de Marte”, disse Jamieson em comunicado.
“E isso é um problema porque essa paisagem controla a forma como o gelo flui na Antártida e controla a forma como poderá responder às alterações climáticas passadas, presentes e futuras”, acrescentou.
A natureza bem preservada da paisagem a torna particularmente especial. É raro encontrar paisagens relativamente não modificadas sob uma camada de gelo continental — normalmente o movimento do gelo à medida que flutua em tamanho e se move iria erodir e destruir a paisagem relíquia, disse Jamieson.
O que há sob o gelo da Antártida
Compreender por que razão esta antiga paisagem específica sobreviveu praticamente ilesa poderia ajudar os cientistas a prever melhor a dinâmica futura da camada de gelo da Antártida Oriental, que contém o equivalente a aproximadamente 60 metros de potencial aumento do nível do mar, à medida que o planeta aquece.
O clima da Terra está a caminho de atingir temperaturas típicas daquelas experimentadas quando a paisagem provavelmente se originou, há 34 a 14 milhões de anos — que eram entre 3ºC e 7ºC mais altas do que hoje — de acordo com o estudo.
A camada de gelo da Antártida Oriental formou-se pela primeira vez há cerca de 34 milhões de anos, mas posteriormente teria flutuado em tamanho, revelando por vezes a terra por baixo.
Jamieson disse que a sobrevivência da paisagem implicava que as temperaturas na base da camada de gelo tinham sido extra frias e estáveis sobre estes blocos de terreno antigo, apesar de alguns períodos intermediários de aquecimento climático.
“Em outras áreas, esperamos que haja água líquida, bem entre o gelo e o leito, o que ajuda a remover as coisas. Não temos isso em nossa localidade. Isso explica em parte como algo pode sobreviver por tanto tempo”, explicou Jamieson em entrevista por telefone.
Os dados geofísicos recolhidos pelos cientistas forneceram pistas sobre o que havia sob o gelo de 2 quilômetros de espessura.
A equipe de investigação não sabe quais plantas e animais selvagens poderão ter habitado a área, mas a evidência de rios sugere que havia água corrente, tornando altamente provável que a paisagem tivesse vegetação.
Agora, os pesquisadores se dedicarão a estudos mais aprofundados para compreender como combater o recuo do gelo na Antártida. As condições climáticas são os principais desafios para as geleiras, que vêm sofrendo um significativo recuo devido ao derretimento.
Fontes: CNN, Multiverso, Correio Brazilience.
Foto: Stewart Jamieson/Neil Ross/Duncan Young/ICECAP.