Com adesão surpreendente, milhares de manifestantes protestam em Nova York por fim dos combustíveis fósseis

As ruas do centro de Nova York foram tomadas neste domingo (17), primeiro dia da Semana do Clima de Nova York, por dezenas de milhares de pessoas, conforme a imprensa norte-americana, que protestaram para exigir que os líderes mundiais se afastem com urgência dos combustíveis fósseis que aquecem perigosamente a Terra. Os gritos dos manifestantes foram dirigidos em especial ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que chegaria na cidade no mesmo dia para participar, nos próximos dias, da Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa na terça-feira (19).

“Biden, você deveria ter medo de nós”, gritava Josie Marquez, 17 anos, uma estudante do ensino médio de Nova York e membro do movimento Fridays para Future, em um comício antes da marcha. “Se você quer o nosso voto, se não quer que o sangue das nossas gerações esteja em suas mãos, acabe com os combustíveis fósseis”, ela dizia.

A administração Biden conduziu a legislação climática mais ambiciosa dos Estados Unidos e trabalha para fazer a transição do país para a energia eólica, solar e outras energias renováveis. Mas também continuou a aprovar licenças para novas perfurações de petróleo e gás – o que enfureceu muitos dos apoiadores tradicionais de Biden, bem como políticos do Partido Democrata, que querem que ele declare uma emergência climática e bloqueie qualquer nova produção de combustíveis fósseis.

A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, democrata de Nova York, recebeu fortes aplausos no final da marcha quando descreveu a ação climática como “uma paraça eleitoral e popular que não pode ser ignorada. Este é o maior problema do nosso tempo”, afirmou.

A enorme adesão popular aos protestos em Nova York surpreendeu os organizadores, e seguiu-se a um fim de semana de protestos climáticos na Alemanha, Inglaterra, Senegal, Coreia do Sul, Índia e outros lugares. São as maiores manifestações do tipo desde antes da pandemia de covid-19, e surgem na sequência do verão mais quente de que se há registo, agravado pelo aquecimento planetário e em um contexto de lucros recorde para as empresas de petróleo e gás.

Entre os manifestantes de todas as idades, havia pessoas em cadeiras de rodas e empurrando carrinhos com bebês; profissionais de saúde e ativistas antinucleares; monges e religiosos ortodoxos; líderes locais e representantes sindicais; cientistas e músicos. E muitos, muitos jovens estudantes.

“Estou aqui hoje porque precisamos parar a extração da Mãe Terra e dos recursos naturais para a ganância e para os bilionários e corporações em todo o mundo”, disse Juliane Hughes, 28 anos, ativista cuja família no Arizona sentiu o impacto de incêndios florestais exacerbados pela seca e pelo calor.

De acordo com os modelos científicos, bem como com as projeções da Agência Internacional de Energia, as nações devem parar novos projetos de petróleo, gás e carvão se quiserem que o mundo permaneça dentro de níveis relativamente seguros de aquecimento atmosférico.

Muitos ativistas direcionaram seus protestos ao fato de que as negociações climáticas da ONU deste ano serão realizadas nos Emirados Árabes Unidos, um estado líder na produção de petróleo, e serão supervisionadas pelo Sultão al-Jaber, chefe da gigante petrolífera estatal do país.

Para Marcos Rodriguez, estudante peruano que participava da marcha, não é mais possível continuar vivendo como se nada estivesse acontecendo.

“Temos que agir como se nossa casa estivesse pegando fogo. Porque está”, disse.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Spencer Platt/Getty Images.