Com ajuda de arte e educação, biólogos querem salvar da extinção os sapos-arlequim

Eles são chamados de “joias da região neotropical”. Não é difícil descobrir porquê. Basta olhar para suas cores que parecem saídas de um arco-íris e entender a razão pela qual os sapos-arlequim ganharam esse título. Conhecidos cientificamente como Atelopus, podem ser encontrados em diversos habitats desde o norte da Costa Rica até o sul da Bolívia, e desde o oeste do Equador até o leste da Guiana Francesa, incluindo outros sete países, entre eles, o Brasil.

São 99 espécies do gênero Atelopus descritas até hoje pela ciência. Todavia, infelizmente, essas belíssimas criaturas enfrentam graves ameaças, que podem levar à sua extinção. Mais de 75% das espécies de sapos-arlequim estão em risco e quatro delas já desapareceram.

Entre as principais causas para o sumiço e queda dessas populações está o fungo Batrachochytrium dendrobatidis (Bd), que causa uma doença letal, a quitridiomicose. Além disso, esses animais sofrem ainda com outras ameaças, como a perda de habitat, a crise climática, o tráfico de animais silvestres e a introdução de espécies invasoras, como a truta-arco-íris, que ataca os girinos de sapos-arlequim.

No ano passado, mais de 40 entidades, de 13 países, se uniram num projeto inédito e pioneiro para reforçar esforços até então feitos separadamente. A Iniciativa de Sobrevivência Atelopus (ASI) tem um plano ambicioso: salvar os sapos-arlequim da extinção ao longo dos próximos 20 anos (2021-2041).

A ideia é traçar uma estratégia conjunta, compartilhando experiência em pesquisas e estudos das últimas décadas, mas que podem ser adaptados e implementados localmente, de acordo com as necessidades, oportunidades e realidades de cada país.

Arte e educação

O coordenador da Iniciativa de Sobrevivência Atelopus é o pesquisador brasileiro Luis Fernando Marin da Fonte. “Somos uma aliança internacional de pessoas e organizações trabalhando pela conservação dos sapos-arlequim. Como coordenador, minha função é juntar essas pessoas, fazer com que elas colaborem e trabalhem juntas, catalisar parcerias, incentivar a execução de projetos e conseguir financiamento para a implementação das ações do plano de ação para a conservação dessas espécies”, revela.

Uma dessas ações, financiada pela National Geographic Society, foi a produção de um material de educação ambiental, que alia arte e música, para chamar a atenção sobre os sapos-arlequim entre comunidades locais, já que esses animais são pouco conhecidos. Para isso, foram lançados vídeos e canções, além de um livro com informações e ilustrações, em português, espanhol e inglês.

“Para esse projeto escolhemos quatro espécies, bastante ameaçadas, de quatro países: Panamá, Equador, Colômbia e Brasil. No nosso caso, a brasileira foi o sapinho manauara, de Manaus, o Atelopus manauensis“, conta o biólogo e fotógrafo Pedro Peloso, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi e um dos profissionais envolvidos na iniciativa dos sapos-arlequim.

Além do sapinho manauara, as outras três espécies que ganharam música e vídeo são a rã da noite estrelada (Atelopus arsyecue), da região de Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, o sapo negro (Atelopus ignescens), de Angamarca, no Equador, e a rã dourada (Atelopus zeteki), de Valle Antón, no Panamá.

O grupo colombiano Jacana Jacana foi o responsável por gravar as músicas. No caso do sapinho manauara, ela foi escrita em conjunto com os pesquisadores e conta, inclusive, com a participação, em voz, de Luis Fernando e Pedro, além da filha desse último, Lia Peloso.

A intenção é que no futuro, outros vídeos sejam lançados, mostrando as demais espécies de sapos-arlequim, mas isso depende de mais financiamento.

Enquanto isso, os pesquisadores continuam trabalhando em campo e em laboratório para descrever mais dessas joias dos neotrópicos.

“No Brasil ainda estamos investigando quantas espécies existem. Atualmente são duas descritas, ambas na Amazônia. Mas é possível que existam mais, uma inclusive sendo estudada atualmente”, diz Pedro. “Para isso precisamos avaliar diversidade de canto, morfologia e genética e comparar as populações encontradas aqui com as de outros países”, explica.

Fonte: Conexão Planeta.

Imagem: Divulgação.