Quinze anos atrás, Tim Parton, gerente da fazenda Brewood Park em Staffordshire, na Inglaterra, decidiu inovar, experimentando a agricultura biológica.
Ele deixou de usar pesticidas e fertilizantes sintéticos e passou a aplicar insumos naturais biologicamente ativos — como Trichoderma, uma espécie de fungo — cultivados por ele próprio para ajudar as plantas a crescer e fixar nitrogênio e fósforo no solo.
Parton faz parte de uma comunidade agrícola em crescimento, que adota práticas de agricultura regenerativa, uma técnica que prioriza a saúde do solo e do meio ambiente, minimizando a aplicação de insumos sintéticos.
Ele passou a aplicar insumos biológicos na sua fazenda após enfrentar dores de cabeça e erupções na pele, causadas pelo uso de pesticidas.
Desde que adotou a agricultura biológica, Parton não sofreu mais problemas de saúde. Ele não precisa usar fertilizantes de fósforo e potássio na sua fazenda há mais de 10 anos.
Parton afirma que observou um grande aumento das espécies de aves e insetos desde que parou de usar pesticidas para controlar insetos e ervas daninhas.
Os pesticidas são substâncias químicas usadas para repelir, destruir e controlar pragas, ervas daninhas ou outros organismos que afetam o crescimento das plantas. Eles são eficazes, mas contêm componentes tóxicos que podem ter extensos efeitos, às vezes crônicos, sobre os órgãos sensoriais e o sistema nervoso humano.
Os pesticidas começaram a ser desenvolvidos nos anos 1930 para proteger a produção norte-americana de alimentos. Mas muitas comunidades agrícolas logo ficaram dependentes do seu uso, devido ao seu efeito significativo sobre a produção.
Atualmente, cerca de um terço da produção agrícola mundial depende dos pesticidas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 mil tipos de pesticidas são usados em todo o mundo. Alguns dos mais comuns são os herbicidas (49%), fungicidas e bactericidas (27%) e inseticidas (19%).
Estima-se que a população mundial atinja 9,3 bilhões de pessoas em 2050, o que irá exigir um aumento da velocidade de produção de alimentos de 60%. Para sustentar essa demanda, os pesquisadores acreditam que os agricultores precisarão usar ainda mais pesticidas.
Um estudo dos sistemas agrícolas europeus afirma que a suspensão total do uso de pesticidas pode gerar uma queda de 78% na produção de frutas, 54% de legumes e verduras e 32% de cereais.
Mas nossa dependência dos pesticidas também traz um custo significativo para o meio ambiente. Pesquisas indicam que os pesticidas podem ser responsáveis pela perda do olfato das abelhas e salmões, além da contaminação de corpos d’água, ameaçando os ecossistemas aquáticos.
Os pesticidas também podem entrar na cadeia alimentar, por meio de um processo conhecido como bioacumulação. Ela ocorre quando uma substância se acumula no corpo devido à nossa incapacidade de decompô-la.
Apesar de todas as regulamentações globais sobre o uso de pesticidas, um estudo estima que ocorram cerca de 385 milhões de casos de envenenamento agudo acidental com pesticidas entre os trabalhadores agrícolas todos os anos.
Quando pulverizados, os pesticidas produzem vapores que podem se tornar poluentes do ar.
Nos Estados Unidos, 37-54% das doenças relacionadas aos pesticidas entre os trabalhadores rurais são atribuídas aos resíduos da pulverização.
Os sintomas podem variar de dores de cabeça e náuseas até sensações de queimação da pele.
Os moradores da região região agrícola de Saku, no Japão apresentaram alta incidência de anomalias da visão, após a exposição a inseticidas organofosforados. Os efeitos da doença de Saku incluíam visão embaçada, distúrbios no movimento dos olhos, miopia e astigmatismo.
Um estudo de 2020 concluiu que 44% dos trabalhadores agrícolas — estima-se que haja 860 milhões deles em todo o mundo — sofrem envenenamento por pesticidas todos os anos. Este número se deve à falta de equipamento protetor ou ao uso de equipamento com defeito, o que aumenta a exposição por absorção na pele, inalação ou ingestão.
Um estudo da Universidade de Guelph, no Canadá, indica que os pesticidas causam mutações das células animais, imitando os efeitos das mutações conhecidas por causarem Parkinson.
A exposição de pesticidas durante a gravidez ou a primeira infância também já foi associada ao desenvolvimento de autismo entre as crianças.
Quais são os herbicidas mais comuns?
Na União Europeia, os fungicidas e bactericidas são a classe mais comum de pesticidas (45%), seguidos pelos herbicidas (32%) e inseticidas/acaricidas (11%).
Dois dos herbicidas mais comuns incluem atrazina e glifosato. Estas duas substâncias são usadas para controlar gramas e ervas daninhas e são frequentemente aplicadas a produtos agrícolas comuns, como soja, milho e cana-de-açúcar.
O glifosato passou a ser uma substância especialmente controversa quando a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer da OMS afirmou que ele “provavelmente é carcinogênico para seres humanos”, em 2015.
Mas o efeito carcinogênico do glifosato sobre os seres humanos permanece inconclusivo, já que a maioria das pesquisas até hoje foi realizada com animais.
Efeitos sobre as crianças
As crianças são particularmente vulneráveis aos pesticidas, devido à sua fisiologia, metabolismo mais rápido e aos seus comportamentos.
Em 2014, crianças em idade escolar sofreram envenenamento por pesticidas na região de Bordeaux, na França. Em uma escola primária localizada perto de um vinhedo, 23 alunos sofreram náuseas, dores de cabeça e irritação na pele depois que fungicidas foram pulverizados às uvas.
Os idosos também são particularmente vulneráveis devido à sua pele mais fina, que aumenta o risco de envenenamento por contato dérmico.
É possível reduzir os níveis de pesticidas em 10 a 80% com métodos de cozimento e processamento — escaldando, fervendo ou fritando os alimentos. E um estudo comparativo de 2022 concluiu que lavar com água ou ferver é a forma mais eficaz de remover os resíduos de pesticidas.
Fonte: BBC Future.
Foto: Getty Images.