Comportamento inusitado em baleias explicaria criatura descrita há 2 mil anos

Um comportamento de baleias observado em 2011 pode ter sido documentado há mais de 2 mil anos em contos nórdicos, segundo um estudo feito por pesquisadores da Universidade Flinders, na Austrália, e publicado no periódico Marine Mammal Science nesta terça-feira (28).

O ato em questão é quando as baleias se posicionam com a boca aberta em ângulo reto, esperando que cardumes entrem ali. Essa estratégia parece funcionar, uma vez que os peixes acham que encontraram um lugar seguro para se abrigar de predadores, sem perceber que estão nadando para o perigo.

Um dos autores do estudo australiano, John McCarthy, notou que a descrição da criatura nórdica hafgufa era muito semelhante a esse comportamento dos cetáceos modernos. “Depois que comecei a analisá-lo em detalhes e discuti-lo com colegas especializados em literatura medieval, percebemos que as versões mais antigas desses mitos não descrevem monstros marinhos, mas são explícitas ao descrever um tipo de baleia”, diz McCarthy, em nota.

Os contos que descrevem a criatura datam do século 13, e ela permaneceu em mitos islandeses até o século 18, assim como os infames kraken e sereias. Segundo o novo estudo, o folclore nórdico pode ter se baseado em bestiários medievais, um tipo popular de texto que descrevia animais reais e fantásticos.

Os bestiários incluiam a descrição de uma criatura muito semelhante ao hafgufa, normalmente chamada de aspidochelone. “Descobrimos que os relatos mais fantásticos desse monstro marinho são relativamente recentes, datados dos séculos 17 e 18, e tem havido muita especulação entre os cientistas sobre se esses relatos podem ter sido provocados por fenômenos naturais, como ilusões óticas ou vulcões submarinos”, comenta a coautora Erin Sebo, professora associada de literatura e linguagem medievais na Faculdade de Humanidades, Artes e Ciências Sociais da Universidade de Flinders.

E há também outra característica que, segundo os pesquisadores, remete às baleias nos contos antigos: tanto hafgufa quanto aspidochelone emitem um cheiro que ajuda a atrair os peixes para suas bocas estacionárias.

Embora algumas baleias produzam âmbar cinzento, que é um ingrediente do perfume, isso não se aplica a animais como as jubartes. Para os autores, essa descrição pode ter sido inspirada pela ejeção de presas filtradas por esses mamíferos marinhos.

Os autores ficaram entusiasmados com os achados. “É emocionante, porque a questão de há quanto tempo as baleias usam essa técnica é a chave para entender uma série de questões comportamentais e até evolutivas. Os biólogos marinhos presumiram que não havia como recuperar esses dados, mas, usando manuscritos medievais, conseguimos responder a algumas de suas perguntas.”

Fonte: revista Galileu.

Imagem: John McCarthy, Universidade Flinders.