Contato com a natureza é um antidepressivo, diz psicólogo que estuda banho de floresta

Ainda pouco conhecido do outro lado do planeta, o banho de floresta (“shinrin-yoku”) é uma terapia que foi introduzida no serviço de saúde pública do Japão desde a década de 1980. No Brasil, o psicólogo Marco Aurélio Carvalho, diretor do Instituto Brasileiro de Ecopsicologia, foi o guia do primeiro banho de floresta realizado no país.

Em 2021, o instituto firmou um convênio com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para pesquisar o papel dessa terapia em biomas como a mata atlântica e a floresta amazônica.

A prática é simples – caminhar em meio à natureza e contemplá-la—, mas os benefícios se mostram grandes em estudos das últimas quatro décadas.

“Quanto mais o tempo passa, mais vai ficando claro que a natureza, a floresta, mesmo que uma só árvore, já provoca um efeito restaurador muito importante no organismo”, diz Carvalho.

“Uma pesquisa da Universidade Stanford revelou que as árvores têm efeitos sobre o nosso cérebro, inclusive em regiões associadas à depressão. Ou seja, o contato com árvores é um antidepressivo”, destaca.

O psicólogo faz parte também da Rede Saúde e Natureza Brasil, que elaborou um manifesto para que o poder público reconheça a correlação entre essas duas áreas e gere políticas públicas para promovê-las. Para Carvalho, o SUS (Sistema Único de Saúde) deveria adotar, assim como fez o Japão, o banho de floresta entre as suas terapias.

Outra falta nos tempos atuais é a de espaços para que lidemos com a ansiedade gerada pelas mudanças climáticas, a chamada ecoansiedade. Ou, no outro extremo, com a negação dessa realidade.

“Nós percebemos que a informação as pessoas têm, mas a assimilação da informação, não. A informação vai para uma dimensão abaixo da consciência. A gente chama isso de negação ou deflexão”, explica.

“E quanto mais essa realidade é negada, mais enfraquecida fica a paraça política necessária para pressionar as autoridades a fazerem o que têm que fazer”, completa.

Para a ecopsicologia, a sabedoria ecológica faz parte da consciência humana. O que isso significa?

Essa é uma constatação quando nós olhamos para a história da nossa espécie e reconhecemos que conseguimos sobreviver face às limitações do nosso próprio corpo a diferentes ambientes, porque soubemos ler a natureza e nos adaptar a ela. Isso é inerente à psique humana.

Como dizia o biólogo Edward Wilson [1929-2021], é uma sensação de afiliação a toda essa teia da vida. Ele chamou de biofilia, ou seja, uma relação positiva, de afeto, inclusive. E é muito claro para nós que vivemos uma carência dessa sabedoria ecológica.

Quais são os benefícios comprovados cientificamente das florestas e das árvores para a saúde humana?

Desde 1980, vêm surgindo pesquisas que revelam o papel positivo do contato com a natureza na manutenção e na restauração da saúde, tanto física quanto psicológica.

Uma famosa pesquisa feita em um hospital na Pensilvânia (EUA) revelou que pacientes que se recuperavam de cirurgias no mesmo andar de um hospital, mas em dois ambulatórios diferentes, tinham recuperações diferentes. Eles tinham menos dor, menos necessidade de analgésicos, quando estavam se recuperando numa das salas com janela para uma floresta, enquanto no outro ambulatório a janela dava para uma parede de tijolos.

O ato de ver a vida nas florestas provoca um efeito no nosso organismo. Pesquisas posteriores foram mostrando, especialmente, que a prática do banho de floresta é uma poderosíssima experiência reconectiva. Foram se revelando outros efeitos, por exemplo, uma ampliação da atividade do sistema nervoso parassimpático, reações de relaxamento, regulação da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. O nível de cortisol, um hormônio normalmente associado ao estresse, diminui a partir do contato com as árvores.

Descobrimos também que o sistema imunológico é altamente estimulado pela presença de árvores, chegando a haver um aumento na atividade em mais de 50% das chamadas células k, responsáveis pela destruição de tumores.

E uma pesquisa da Universidade Stanford revelou que as árvores têm efeitos sobre o nosso cérebro, inclusive em regiões associadas à depressão. Ou seja, o contato com árvores é um antidepressivo.

Então, quanto mais o tempo passa, mais vai ficando claro que a natureza, a floresta, mesmo que uma só árvore, já provoca um efeito restaurador muito importante no organismo.

Em 2021, o Instituto Brasileiro de Ecopsicologia e a Fiocruz assinaram uma parceria para a pesquisa da prática do banho de floresta. Qual o escopo deste acordo?

Em 2021, nós fizemos esse convênio para constatar o que acontece quando se faz uma prática do banho de floresta nos biomas brasileiros.

Nós sabemos o que acontece em biomas estrangeiros, especialmente nas florestas no Japão, mas nos interessa saber como é isso na mata atlântica, na floresta amazônica, no cerrado, no pampa e também em outras manifestações da natureza, como praias, que não são propriamente uma floresta. Enfim, queremos saber como o contato com a natureza brasileira atua na saúde.

O convênio vai além da pesquisa, ele também conta com uma campanha junto a órgãos públicos na área de saúde. Um grupo de pesquisadores e ativistas chamado Rede Saúde e Natureza Brasil elaborou um manifesto para que o poder público reconheça a potência que há entre essas duas áreas e se sinta estimulado pelas evidências científicas a gerar políticas públicas.

Fonte: Folha SP.

Foto: Lalo de Almeida – 26.ago.2019/Folhapress.

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