Custo para fazer pasto degradado virar soja passa de R$ 480 bilhões

A conversão de todas as pastagens degradadas existentes no Brasil com aptidão para a agricultura demandará um investimento de R$ 482,6 bilhões caso sejam todas transformadas em lavouras de soja, de acordo com um estudo feito pelo Itaú BBA.

O montante equivale a um Plano Safra inteiro, que financia toda a produção agropecuária do Brasil em um ano. Embora a perspectiva não seja de empenhar esses recursos em apenas um ano, o cálculo dá a dimensão do desafio para aumentar a produção agrícola sem derrubar vegetação nativa.

“Seria uma enorme oportunidade para o agro capitalizar em cima de uma demanda [por grãos] que vai crescer, produzindo com sustentabilidade e evitando uma emissão colossal de carbono, usando o próprio território”, afirmou Cesar de Castro Alves, gerente de consultoria agro do Itaú BBA.

O cálculo considerou levantamento da Embrapa segundo o qual há 28 milhões de hectares de pastos com degradação intermediária a severa no país, mas com potencial para serem transformados em cultivos agrícolas.

A conclusão baseou-se na experiência do Itaú BBA no Programa Reverte, de financiamento para conversão de pastagens no Cerrado, que o banco opera em conjunto com a Syngenta e a organização The Nature Conservancy (TNC).

Segundo o banco, para a conversão de pastos com degradação intermediária, o custo médio tem sido de R$ 16.904 o hectare, enquanto para a conversão de pastos com degradação severa, o custo fica em R$ 17.784 o hectare.

A diferença deve-se à necessidade de aplicação de cal e adubação em pastos mais degradados, além de essas áreas exigirem mais manejo do solo. Se todos os produtores já tivessem as máquinas e os equipamentos — como pá, motoniveladora, subsolador, escarificador e grade —, o custo cairia a R$ 188,7 bilhões.

O Itaú BBA trabalhou com a premissa de que todas as pastagens degradadas seriam transformadas em lavouras de grãos, mas o próprio banco observa que a conversão de pastos pode se dar também para outros tipos de cultivos.

Para Julia Mangueira, diretora de conservação para o Cerrado da TNC, é importante que haja diversificação na produção implantada sobre os pastos degradados, como em pecuária intensiva, sistemas de integração, recuperação de vegetação nativa e outros cultivos. “A diversificação melhora a infiltração de água nos solos e aumenta a resiliência às mudanças climáticas.” Para isso, os instrumentos financeiros precisam estar adaptados a outros perfis financeiros, diz.

Os produtores hoje já convertem pastos para agricultura, a uma taxa média de 1,5 milhão de hectares transformados todo ano, segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Sem incentivos, esse ritmo levaria o Brasil a converter todos os seus pastos degradados daqui 18 anos.

Para acelerar essa transformação, o governo vem implementando um programa de conversão de pastagens, rebatizado de Caminho Verde Brasil, que está em fase de estruturação de financiamento.

Para Alves, o maior desafio para efetivar a conversão dos pastos hoje é o custo financeiro, dado o alto nível da Selic. No leilão do Ecoinvest que está em andamento para apoiar o programa Caminho Verde Brasil, o governo estima que as taxas ficarão na casa de um dígito.

Outro desafio é a necessidade de monitoramento das áreas, para garantir que não voltem a se degradar. Além disso, Alves ressalta que é preciso garantir assistência aos produtores, já que muitas vezes os pastos degradados estão na mão de pecuaristas, que não têm o mesmo conhecimento dos agricultores sobre lavouras.

Fonte: Um Só Planeta.

Foto: Alex Melotto/Divulgação.