Uma das maiores fontes de alimento humano no planeta ainda não é suficientemente explorada: as algas marinhas – que crescem rapidamente, têm alto valor nutricional e ainda ajudam a neutralizar emissões de gases do efeito estufa – devem ser a comida do futuro.
A expectativa é a de que o mercado de algas marinhas, que atualmente movimenta cerca de US$ 11 bilhões de dólares por ano, poderia chegar a US$ 85 bilhões até 2030, segundo a diretora global de meio ambiente do Banco Mundial, Valerie Hickey. Apesar do potencial de crescimento, a aceitação desses produtos ainda é limitada, especialmente nos países ocidentais.
“Existe um interesse crescente pelas algas marinhas, mas também existem algumas diferenças culturais em termos da aceitação delas como alimento. Temos algumas regiões onde já há essa tradição, como na Ásia, mas em outras áreas ainda há um longo caminho a percorrer”, explicou a representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), Merete Tandstad.
Nos países ocidentais, a aplicação mais conhecida das algas marinhas na alimentação está em restaurantes de culinária japonesa – o nori, uma espécie de folha feita a partir de algas prensadas e desidratadas, é usado em temakis e sushis, por exemplo.
Mas as possibilidades vão muito além dele: uma série de startups está investindo em produzir outras comidas feitas de algas. De mortadela à camarão, passando por imitações de peixe, empresas e grupos de pesquisa estão desenvolvendo diversos novos produtos.
Para a diretora de meio ambiente do Banco Mundial, as algas marinhas fazem parte do rol de soluções para o problema da fome no mundo e também para a redução dos efeitos das mudanças climáticas, mas precisam ser alvo de mais investimentos nos próximos anos.
“Realmente, algas marinhas são a resposta, mas ninguém leva a sério. Todo mundo sempre pensa que é um mercado muito de nicho”, reclamou Valerie Hickey, durante um painel na conferência.
Novos produtos
A mortadela que contém microalgas, por exemplo, é uma criação neozelandesa que tem por trás chefes de cozinha com passagens por restaurantes premiados na Europa. O embutido desenvolvido pela startup New Fish aproveita o sabor levemente salgado da alga, que é combinada com um molusco típico da Nova Zelândia, chamado abalone, e com uma mistura de carne de porco.
“Acreditamos que algas marinhas sustentáveis devem se tornar a base de nossas culturas de frutos do mar e estamos apoiando o crescimento do setor por meio de nossos produtos”, dizem os fundadores, em uma declaração oficial.
A startup americana New Wave Foods, que fabrica réplicas de frutos do mar, anunciou a criação de um camarão feito de algas marinhas e proteínas vegetais não transgênicas, o que traria um sabor e textura “praticamente indistinguíveis” do crustáceo real. A empresa arrecadou mais de US$ 18 milhões em investimentos para desenvolver o alimento.
Fora do mundo corporativo também há novos usos para algas marinhas em desenvolvimento. Na Universidade de Lisboa, cientistas receberam, no começo deste ano, um financiamento de 215 mil euros para o projeto Algae2Fish, do Instituto de Bioengenharia e Biociência (iBB).
O objetivo é criar o primeiro filé de peixe, parecido com robalo, feito unicamente de algas a partir de impressão 3D. A expectativa é que, daqui a cerca de dois anos, o primeiro protótipo esteja pronto e possa ser provado por um painel de degustadores.
A principal motivação por trás desses estudos é o potencial que as fazendas de algas marinhas têm de absorver as emissões de CO2, gás que é o principal causador das mudanças climáticas.
Além disso, as fazendas de algas também são consideradas estratégicas para reduzir a acidificação dos mares e para restauras ecossistemas marinhos.
A produção de algas para fins comerciais também foi apontada pelos especialistas como uma alternativa para comunidades pesqueiras afetadas pela redução nos cardumes de peixes.
Fonte: G1.