Declaração histórica firmada na COP30 prioriza combate à desinformação climática

Nesta quarta-feira (12), durante a COP30, em Belém, 12 países assinaram a Declaração sobre Integridade da Informação em Mudanças Climáticas, marcando a primeira vez que um Estado se compromete formalmente a combater a desinformação climática. Os signatários até o momento incluem Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Espanha, Suécia, Uruguai, Holanda e Bélgica.

O documento apela aos governos, empresas e instituições acadêmicas para que promovam informações precisas e combatam o negacionismo climático e os ataques à Ciência e ao jornalismo ambiental.

Para isso, cada país concordou em apoiar um ecossistema de mídia robusto, promover o acesso igualitário a informações precisas sobre questões climáticas, aumentar a capacidade de promover a integridade da informação e pressionar os interesses do setor privado, como as grandes empresas de tecnologia, a combater a desinformação e a publicidade irresponsável, informou o The Guardian.

Na abertura do evento, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que a COP30 precisa representar uma “nova derrota para os negacionistas”.

«Vivemos numa era em que obscurantistas rejeitam provas científicas e atacam instituições. É tempo de impor mais uma derrota ao negacionismo», disse Lula, acrescentando que a COP30 será a «COP da verdade» numa era de «fake news e deturpação».

Antes da COP30, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também colocou a luta contra a desinformação climática em destaque. Disse que o mundo deve «combater a informação errónea e a desinformação, o assédio online e o greenwashing».

Desinformação pode comprometer negociações

O enviado especial da COP30 para Integridade da Informação, Frederico Assis, disse à ONU News que a “desinformação alimentada por visões obscurantistas, alimenta o extremismo político e coloca vidas em risco”, inclusive em contextos de desastres climáticos. Para ele, existe um risco real de interferência nas negociações climáticas.

“Há um reconhecimento geral de que a desinformação pode afetar e comprometer todas as nossas ações no processo da COP, seja na negociação diplomática, seja na agenda de ação, seja na mobilização ou na cúpula. Todas as nossas ações estarão comprometidas se não trabalharmos corretamente o combate à desinformação, que é fruto de negacionismo”.

Ele destacou a preocupação com algoritmos que potencializam o alcance de conteúdos “conspiratórios e manipuladores”, que muitas vezes usam “táticas sofisticadas para passar mensagens mentirosas”.

Desvendando os mecanismos sobre informações falsas

Em entrevista para a ONU News, o diretor de Políticas e Inclusão Digital da UNESCO, Guilherme Canela, ressaltou que esta é a primeira vez que o tema da integridade da informação entra na agenda oficial de uma COP.

Ele destacou que a iniciativa global vai contribuir para entender os mecanismos de distribuição da desinformação.

“Nós sabemos muito pouco sobre o que está por detrás disso. Por exemplo, quem é que financia esses posts e porque é que eles espalham mais rapidamente que outros tipos de conteúdo? Como é que isso acontece? Então, se a gente não conseguir saber mais sobre isso, é muito difícil tecer estratégias e iniciativas e atividades para combater esse fenômeno. Então, o coração dessa iniciativa global, é justamente financiar, sobretudo no Sul global, atividades de jornalismo investigativo, de pesquisa sobre o tema da desinformação para entender exatamente o que está acontecendo”.

O Fundo Global para a Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas da Iniciativa já recebeu 447 propostas de quase 100 países. Com um financiamento inicial de US$ 1 milhão do Brasil, o Fundo começou a apoiar uma primeira leva de projetos, com quase dois terços das propostas originárias de países em desenvolvimento.

Canela afirmou que é muito gratificante perceber que o tema está sendo “assumido de maneira muito forte na COP30”.

Narrativas “mudam de roupagem”

Parcerias digitais são cruciais para avançar na direção certa. Sobre este tema, a ONU News ouviu a influenciadora digital Maria Clara Moraes, que integra a iniciativa “Verificado” da ONU. Ela conta que a luta contra a desinformação climática é “completamente possível, mas também muito árdua”.

A co-fundadora da plataforma Marias Verdes, que tem mais de 500 mil seguidores no canal Tik Tok, afirmou que a desinformação é muito bem estruturada e “conta com paraças muito poderosas principalmente a indústria do petróleo”.

Ela explicou que as narrativas para desacreditar a ação climática “mudam de roupagem” ao longo do tempo.

Porque importa?

Charlotte Scaddan, conselheira sénior para a integridade da informação nas Comunicações Globais da ONU, afirmou, no lançamento da declaração, que o mundo está num «momento crítico em que dois dos desafios mais prementes da humanidade se entrelaçaram de forma perigosamente estreita».

Acrescentou que a falta de confiança na informação é uma «tendência profundamente preocupante» em todo o mundo, com as alterações climáticas a serem «instrumentalizadas» como tema decisivo para polarizar sociedades inteiras e minar processos democráticos.

«Os vencedores nesta economia da desinformação… são os interesses dos combustíveis fósseis, determinados atores políticos e influenciadores digitais que monetizam a indignação e a mentira.»

Desinformação climática disparou antes da COP30, segundo um relatório da Climate Action Against Disinformation e do Observatory para Information Integrity. O estudo identificou um aumento de 267 por cento na desinformação relacionada com a COP entre julho e setembro deste ano. Palavras-chave ligadas à cimeira do clima da ONU surgiram 14 000 vezes ao lado de termos como «fracasso», «catástrofe», «desastre» e «piada».

Ainda na quarta-feira, centenas de organizações da sociedade civil, cidadãos, grupos indígenas e líderes globais assinaram uma carta aberta a pedir que os governos nacionais promovam uma decisão forte, ambiciosa e obrigatória na COP30 para garantir a integridade da informação.

A carta afirma que a degradação e poluição do ecossistema informativo não é apenas uma crise climática, é uma «emergência global multifacetada».

Aponta para estudos recentes do International Panel on the Information Environment (IPIE) e da Climate Social Science Network, que mostram que atividades organizadas de obstrução climática «estão a atrasar ativamente a resposta humana à crise, a sabotar diretamente a cooperação internacional, a tornar inalcançáveis os objetivos do Acordo de Paris e a pôr em risco a vida de milhões de pessoas».

Fontes: ONU News, Euronews, Um Só Planeta, Agência Brasil.

Foto: Imagem: Johner Images Royalty-Free/GettyImages.

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