Um artigo publicado na revista Earth’s Future em 31 de janeiro de 2022, mas divulgado somente ontem (26) pelo site IFLScience, mostrou que o descongelamento do permafrost — um solo congelado há mais de dois anos — pode possibilitar que o gás radônio, que é cancerígeno, chegue a superfície do Ártico.
De acordo com o professor Pauk Glover da Universidade de Leeds, na Inglaterra, o permafrost atua como uma barreira protetora de gases que se encontram no solo. Ocasionado pelo aumento da temperatura terrestre, o seu derretimento acarretaria na liberação desse reservatório e na acumulação de gases, dentre eles, o radônio.
“O radônio é conhecido por ser a segunda causa mais importante de câncer de pulmão depois do tabagismo”, disse Glover, em comunicado. “O tabagismo também aumenta as taxas de câncer de pulmão adquirido por radônio em cerca de 26 vezes, e o tabagismo é até 4,4 vezes mais prevalente em comunidades árticas.”
Para avaliar a atuação do gás nesse processo, os pesquisadores modelaram a produção de radônio e sua propagação pelo solo, realizando construções simuladas de casas nos padrões do Ártico — desde edifícios com porões subterrâneos e superficiais até aqueles construídos de maneira mais tradicional sobre estacas.
A análise confirmou a atuação do permafrost como proteção, mas também mostrou que ele acaba aumentando a concentração de radônio retido em 12 vezes.
Dependendo da profundidade do permafrost e da velocidade de seu descongelamento, imóveis com porões poderiam exceder 200 becquerel (Bq) por metro cúbico (m3) (medida utilizada para medir a radioatividade) em um período de até sete anos. Embora não haja um nível demarcado como periculoso, essa quantidade é o suficiente para a legislação de alguns países elencar a necessidade de aumento da ventilação e vedação de rachaduras nas construções.
Glover ainda alerta que, mesmo com um modelo baseado em suposições, os resultados alcançados devem ser levados em consideração para se pensar nos perigos trazidos pelo aquecimento global para a população. O professor também destaca a necessidade de mais estudos sobre as propriedades do solo Ártico.
“Se o permafrost fosse estável, não haveria motivo para preocupação. No entanto, as mudanças climáticas estão levando a um significativo descongelamento nos árticos, com uma perda esperada de 42% na Região Permafrost Circumpolar Ártica (ACPR) até 2050”, disse o professor.
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Wikimedia Common.