Na terça-feira (26), o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado) divulgou novos dados sobre a remoção da vegetação nativa no Matopiba, fronteira agrícola composta por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Segundo o levantamento, desde janeiro, 494 mil hectares foram afetados – o que representa cerca de 75% da área desmatada de todo o Cerrado no ano.
O SAD Cerrado é um projeto de monitoramento mensal desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM). Automático, o sistema utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, e, a partir de suas análises, fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre o desmatamento desde agosto de 2020.
Dados do sistema apontam que, somente em agosto de 2023, 58 mil hectares foram perdidos no Matopiba, o que equivale a 76,8% do desmatamento do bioma inteiro no último mês. A área total convertida na região foi 32,6% maior do que o registrado nos primeiros oito meses de 2022.
Além disso, dos quatro estados da fronteira agrícola, três demonstraram uma aceleração no desmatamento durante agosto. Esse subgrupo inclui a Bahia, que registrou um desmatamento de 8,7 mil hectares, 5,3% a mais do que em 2022; o Tocantins, cujo aumento foi de 36%, com 15,3 mil hectares abertos; e, por último, o Piauí, com um aumento de 11% em sua área desmatada, chegando a 7 mil hectares.
Contudo, mesmo mantendo sua área desflorestada semelhante à de agosto do ano passado, o Maranhão ainda é líder de desmatamento no Matopiba. Isso porque o estado acumula 30,6 mil hectares afetados. A área desmatada ocorreu principalmente nos municípios de Balsas, Caxias e Mirador, que, juntos, derrubaram 7,3 mil hectares.
Inclusive, o maior desmatador do mês no Cerrado todo foi Balsas, com 4,6 mil hectares derrubados. Um único alerta de desmatamento no local foi responsável por desmatar 1.300 hectares, sendo que, sozinho, esse sinal responde por 28% de todo o desmate do município registrado em agosto.
Ainda segundo o SAD Cerrado, a lista de municípios que mais desmataram o bioma mostra a liderança de locais do Matopiba. Em agosto, todas as dez cidades que mais perderam vegetação nativa estavam nessa região.
“O desmatamento da vegetação nativa no Cerrado segue acelerado, sendo convertido em extensas áreas de pastagens e agricultura de commodities, como a soja e o algodão”, destaca Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM, em nota. “A conversão dessas áreas provoca grandes alterações ecológicas e climáticas, o que consequentemente afeta a disponibilidade hídrica, podendo trazer impactos irreversíveis para as regiões que apresentam poucos remanescentes de Cerrado.”
Bioma ameaçado
O Cerrado como um todo – que tem uma área de 2.045.000 km² – teve 76 mil hectares desmatados no mês passado. Foram 658 mil hectares de vegetação nativa derrubados nos primeiros oito meses do ano, 16,9% a mais do que em 2022.
Em agosto, 49,1% dos alertas captados pelo SAD Cerrado foram de áreas com mais de 50 hectares, considerados grandes aberturas. E, repetindo o padrão dos últimos meses, 86,5% do desmatamento do bioma no mês anterior ocorreu em propriedades privadas.
Além disso, as novas áreas desmatadas avançaram em áreas savânicas do Cerrado, tipo de vegetação caracterizado por árvores de médio porte e gramíneas endêmicas da região.
Outro dado importante sobre o bioma trata das áreas protegidas legalmente por unidades de conservação e territórios indígenas. Essas regiões somam menos de 8% da área total do Cerrado.
“Mais da metade da vegetação nativa remanescente do Cerrado está em áreas privadas (62%) e apenas 12% está em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Assim, a conservação do bioma depende também da participação do setor privado”, afirma Tarsila Andrade, analista de pesquisa do IPAM.
Também é importante notar que o Cerrado é a nascente de oito das 12 bacias hidrográficas do Brasil; e, por mais que algumas nascentes importantes estejam protegidas por unidades de conservação, o volume de água do bioma tem sido afetado pelo desmatamento e pelo consumo de água para irrigação de lavouras.
“Precisamos aumentar a fiscalização tanto do governo federal, como dos governos estaduais e municipais, para proteger o Cerrado e cumprir com o compromisso de zerar a perda de vegetação nativa no país até 2030. O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Bioma Cerrado (PPCerrado) precisa ser implementado rapidamente, pois a conservação do bioma é urgente”, alerta em nota Julia Shimbo, pesquisadora do IPAM.
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Wikimedia Commons.