Do suorzinho ao colapso: como o corpo humano reage ao calorão extremo

Começa com um suorzinho, e a gente se abana. O termômetro sobe um pouco mais, e afrouxamos o colarinho e bebemos água. Mas, de repente, parece que estamos assando por dentro. Se estamos no ônibus lotado então… Logo ficamos ofegantes, sentimos uma tonteira e podemos até desmaiar.

Os efeitos do calorão ambiente podem ser extremos. O corpo humano precisa manter constante a temperatura interna a 36,5 graus Celsius, não importando o termômetro no exterior. Em dias muito quentes, para conseguir isso o corpo fica sobrecarregado, células literalmente derretem. E nosso sistema de resfriamento pode entrar em colapso.

Para você não derreter, há dicas de como driblar o calorão com muita hidratação, roupas mais leves e até compressas de água gelada.

O calorão mata

Nenhum extremo climático é mais mortal do que ondas de calor como a que estamos vivendo e devem se repetir nos próximos meses, fazendo de 2023 e 2024 os anos mais quentes da História. Mais pessoas morrem em decorrência do calor do que de todos os outros desastres climáticos combinados – em 2019, foram 489 mil mortes.

Os principais alvos

Idosos, crianças, pessoas obesas, diabéticos, cardíacos, portadores de doenças respiratórias e pacientes renais são os mais sensíveis ao calorão. E mulheres, em geral, têm menor tolerância do que os homens, devido à distribuição de gordura e a fatores hormonais.

As doenças ‘quentes’
Um estudo do grupo do cientista Camilo Mora, da Universidade do Havaí, identificou 27 distúrbios pelos quais o calor pode matar:

Doenças cardiovasculares são a principal causa de morte associada ao calor. A resposta do corpo às altas temperaturas sobrecarrega o coração e os vasos sanguíneos. O coração precisa trabalhar com mais intensidade e mais depressa. Os vasos sanguíneos são obrigados a se dilatar. Para quem já enfrenta distúrbios, aumenta o desequilíbrio entre o aumento do esforço com a redução da oferta de oxigênio. Isso pode levar a isquemia e infarto.

Doenças respiratórias também podem se agravar durante ondas de calor e são a segunda causa de morte durante esses eventos. O sistema respiratório também é sobrecarregado e ainda sofre as consequências da reação do sistema imunológico à morte de células associada ao estresse térmico.

Doenças cerebrovasculares. As reações ao calor no fluxo sanguíneo para o cérebro e os danos à barreira hematoencefálica podem aumentar a pressão intracraniana, levando à isquemia cerebral e, em casos extremos, hemorragia intracraniana.

Doenças renais e diabetes também estão no topo da lista das preocupações. As renais porque os rins são sobrecarregados e ainda sofrem os efeitos da desidratação. Um estudo publicado na revista Lancet Planetary Health revelou que 15% das pessoas expostas ao calor extremo e prolongado no trabalho – caso de operários da construção civil, garis, policiais, entregadores, vendedores ambulantes, trabalhadores rurais, por exemplo – podem desenvolver problemas renais crônicos. O consórcio de pesquisa europeu Heat Shield alertou que as mudanças climáticas podem provocar uma epidemia de doença renal. Já o diabetes pode se agravar com as alterações do fluxo sanguíneo.

Citotoxicidade (envenenamento das células), coagulação intravascular disseminada (formação de trombos que podem destruir órgãos) e rabdomiólise (síndrome causada pela destruição das fibras musculares).

Doenças mentais e neurológicas. Pesquisas com pessoas idosas indicaram que calor e poluição afetam a cognição e a concentração. Estudos já associaram ondas de calor ao aumento de casos de suicídio, crises de depressão e episódios de violência.

Crises epilépticas. Ondas de calor podem deflagrá-las. Isso ocorreria porque as temperaturas elevadas intensificam a conexão entre os hemisférios do cérebro, o que influenciaria mecanismos associados às convulsões.

Outro mecanismo importante afetado pelo calorão extremo é a regulação do sono. Dormimos pior no calor e isso tem consequências no humor, na capacidade de atenção e na disposição geral.

Há também aumento de acidentes porque o calor e a desidratação dificultam o raciocínio.

Mosquitos e carrapatos se assanham

O calor também traz o risco de epidemias de doenças transmitidas por mosquitos e carrapatos porque esses animais têm o habitat ampliado e a reprodução estimulada pelas temperaturas elevadas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou este ano para o risco de grande aumento do número de casos de dengue, chicungunha, zika, febre amarela e malária, todas transmitidas por mosquitos.

E o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) advertiu para a multiplicação de casos de doenças transmitidas por carrapatos, em especial a febre maculosa.

Fonte: O Globo.

Foto: Arte O Globo.