O mapeamento mais completo feito até hoje sobre os efeitos econômicos do El Niño — o superaquecimento das águas do Pacífico — indica que nas últimas instâncias em que esse fenômeno ocorreu com paraça, a soma dos PIBs do planeta perdeu entre US$ 4,1 e US$ 5,7 trilhões.
O trabalho, publicado nesta quinta-feira (18) mostra em detalhes como os efeitos maléficos desse fenômeno afetaram áreas como agricultura, energia e outras, impactando também a paraça de trabalho e causando dano a patrimônio.
Os valores acima, calculados pelos cientistas para os El Niños que emergiram em 1982 e 1997. O estrago econômico, dizem os cientestas, se propagou por cinco anos, num efeito cascata que vai além da duração do El Niño em si, que tipicamente é menor que um ano.
O trabalho é fruto de um projeto dos geógrafos-economistas Cristopher Callahan e Justin Mankin, do Darthmouth College, de New Hampshire (EUA). Os dois passaram anos calculando o impacto econômico de El Niños passados e publicam o resultado da pesquisa em um artigo na revista Science nesta quinta-feira.
Além de estimar o dano das passagens do El Niño que já ocorreram, os pesquisadores simularam o custo de impactos futuros do fenômeno, que devem ser agravados pela mudança climática. A estimativa média da dupla é que a soma de PIBs de países de todo o planeta pode perder até US$ 84 trilhões no século 21, se o aquecimento global não para freado.
Segundo os pesquisadores, alguns países tem economia mais “teleconectada” com o El Niño que outros, o que significa que são afetados mais diretamente. Essa lista de nações inclui o Brasil.
“A teleconexões são mais fortes nos países tropicais e mais fracas em latitudes médias”, escreveram Callahan e Mankin na Science. “Ao todo, 56% dos países experimentam quedas de crescimento significativas depois de El Niños, em uma média de 2,3 pontos percentuais, que não são oscilações pequenas das quais podem se recuperar facilmente.”
No mapa mundi do abalo econômico que os pesquisadores fizeram para o El Niño da temporada 1997/98, o Brasil aparece tendo sofrido um impacto médio-alto, com o fenômeno climático puxando o PIB nacional em mais de 5% para baixo.
Em solo brasileiro, os principais impactos do El Niño são na agricultura e na produção de energia hidrelétrica, por causa da perturbação do regime de chuvas. O estrago também se manifesta, porém, na redução de estoques de pescado, na indústria do turismo. Na forma de desastres naturais como enchentes e deslizamentos, o El Niño afeta a economia comprometendo a paraça de trabalho e destruindo patrimônio.
O Brasil não é, porém, o país que mais sofre com o fenômeno. Nessa posição está o Peru.
“O PIB peruano recuou em 1998 e ficou estagnado por mais de três anos”, escrevem os pesquisadores. “Por estar saindo de uma crise financeira em 1997, a desaceleração de 1998 não pode ser totalmente atribuída à oscilação do El Niño no Hemisfério Sul, mas a economia do Peru teria crescido mais rápido se o El Niño de 1997/98 não tivesse ocorrido.”
Uma boa parte do trabalho dos pesquisadores descrito hoje consiste justamente de descolar as peças da economia afetadas pelo El Niño daquelas que sofrem influência apenas de outros fatores, como crises monetárias.
Como a ocorrência de um El Niño implica numa probabilidade maior de emergir na sequência um La Niña (o resfriamento excepcional do Oceano Pacífico), os cientistas também levaram isso em conta ao calcular os impactos do fenômeno em um prazo mais estendido.
Os El Niños costumam ocorrer com intervalos que variam entre 2 e 7 anos, mas sua previsão ainda desafia climatólogos. Segundo os Callahan e Mankin, o planeta se beneficiaria muito de pesquisas que ajudem cientistas a antecipar a emergência do fenômeno, o que ajudaria a planejar a economia global.
Fonte: Um Só Planeta.
Imagem: Nasa.