Os habitats de água doce são alguns dos mais ameaçados da Terra, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), com as espécies deles dependentes “extinguindo-se mais rapidamente do que a vida selvagem terrestre ou marinha”.
Ameaças, a exemplo da poluição, continuam a exercer pressão não apenas sobre a vida selvagem, mas também sobre a água potável e a oferta de alimentos que dependem de rios e lagos.
O México é um dos países com maior biodiversidade do mundo. De acordo com os relatórios divulgados nos últimos anos, possui cerca de 1.100 espécies de aves, 550 de mamíferos, 337 de anfíbios, 864 de répteis, 615 de peixes e um número variado de invertebrados. No entanto, o país enfrenta vários problemas que colocam em risco uma importante variedade de animais, os quais já provocaram o desaparecimento de algumas espécies.
O peixe tequila, “desaparecido” desde 2003, foi devolvido à natureza após ser declarado extinto. “É apenas um peixinho, não muito colorido, não tem muito interesse em termos de conservação global”, explica Gerardo García, conservacionista do Chester Zoo, no Reino Unido. Mas o programa que reintroduziu esses peixes é um exemplo de como podem ser salvas espécies e ecossistemas de água doce..
“E esta é a primeira vez que uma espécie de peixes considerada extinta foi reintroduzida com sucesso no México. Então é um verdadeiro marco para a conservação. É um projeto que já abriu um precedente importante para a futura conservação de muitas espécies de peixes do país que estão ameaçadas ou mesmo extintas na natureza, mas que raramente chamam a nossa atenção.”
Embora os conservacionistas inicialmente tenham liberado 1.500 peixes, eles dizem que a população agora está se expandindo para o sistema fluvial. É um projeto (e uma parceria) entre conservacionistas do México e do Reino Unido, que remonta a décadas.
Em 1998, no início do projeto, cientistas da Unidade de Biologia Aquática da Universidade Michoacana, do México, receberam cinco pares de peixes do Chester Zoo, entregues pelo aquarista inglês Ivan Dibble. Esses dez peixes fundaram uma nova colônia no laboratório das universidades, que os especialistas lá mantiveram e expandiram nos 15 anos seguintes.
Na preparação para a reintrodução, 40 machos e 40 fêmeas da colônia foram soltos em grandes lagos artificiais na universidade, essencialmente para treinar os peixes criados em cativeiro, preparando-os para um ambiente selvagem, com recursos alimentares flutuantes, competidores potenciais, parasitas e predadores. Após quatro anos, estimou-se que essa população aumentou para 10 mil indivíduos e se tornou a fonte para a reintrodução na natureza.
Espera-se que possa ser um modelo para outras espécies de água doce, incluindo o achoque, um parente próximo da salamandra axolotl, que vive em apenas um lago no norte do México e que enfrenta ameaças muito semelhantes. Esse anfíbio único, que, segundo a cultura local, tem propriedades curativas, foi salvo da extinção, em parte, por um grupo local de freiras que administra um criadouro de animais em cativeiro.
A comunidade local (pessoas que vivem perto do ponto de soltura do peixe tequila no estado mexicano de Jalisco) está desempenhando um papel fundamental, monitorando a qualidade da água dos rios e lagos. “Essa é a primeira vez que uma espécie extinta de peixes foi reintroduzida com sucesso no México, então é um verdadeiro marco para a conservação”, disse Omar Domínguez, da Universidad Michoacana do México, cuja equipe liderou o experimento.
“Isso só mostra”, diz Gerardo Garcia, conservacionista do Chester Zoo, na Inglaterra, “que os animais podem se readaptar à natureza quando reintroduzidos na hora certa e nos ambientes certos”.
Fontes: BBC News, Um Só Planeta, Agrolink, Terra.