O cenário para o final do século 21 não é nada animador. Segundo um estudo publicado em julho na revista científica Earth’s Future, a maioria das comunidades costeiras enfrentará inundações severas possivelmente a cada ano – mesmo num cenário moderado de emissões de dióxido de carbono (CO₂).
O estudo chama de “inundações de 100 anos” aqueles eventos climáticos com 1% de chance de serem igualados ou superados em qualquer ano. Apesar do nome, as inundações de 100 anos podem atingir a mesma área durante vários anos consecutivos ou não ocorrer durante um século.
“O limite que esperamos ser excedido, em média, uma vez a cada cem anos, será ultrapassado com muito mais frequência em um clima mais quente, até que não sejam mais considerados eventos de 100 anos”, diz Hamed Moftakhari, engenheiro civil e professor do Universidade do Alabama que supervisionou o projeto, em nota oficial da Advancing Earth and Space Science (AGU), dos EUA.
Cenário pessimista
Na costa, as inundações extremas podem ser causadas pela água do mar “empurrada” por tempestades, marés e ondas. Mas o novo estudo foca em eventos causados pela subida do nível do mar a longo prazo. À medida que o oceano sobe, as infraestruturas costeiras estarão mais próximas da água.
Os autores utilizaram mais de 300 marégrafos, instrumento que registra automaticamente o fluxo e o refluxo das marés, em todo o mundo. Com isso, conseguiram estimar futuros níveis extremos do oceano sob dois cenários de emissões de carbono propostos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Um dos cenários considera que as emissões de dióxido de carbono continuam a crescer até ao final do século; o outro, que o pico aconteceria até 2040 e depois diminuiria. Nessas duas possíveis realidades, a subida do nível do mar irá aumentar os eventos de inundação extremos. Isso é preocupante porque se estima que 600 milhões de pessoas vivam em regiões costeiras, e esse número deve aumentar.
Tem solução?
De acordo com Moftakhari, a adoção de uma abordagem proativa no planejamento territorial, desenvolvimento urbano e nas medidas de proteção costeira poderia ajudar na redução das inundações prevenção de desastres.
Atualmente, engenheiros que projetam estruturas como diques marítimos, paredões e quebra-mares se baseiam no conceito de estacionariedade para prever os níveis da água. “Na estacionariedade, assumimos que os padrões que observávamos no passado permanecerão inalterados no futuro, mas há muitos fatores nas alterações climáticas que estão moldando esses padrões”, explica Moftakhari.
Inclusive, o aumento do nível do mar não acontecerá de maneira uniforme. Latitudes mais altas podem sofrer uma queda à medida que as calotas de gelo derretem e a camada subterrânea sobe. Já em regiões como o Golfo do México, o nível do mar subirá mais rapidamente do que a média global. De acordo com Moftakhari, as comunidades costeiras necessitarão de soluções baseadas em informações locais que correspondam às suas necessidades.
“Sabemos que o nível médio do mar está subindo. A questão é: como vamos lidar com isso?”, indaga o pesquisador. “Já vimos que muitas partes da costa estão permanentemente inundadas e perdendo terras, e muitas cidades e ilhas costeiras estão sofrendo inundações com muito mais frequência do que no passado – é hora de aprender como lidar com a não estacionariedade.”
Fonte: Revista Galileu.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.