Um selo qualquer e chavões como “amigo do meio ambiente”, “carbono zero”, “eco-friendly” ou outra expressão ligada à sustentabilidade não bastam para um produto ou empresa ser realmente “verde”, sustentável. Num momento em que a preocupação com o meio ambiente é prioridade crescente para uma fatia ampla de consumidores, não faltam agentes do mercado aplicando “lavagem verde” em seus serviços e produtos, tentando passar uma imagem que não condiz com a prática. São as chamadas práticas de greenwashing, com as quais a população deve ficar atenta.
— O consumidor é peça-chave: ele deve se questionar e também as empresas. De onde vêm determinadas afirmações como “verde”, “sustentável”? — explica Ana Carolina F. de Melo Brito, advogada e doutoranda em Ciências Ambientais pela USP, que pesquisou, no mestrado, relatórios socioambientais e a prática de greenwashing. — São frases genéricas ou bem explicadas? Porque uma das estratégias de greenwashing é se comunicar de forma vaga.
Outra forma de aplicar essa maquiagem são os selos que muitas embalagens ou peças de comunicação ostentam. Eles são, de fato, reais? O que significam na prática? Quem está conferindo essa certificação?
É preciso ter em mente, no entanto, que cada atividade tem um tipo de impacto ambiental, então a certificação de boas práticas precisa ser condizente.
— O maior impacto de uma empresa fabricante de papel, por exemplo, é em árvores — exemplifica Ana Carolina. — Então, um selo importante é o de manejo florestal. O fato de a empresa ter um selo não é atestado de boa conduta para tudo, e sim que ela foi cuidadosa em um aspecto.
Deveres e direitos
Para proteger o consumidor de práticas de greenwashing, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) possui diretrizes que versam sobre a comunicação em relação a sustentabilidade e meio ambiente em anúncios e campanhas de marcas e produtos.
— É um dever legal das empresas comprovarem o que falam — diz a advogada. — Se elas fazem uma afirmação ambiental numa publicidade, num rótulo, têm que comprovar. Se não conseguem fazer isso, é prática enganosa.
O Conar, a partir de denúncias, pode retirar campanhas de circulação, por exemplo. Mas o consumidor que quiser exercer seus amplos direitos deve procurar o Procon caso tenha se sentido lesado, já que o conselho publicitário tem atuação restrita ao meio que ele autorregula.
Selos confiáveis
FSC
Sigla para Forest Stewardship Council, este selo emitido internacionalmente visa combater o desmatamento. Ele comprova que a empresa que o possui utiliza madeira controlada e produzida de forma sustentável, com o mínimo possível de impacto para o meio ambiente.
Orgânico Brasil
Mais direto impossível. Esta certificação garante que o produto foi produzido sem a participação de insumos que podem ser tóxicos para os consumidores e poluentes para o meio ambiente. É dado para grandes, pequenos e médios produtores a partir de certificadoras conveniadas ao Ministério da Agricultura.
Sistema B
Certificações atualmente não têm a ver apenas com a medição dos impactos ambientais, mas também com os econômicos e os sociais que compõem todo um ecossistema. Este selo é dado justamente a empresas que têm padrões de transparência, compliance e entregas sociais.
Eu reciclo
Criado em 2016, esta certificação comprova que a empresa atende à Política Nacional de Resíduos Sólidos a partir de logística reversa de embalagens. Não é a própria empresa que recicla, mas ela contrata os serviços de uma cadeia de reciclagem já existente para compensar o seu próprio consumo.
C2C
Só produtores comprometidos com uma economia totalmente circular conseguem este selo internacional, sigla para “cradle to cradle” (“do berço ao berço”, em tradução livre). Ou seja, nada é descartado, sempre é fonte de insumo para a produção de alguma outra coisa.
Fontes: Um Só Planeta, O Globo.
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