Erosão costeira faz Morro do Careca perder 2,3 m de altura em 17 anos

O Morro do Careca, principal cartão-postal de Natal, apresentou uma redução de 2,3 metros em sua altura num intervalo de 17 anos em razão da intensificação na erosão costeira que atinge o litoral brasileiro.

Segundo um artigo científico produzido por professores e pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a diminuição exata foi de 2,37 metros na altura. A “careca” em si do Morro do Careca também reduziu de tamanho em 2,5m, isto é, a vegetação avançou e a área de duna diminuiu. Os números mostram a descaracterização que o espaço vem sofrendo nas últimas décadas.

Na pesquisa, ficou constatado que a altura do Morro do Careca atualmente é de 63,63 metros. Esse número, em 2006, era de 66 metros. Segundo pesquisadores, a redução no Morro se deve a uma convergência de fatores, entre elas o avanço do mar e a redução da faixa de areia em Ponta Negra, o que faz com que a energia das ondas alcance a base do Morro, aliada a falta de sedimentos que abastecem a duna, que vêm da paraça dos ventos da praia que fica por trás do Morro, a praia da Barreira do Inferno.

Segundo Rodrigo de Freitas, do Departamento de Geografia da UFRN, um dos autores da pesquisa, a redução no tamanho do principal cartão-postal de Natal chama a atenção. “Isso pode parecer pouco, mas não é. Houve também uma retração naquela face que a gente vê, na careca em si, ou seja, a vegetação avançou uma vez que a quantidade de areia diminuiu chegando ao Morro. Em 2006, era um pouco mais aberta essa parte da careca. Na base, tivemos uma diminuição de 318,5m² em termos da área que a areia da duna avançava na praia. Antes tínhamos uma faixa de areia que não era ocupada pela maré cheia. O mar começou a retirar mais areia do que chega ao Morro, com as águas avançando. O Morro tanto perde na base quanto na altura, pelo volume”, explica.

Os números fazem parte de uma pesquisa coordenada pelo professor Rodrigo de Freitas Amorim, do Departamento de Geografia da UFRN. Os dados, aliados a uma análise geológica e contextual acerca do Morro do Careca, constam num artigo científico aprovado no V Simpósio de Geografia Física do Nordeste e III WorkShop de Geomorfologia e Geoarqueologia do Nordeste, em outubro. Assinam o artigo os pesquisadores da UFRN Daniel Carlos Alves Santos e Silvio Braz de Sousa e Ana Paula Rodrigues Feitosa Frazão, essa última da UFG.

O titular da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, Thiago Mesquita, avalia que a redução no Morro citada pela pesquisa é “alta” e avalia que a engorda da praia de Ponta Negra, em processo de licenciamento ambiental, ajudará a conter a erosão.

“Não tive acesso à pesquisa, mas 2 metros em menos de 20 anos é muita coisa. É uma redução considerável. Foram milhões e milhões de m³ de areia que foram perdidos, considerando que realmente tanto o aspecto eólico e a dinâmica costeira são muito fortes em Ponta Negra”, disse. “A engorda é a única solução para mitigar os efeitos da dinâmica costeira”, acrescentou.

“Um fato é que, como na base do Morro do Careca temos cada vez menos areia, as ondas alcançam mais a frente e o impacto dela vai remover o segmento que desce e ainda por cima escavar a falésia, ficando cada vez mais frágil. É óbvio que há de se esperar que há um risco, pois é um lugar frequentado e aqueles buracos e incisões na falésia em rochas frágeis e quebradiças, gera um alerta para o risco de cair na cabeça de alguém. É tentar impedir que as pessoas se aproximem da falésia, além de não subir no Morro”, aponta o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN, Venerando Eustáquio.

Fontes: Tribuna do Norte, Blog FM.

Foto: Reprodução/Twitter.