“Estamos em águas perigosas”, alerta Guterres sobre aumento do nível do mar

“Estamos em águas perigosas”. O alerta é do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre aumento do nível do mar. Nesta quarta-feira, ele esteve em uma reunião plenária de alto nível sobre o assunto e fez afirmações contundentes sobre as ameaças existenciais causadas pelo aumento dos níveis oceânicos.

Em seu discurso, o chefe das Nações Unidas aponta que a água dos mares está subindo a uma velocidade sem precedentes nos últimos 3 mil anos, com impactos arrasadores já sendo sentidos ao redor do mundo.

Reunião de alto nível nesta quarta-feira abordou dimensões do desafio ligado à mudança climática, tais como impactos jurídicos e no patrimônio imaterial; entenda as causas, consequências, ações de mitigação e adaptação ao aumento do nível do mar lideradas pela ONU.

A reunião plenária de alto nível “Enfrentando as Ameaças Existenciais Representadas pelo Aumento do Nível do Mar” buscou soluções abrangentes e compromissos viáveis ​​para combater este desafio.

Impactos jurídicos e no patrimônio cultural

Um dos temas da reunião foi como o ritmo acelerado da subida do nível do mar está afetando cada vez mais os estados costeiros, o que poderá resultar em implicações legais significativas para fronteiras marítimas, gestão de recursos, resposta a desastres e direitos humanos.

Os líderes reunidos no evento discutiram como a erosão costeira, perda de ecossistemas e recursos de água doce, bem como as inundações estão a causando deslocamentos e danos que exacerbam as desigualdades socioeconômicas.

Além disso, a reunião pretende abordar como a destruição das paisagens costeiras e o deslocamento de comunidades podem pôr em perigo valores inestimáveis ligados à bens imateriais, como patrimônio cultural e conhecimentos tradicionais.

Quais são as causas do aumento do nível do mar?

Estima-se que os oceanos tenham subido aproximadamente 20 a 23 cm desde 1880. Em 2023, o nível médio do mar a nível mundial atingiu um recorde confirmado pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, de acordo com registros de satélite mantidos desde 1993.

Os estudos apontam que a taxa de aumento ao longo dos últimos 10 anos foi mais do que dobro da taxa de subida do nível do mar na primeira década, de 1993 a 2002.

Segundo a ONU, a subida do nível do mar é o resultado do aquecimento dos oceanos e do derretimento dos glaciares e das camadas de gelo, fenômenos que são consequências diretas das alterações climáticas.

Mesmo que o aquecimento global seja limitado a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, a meta estabelecida pelos países no Acordo de Paris de 2015, o planeta assistirá a um aumento considerável nos níveis da água do mar.

É importante notar que os padrões de circulação oceânica, como a Corrente do Golfo, podem levar a diferenças regionais na subida do nível do mar.

Quais são as consequências?

A subida do nível do mar tem implicações de amplo alcance não apenas no ambiente físico, mas também no tecido econômico, social e cultural das nações vulneráveis.

As inundações de água salgada podem danificar habitats costeiros, incluindo recifes de coral e populações de peixes, terras agrícolas, bem como infraestruturas, incluindo habitação, e podem afectar a capacidade das comunidades costeiras de sustentarem os seus meios de subsistência.

As inundações podem contaminar o abastecimento de água doce, promover doenças transmitidas pela água que ameaçam a saúde das pessoas e causar stress e problemas de saúde mental.

Ao mesmo tempo, as receitas do turismo podem sofrer à medida que praias, resorts e outras atrações turísticas, como os recifes de coral, são danificados. O turismo é um importante motor econômico, especialmente em muitos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, Sids.

A combinação de tantos fatores pode paraçar as pessoas a abandonarem as suas casas ou a migrarem. Por estas razões, o secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu o fenômeno como um “multiplicador de ameaças”.

Qual é a ligação entre o aumento do nível do mar e as alterações climáticas?

À medida que sobem as temperaturas globais devido às alterações climáticas, os oceanos absorvem grande parte deste excesso de calor. A água mais quente aumenta em volume, um processo conhecido como expansão térmica, que contribui significativamente para a subida do nível do mar.

A subida do nível do mar também cria um “movimento circular catastrófico” em alguns ecossistemas. Por exemplo, as florestas de manguezais, que protegem os habitats costeiros e armazenam gases de carbono prejudiciais, podem rapidamente ficar sobrecarregadas, perdendo as suas qualidades protetoras.

Menos manguezais significam mais gases nocivos no ambiente, o que impulsiona as alterações climáticas e, com o aumento das temperaturas, o nível do mar aumentará ainda mais.

Quais países são mais afetados?

Estima-se que cerca de 900 milhões de pessoas, ou uma em cada 10 pessoas no planeta, vivam perto do mar.

As pessoas que vivem nas zonas costeiras de países densamente povoados como Bangladesh, China, Índia, Países Baixos e Paquistão estarão em risco e poderão sofrer inundações catastróficas.

Também estão em risco grandes cidades de todos os continentes, incluindo Bangkok, Buenos Aires, Lagos, Londres, Mumbai, Nova Iorque e Xangai.

As pequenas ilhas com áreas terrestres baixas enfrentam provavelmente as ameaças mais críticas. A subida do nível do mar e outros impactos climáticos já estão paraçando as pessoas de países do Oceano Pacífico como Fiji, Vanuatu e as Ilhas Salomão a deslocarem-se.

O que pode ser feito para conter o aumento do nível do mar?

A ação mais importante que pode ser tomada é mitigar o aquecimento global através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, o principal motor das alterações climáticas.

Entretanto, ações de adaptação ganham cada vez mais importância. Dentre elas estão: construção de muros marítimos e barreiras contra tempestades, melhora dos sistemas de drenagem, construção de edifícios resistentes às inundações, restauração de barreiras naturais como manguezais e proteção de zonas úmidas e recifes de coral e de arenito.

Muitos países estão também intensificando os seus planos de redução do risco de catástrofes e melhorando sistemas de alerta precoce apoiados pela ONU para lidar com incidentes relacionados com o nível do mar.

Em alguns casos, as comunidades também podem ser realocadas de zonas costeiras vulneráveis ​​como parte de medidas de adaptação, uma abordagem conhecida como retirada controlada.

Ação

O chefe das Nações Unidas destacou que “enquanto os mais pobres sofrem mais, nações ricas também estão gastando bilhões em adaptações para conter os danos.”

O secretário-geral apelou aos líderes mundiais para que tomem ações drásticas e urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adaptar suas economias às novas realidades climáticas.

Ele reforçou que apenas uma resposta coordenada e imediata pode evitar um cenário em que vidas, economias e países inteiros “sejam arrastados pelas águas”.

Fonte: ONU News.

Foto: Unicef/Lasse Bak Mejlvang.

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