Em uma revisão de pesquisas já existentes sobre o impacto do calor sobre os seres vivos, cientistas concluíram que há uma temperatura ideal em que basicamente toda a vida do planeta consegue operar: 20ºC.
Essa temperatura, considerada confortável para humanos, é também apontada como um denominador comum em estudos que vão desde micróbios a animais marinhos, afirmam os pesquisadores. O impacto da mudança climática causada pelas atividades humanas, que vem gerando um aumento nas temperaturas, pode ter um efeito severo neste quadro.
“Sabemos que muitas espécies podem viver em temperaturas muito mais frias ou mais quentes que os humanos. Mas a nossa revisão sistemática descobriu que as amplitudes térmicas dos animais, plantas e micróbios que vivem no ar e na água se encontram em 20°C. Isso poderia ser uma coincidência?”, provocam os autores.
A ciência considera que a atividade celular dos seres vivos se intensifica com o calor, o que explica, por exemplo, o perigo de ondas quentes para os seres humanos, gerando estresse térmico. O trabalho das células se intensifica, e após certo ponto, colapsa se a temperatura continua subindo.
Um dos exemplos dados para sustentar a teoria dos 20ºC é um estudo que concluiu que, ao contrário do que se considerava antes, a vida marinha não atinge seu ápice na Linha do Equador, mas sim, nas zonas tropicais.
Uma investigação na Tasmânia, na Austrália, sobre taxas de crescimento de micróbios e organismos multicelulares descobriu que a temperatura mais estável para os seus processos biológicos era também de 20°C, explicam os cientistas.
“À medida que as espécies evoluem para viver em temperaturas acima e abaixo de 20°C, o seu nicho térmico torna-se mais amplo. Isto significa que a maioria ainda pode viver a 20°C, mesmo que habitem locais mais quentes ou mais frios.”
O efeito do aumento nas temperaturas deve mudar a maneira como estão distribuídos os seres vivos no planeta, afirmam os pesquisadores. Locais em que os termômetros se mantiveram constantemente acima de 20ºC devem presenciar um declínio mais acentuado nas populações, principalmente se não houver a possibilidade de migração, como acontece mais frequentemente com animais terrestres que vivem ilhados por cidades e outras intervenções humanas.
“Exatamente por que 20°C é fundamental e energeticamente eficiente para processos celulares pode ser devido às propriedades moleculares da água associadas às células. Estas propriedades também podem ser a razão pela qual 42°C parece ser um limite absoluto para a maioria das espécies. Uma maior consciência deste efeito de 20°C pode levar a novos conhecimentos sobre como a temperatura controla os processos dos ecossistemas, a abundância e distribuição das espécies e a evolução da vida”, afirmam os autores.
Fonte: Um Só Planeta.
Foto: S. Hermann & F. Richter/Pixabay / Canaltech