Você respiraria ar poluído voluntariamente? Um grupo de pessoas recrutadas pela Universidade de Manchester fez justamente isso, para que os cientistas britânicos pudessem entender o impacto da poluição no cérebro humano. O estudo — ainda em desenvolvimento, embora uma descrição tenha sido publicada na MedRXiv — se concentra principalmente em participantes com histórico de Alzheimer na família.
A ideia do estudo veio de uma informação obtida anteriormente: regiões com elevadas concentrações de poluição costumam registrar taxas mais elevadas de demência do que áreas menos impactadas. Mas essa relação ainda é um mistério, e os cientistas não entendem completamente como a poluição pode provocar mudanças no cérebro.
Em 2022, um relatório feito pelo próprio governo do Reino Unido sugeriu que a poluição do ar pode causar demência, principalmente nos idosos. Na ocasião, a teoria é que três mecanismos podem estar por trás dessa relação: o dano causado aos vasos sanguíneos por partículas minúsculas, o sistema imunológico do cérebro ativado pela exposição à poluição ou o impacto de partículas através da passagem nasal.
De acordo com essa breve descrição do ensaio, os participantes do estudo serão expostos a quatro poluentes: fumaça de lenha, escapamento de diesel, produtos de limpeza e emissões de cozinha.
Cada voluntário será exposto aos poluentes, um de cada vez, em sessões separadas realizadas durante vários meses.
Conforme diz o projeto, o próprio voluntário não saberá a qual substância será exposto. Antes e depois de cada exposição, os participantes precisam fazer um teste respiratório, fazer exame de sangue e testes cognitivos.
Impactos negativos da poluição
“Ao longo da última década, a nossa compreensão do impacto da poluição atmosférica na saúde da população a curto e longo prazo avançou consideravelmente, centrando-se nos efeitos adversos nos sistemas cardiovascular e respiratório. Há, no entanto, evidências crescentes de que a exposição à poluição atmosférica afeta a função cognitiva, particularmente em grupos suscetíveis”, diz a descrição publicada na MedRXIv.
“A abordagem permite a identificação dos componentes mais perigosos nos poluentes do ar interior e exterior e uma maior compreensão das vias que contribuem para as doenças neurodegenerativas. Os resultados deste projeto têm o potencial de facilitar um maior refinamento nas políticas, enfatizando os poluentes relevantes para a saúde e fornecendo detalhes para ajudar na mitigação dos riscos para a saúde associados aos poluentes”, concluem os pesquisadores.
Anteriormente, estudos já revelaram potenciais negativos dos poluentes: uma pesquisa de 2021 apontou que a poluição do ar pode prejudicar a saúde do cérebro, por exemplo. Mas claramente os impactos vão além do cérebro: a exposição à poluição chegou a ser a causa de 10% dos casos de câncer na Europa.
Fonte: Canaltech.
Imagem: Dimaberlin/Envato.